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Clube do regime? Entenda polêmica entre Real Madrid e Barcelona

Assunto voltou à tona nesta semana com as instituições trocando acusações de favorecimento durante os anos da Ditadura Franquista

A polêmica que envolve Real Madrid e Barcelona e o período da Ditadura Franquista na Espanha voltou à tona após Joan Laporta, presidente do clube catalão, dizer que os merengues foram o time do regime. O perfil do clube madrilenho reagiu com uma resposta direta nas redes sociais. Em vídeo de mais de quatro minutos veiculado no Twitter, são expostos momentos em que os rivais supostamente condecoraram o regime.

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Mas, afinal, quem foi o time que apoiou o regime durante a Ditadura Franquista? Visando um maior entendimento e com o apoio de um fio do perfil Copa Além da Copa no Twitter, PLACAR detalha o contexto histórico e a relação do governo da época com o futebol na Espanha. Confira:

A Guerra Civil

Para entender o contexto do regime que dominou a Espanha por quase 40 anos, é preciso compreender os antecedentes e o que motivou a Guerra Civil Espanhola. Os primeiros ares de conflito começaram em 1930.

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Tendo em vista que o Rei Afonso XIII concedeu abertura para a participação republicana para agradar a consolidação da esquerda na Europa, um movimento antimonarquista cresceu no país. Assim, um ano depois, foi proclamada a Segunda República da Espanha, que elegeu o presidente Niceto Alcála-Zamora.

Entre tensões motivadas por monarquistas restauradores, anarquistas e movimentos de emancipação, como o dos bascos, a república elegeu o segundo presidente em 1936, Manuel Azaña Diaz. Apesar da pressão, o clima se tornou insustentável quando Largo Caballero, conhecido socialista, foi nomeado o primeiro-ministro. Assim, o Movimento Nacional, que reunia a direita espanhola, liderado pelo General Francisco Franco, aplicou um golpe de estado.

A Guerra Civil Espanhol, então, iniciou-se. Em embates que envolveram forças internacionais, como União Soviética ao lado republicano, e Itália Fascista e Alemanha Nazista ao lado nacionalista, cerca de 500.000 pessoas foram mortas.

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Em meio disso, estava o futebol espanhol, afetado diretamente. Pela tática da Ditadura Franquista, a Catalunha, que viveu em autonomia durante os anos republicanos, voltou a ser reprimida, ter instituições fechadas e a língua proibida. Simultaneamente, o Barcelona, que era orgulho da cultura catalã, foi utilizado.

Como causa disso, Josep Sunyol, membro da esquerda e presidente do clube à época, foi fuzilado pelo regime no dia 6 de agosto de 1936. Mantendo a posição durante a Guerra, o Barcelona o considerou como “presidente em ausência” e passou a ser gerido por um comitê.

Do lado do Real Madrid, também houve perseguição e oposição aos nacionalistas durante os conflitos. Nesse período, o clube da capital teve Antonio Ortega Gutiérrez, um comunista assumido que presidiu o clube e foi morto em 1939, quando tentava fugir do país. Durante o período bélico, o Madrid também concedeu seu estádio, o Campo de Chamartín, para o treinamento de forças antifranquistas. Essa história, porém, é oficialmente apagada do clube.

Os anos de Franco

A Guerra Civil Espanhola chegou ao fim em 1939 e a Ditadura Franquista, apelidada assim por ser regida pelo General Francisco Franco, se instalou de vez na Espanha. Ao lado dos países nazifascistas da Europa, o regime se pautou em totalitarismo e estratégias de cooptar apoio pelo uso de elementos populares, como o futebol, além da opressão e outras características.

Inicialmente, o time que abriu as portas para Franco agir de maneira mais direta foi o Atlético de Madri. Os colchoneros passaram a se chamar Club Atlético Aviación, representando a chegada de uma força do exército, a aeronáutica, ao clube. Alçados à elite do Campeonato Espanhol por uma manobra governamental, os rojiblancos, financiados pelo regime, conquistaram as ligas de 1940 e 1941, primeiros troféus da história da equipe.

Passados os dois anos de glória, o Atleti não conseguiu repetir sucesso e a união terminou em menos de 10 anos. Simultaneamente, os merengues foram renomeados de Real Madrid, tendo em vista que o título de realeza e a coroa do escudo, concedidos pela monarquia nos anos 20, terem sido proibidos no período republicano. A aproximação entre os blancos e Franco, enfim, aconteceu, com ambos os lados se aproveitando.

Real Madrid já perdeu coroa e
Real Madrid já perdeu coroa e “Real”

Enquanto o Real Madrid conquistava títulos nacionais e europeus entre os anos 50 e 60, a Ditadura Franquista utilizava o clube para fortalecer o ideal hispânico. Desse modo, Madri, a capital, era fortalecida pelo simbolismo vitorioso do clube, favorecendo também a imagem do regime.

Do lado do Barcelona, também houve alinhamento ao regime, mas de maneira distinta. Ao fim da Guerra Civil Espanhola, a diretoria culé foi preenchida por membros de confiança de Franco, que buscava controlar os maiores clubes do país.

Logo, o Barcelona se tornou um clube institucionalmente franquista, com direito a homenagens e condecorações ao ditador. Por outro lado, a torcida, em esmagadora maioria catalã, via o clube como um orgulho de sua cultura, o que desagradava o governo, responsável por mudar o escudo da equipe durante os anos 40, substituindo a bandeira da Catalunha por listras que remetiam à da Espanha.

Barcelona já precisou mudar escudo por Franco
Barcelona já precisou mudar escudo por Franco

O nome também foi “hispanificado” e passou a ser Club de Futbol de Barcelona, não mais Futbol Club Barcelona, em catalão. A escrita tradicional foi recuperada apenas nos anos 70, com o enfraquecimento do totalitarismo.

Ainda assim, o Barça teve êxitos na época, com direito a sete títulos espanhóis e seis Copas do Rei entre os anos 40 e 60, a construção do Camp Nou e reestruturações financeiras. Também nesse período, jogadores foram obrigados a fazer saudações nazistas, que renderam fotos reaquecidas pelo Real Madrid durante a polêmica.

Jogadores do Barcelona fazem saudação nazista
Jogadores do Barcelona fazem saudação nazista
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