Opinião: Corinthians patina com Ramón Díaz e riscos seguem altos
Treinador argentino não conseguiu aliviar chances de rebaixamento e pode ver equipe "morrer na praia" em copas. Pressionado, exaltou seus feitos e expôs entrave com Giovane e outros jovens
A temporada do Corinthians segue com tons dramáticos. Na última quinta-feira, 24, o Timão não conseguiu se impor diante do Racing, pela ida das semifinais da Copa Sul-Americana, e empatou em 2 a 2, na Neo Química Arena.
O resultado, no entanto, além de obrigar a equipe dirigida por Ramón Díaz a buscar um bom resultado na Argentina, também expõe um momento delicado. Mesmo com a invencibilidade de quatro jogos, o time segue na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro e vem de eliminação na Copa do Brasil.
O desempenho contra o Racing
Para além dos números frios está o desempenho. No jogo decisivo contra o Racing, o Corinthians não conseguiu controlar a partida, em cenário que ficou ainda mais evidente já no primeiro tempo, quando o volante José Martínez se lesionou e foi substituído de forma surpreendente por um atacante, Ángel Romero.
Logo em seguida, o Alvinegro ainda marcou o segundo, num golaço de Yuri Alberto de fora da área, mas passou a apresentar menor eficiência no meio-campo. O setor, que teve André Carrillo e Charles mais recuados e Rodrigo Garro à frente, começou a sofrer com as saídas rápidas dos argentinos.
Ramón optou por não alternar a estratégia, mesmo com o empate do Racing, no início do segundo tempo. O técnico escolheu trocar as peças, mas sem mexer na estrutura, o que impediu o Timão de imprimir superioridade.
Em coletiva de imprensa, o treinador explicou a sua escolha, citando suas próprias convicções. “Sou um treinador que tem a caraterística de poder atacar e correr riscos. É preciso compreender isso. Vou fazer aqui, vou fazer amanhã, depois de amanhã e toda a minha vida. Quando vejo que a equipa precisa de meias, utilizamos os meias, mas quando precisamos de jogadores ofensivos, utilizo”, disse.
Vale lembrar que as capacidades ofensivas do time de Ramón Díaz foram colocadas em xeque na partida contra o Flamengo, pela volta da semifinal da Copa do Brasil, por uma fala do técnico adversário, Filipe Luís, que admitiu que sua estratégia foi “dar a bola” ao Corinthians. Mesmo jogando com um a mais, o Timão mostrou pouquíssimo repertório e sofreu para penetrar a defesa rubro-negra.
Decepções seguidas
Na ocasião, a eliminação representou o fim do sonho de um título nacional, feito não alcançado desde 2017. Por outro lado, o revés pôde cair para o Corinthians de Ramón Díaz como uma desobstrução de calendário, tendo em vista as lutas contra rebaixamento e por título no torneio continental.
Já no resultado contra o Racing, mesmo com a partida ainda em aberto, Matheus Bidu, lateral-esquerdo corinthiano, admitiu que o momento pesa. “Sabemos a importância de fazer história e sair dessa zona de perigo. Infelizmente o futebol é feito de resultados e adversidades trazem frustrações.”
Uma possível eliminação compromete toda a temporada de 2025. Isso, pois, o título da Sul-Americana é a única esperança de o time chegar à Libertadores 2025 e se classificar para a próxima Copa do Brasil.
A decepção de “morrer na praia” nas copas, que em certo momento apareceram como sonhos, contudo, nem se comparam com a delicada situação no Brasileirão. O Corinthians atualmente é o 17º colocado, ocupa o Z-4 e tem 44% de chance de ser rebaixado, segundo a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Caso Giovane pode abalar o ambiente?
No fim, a coletiva de Ramón mostrou um treinador mais preocupado em exaltar os feitos de sua carreira – “ganhei muitos títulos”, “só perdi uma vez no campo do Racing e seguirei sem perder” e “espero que me recebam bem [em Buenos Aires], pois dei muito ao futebol argentino” – do que em propriamente encontrar soluções para o time.
O técnico ainda revelou que há atletas que não serão aproveitados se não tiverem seus contratos renovados. Um deles é o atacante Giovane, mandado a campo como lateral-direito na semifinal da Copa do Brasil e que desta vez não ficou sequer no banco.
“Giovane não quer fechar contrato com o Corinthians. Tem que ser agradecido ao time: ou assina ou não vai jogar. Precisa ser comprometido“, argumentou Díaz, que dias atrás enxergou o jogador como boa peça para ser decisivo atuando improvisado, mesmo com um jogador da posição de origem disponível.
O argentino ainda revelou que “outros dois garotos” estão na mesma situação, mas preferiu não revelar os nomes. Assim, deixou a responsabilidade da situação para o diretor de futebol, Fabinho Soldado.
Ameaçado: os últimos jogos do Corinthians no Brasileirão
O Timão, no recorte de pouco mais de um mês, entrará em campo ao menos mais nove vezes – dez em caso de final da Copa Sul-Americana. O período pode representar um fim de ano heroico com troféu, da mesma forma que pode ser trágico, com direito ao segundo rebaixamento da história do clube.
Esse ponto faz com que cada partida até o fim da temporada tenha peso maior. Logo, essa pressão também exigirá um bom trabalho tático, mental e de gestão de carga, para que peças importantes não fiquem de fora em decisões. Mas, na contramão de ter maior gama de opções para escalar, Ramón Díaz já deixou claro que nem todos atletas fazem parte dos planos.
Nessa linha, especialmente após atuações pouco inspiradas em momentos que exigiam brilho, o Corinthians se encontra em um mar de inconsistência e derrapadas. Características essas que não casam com uma equipe que quer ser campeã – e, acima de tudo, precisa se livrar da queda no campeonato nacional.
Últimos jogos pelo Brasileirão: Cuiabá (fora), Palmeiras (casa), Vitória (fora), Cruzeiro (casa), Criciúma (fora), Bahia (casa) e Grêmio (fora).