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CPI suspeita que cartolas desviaram verba da Fifa para a organização da Copa de 2014

Valores declarados pelo Comitê Organizador Local, que foi presidido por Teixeira, Marin e Del Nero, não batem com aqueles obtidos pela quebra de sigilo

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Futebol suspeita que o Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 tenha desviado recursos de empréstimos feitos pela Fifa para a organização do Mundial no Brasil. Neste sábado, o jornal O Estado de S. Paulo revelou uma disparidade entre as contas declaradas do COL e os valores obtidos com a quebra do sigilo bancário do comitê pela CPI.

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Um empréstimo de 66,7 milhões de dólares (cerca de 245 milhões de reais pela cotação atual) feito pela Fifa ao COl entre 2009 e 2012 levantou suspeitas. Apenas 43 milhões de dólares foram devolvidos à entidade máxima do futebol mundial, enquanto 23,7 milhões de dólares foram parar em uma conta do Banco Itaú, nos EUA, em 2013. No registro do Banco Central, os depósitos aparecem apenas como “empréstimos diretos”.

O principal objetivo da investigação da CPI no momento é saber quem é o beneficiário desta conta nos EUA. A CPI fez requerimento na quarta-feira ao Banco Itaú exigindo os dados bancários desta conta e concedeu prazo de cinco dias úteis para a resposta. O COL foi criado com a função de organizar o Mundial e teve como presidentes Ricardo Teixeira e José Maria Marin. Numa última fase, a partir de abril de 2015, ela foi liderada por Marco Polo Del Nero, presidente licenciado da CBF, que será convocado novamente para depor sobre o caso em Brasília.

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Foram encontradas disparidades em outras contas. O Balanço Patrimonial do COL oferecido pelo órgão no âmbito da CPI do Futebol demonstra que a Fifa repassou 55 milhões de reais para o COL em 2012. Já a quebra de sigilo bancário do COL demonstra que, no mesmo ano, a Fifa fez três transações para o COL, totalizando 105 milhões de reais.

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O mesmo documento do BC informa que os 50 milhões de reais de diferença equivaleriam a 24 milhões de dólares pelo câmbio de 2012. O valor, segundo a CPI, é muito próximo dos 23,750 milhões de dólares que faltaram em pagamento à FIFA e que foram transferidos para conta desconhecida nos EUA. No total, a Fifa transferiu ao COL 1 bilhão de reais entre 2012 e 2015.

O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, presta depoimento à CPI do Futebol em Brasília (DF) - 16/12/2015
O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, presta depoimento à CPI do Futebol em Brasília (DF) – 16/12/2015 VEJA

Del Nero – Mesmo com um valor relativamente pequeno, chamou a atenção da CPI um depósito de 51.000 reais, feito numa agência do Itaú nas Ilhas Canárias, sem informar o beneficiário. Em outra investigação, a CPI descobriu e-mails de Del Nero para um de seus filhos indicando, em 2007, uma conta no HSBC de Miami. O cartola sugere falar com a gerente Margarida Coutinho sobre o saldo da conta e opções para abrir um negócio.

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As informações foram encontradas em um notebook de Del Nero, com 27.500 e-mails registrados. A Justiça havia confiscado o material em 2012, durante a Operação Durkheim. Agora, esses dados chegaram até a CPI do Futebol, que os analisou e encontrou as movimentações suspeitas.

Os senadores, agora, avaliam apontar para falsidade de testemunho por parte do presidente licenciado da CBF. Em dezembro, ele garantiu à CPI que não tinha contas no exterior. A CPI vai enviar neste domingo à Fifa um dossiê para que a suspeita de desvio seja apurada pela auditoria da entidade. Pessoas ligadas à Fifa também podem estar envolvidas, já que o desvio de milhões de dólares dificilmente poderia ocorrer sem o conhecimento de cartolas em Zurique.

COL – O Comitê Organizador Local se defendeu e garantiu que suas contas estão dentro da lei. “Inicialmente é importante esclarecer que o COL é uma empresa privada e que jamais recebeu qualquer verba pública. Seus balanços e demonstrações financeiras foram devidamente auditados por empresas especializadas de alto renome”, afirmou o COL em nota.

Sobre os valores pagos pelo COL para a FIFA, a explicação é que eles “decorreram do pagamento de empréstimos feitos pela FIFA ao COL, todos para viabilizar o início da operação deste, sendo certo que já foram integralmente quitados”. O COL alega ainda que jamais teve conta no Itaú nos EUA: “O COL esclarece, ainda, que é absolutamente falsa a informação de que mantinha conta corrente no Banco Itaú nos Estados Unidos, o que já foi, inclusive, atestado pelo próprio banco nesta data. O COL jamais manteve qualquer conta bancária no exterior”.

O COL ainda chama de “especulação” o pagamento para conta nas Ilhas Canárias. De qualquer forma, “a relação de todos estes pagamentos será devidamente apresentada para a CPI”, garantiu.

(com Estadão Conteúdo)

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