Em 2018, ainda durante a disputa da semifinal da Libertadores, o então presidente argentino Maurício Macri disse torcer para que a final não fosse entre Boca Juniors e River Plate. “Para ser sincero prefiro que ganhe um clube brasileiro e não tenhamos essa final, porque seriam três semanas sem dormir […]. O time que perder demorará 20 anos para se recuperar”, sentenciou Macri a à rádio FM La Meca.
Para sua desgraça, o Super Clássico ocorreu (foi parar no Santiago Bernabéu, em Madrid) e o derrotado foi seu time do coração, o Boca, do qual também foi presidente nos áureos anos de Riquelme, Bianchi e companhia. Ironicamente, o próprio futebol argentino não se recuperou daquele título do River na capital espanhola: desde então, só clubes do Brasil venceram a competição, empatando em 25 a 25 o retrospecto geral por países.
A final de sete anos atrás faz lembrar, em certos aspectos, a decisão de 2025 entre Palmeiras e Flamengo. A apreensão pelo duelo marcado para Lima, no Peru, em 29 de novembro, durará um interminável mês. Em meio a inflamados bate-bocas entre as diretorias, o medo de perder permeará os debates e certamente entrará em campo.
A final de 2021, vencida pelo Palmeiras, é uma lembrança inesquecível para ambas as torcidas. Neste sentido, não há protagonista maior do que Andreas Pereira.
O histórico erro de Andreas Pereira
Estádio Centenário, Montevidéu, 27 de novembro de 2021. O icônico campo uruguaio foi palco de uma das trapalhadas mais marcantes da história do futebol brasileiro. Aos cinco minutos do primeiro tempo da prorrogação, quando o placar marcava 1 a 1, Andreas Pereira recebeu um passe de David Luiz na defesa, titubeou e entregou a bola nos pés de Deyverson, que superou Diego Alves e marcou o gol do título alviverde.
Inevitavelmente, o meia nascido na Bélgica, diversas vezes convocado pela seleção brasileira, foi apontado como vilão pelos rubro-negros. No mesmo dia, o jogador foi às redes sociais para se desculpar.
“Nação, estou aqui com coração apertado! Hoje eu errei! Não faltou vontade, raça… e nunca vai faltar! Momentos difíceis mostram o caráter do nosso grupo que nesses três meses me acolheu na família Flamengo com tanto carinho! Peço desculpas pelo erro de hoje! 🙏🏼😔❤️🖤 Eu prometo, vou reconquistar vocês!”, escreveu Andreas.
Quatro anos depois, ele terá a chance de se redimir do erro em uma nova final. No entanto, agora Andreas veste verde.
Tornou-se, inclusive, uma peça importante na engrenagem de Abel Ferreira, com 13 jogos disputados (sendo 11 como titular), com dois gols marcados e uma assistência.

Andreas Pereira fez seus primeiros dois gols pelo Palmeiras – Divulgação/Palmeiras
“Sobre o que aconteceu no passado, já passou. Isso são coisas normais, essas provocações são coisas de torcida. Eu não dou muita atenção. Sou profissional, estou focado aqui. Cheguei aqui nesse grande clube e quero escrever minha história a partir do próximo jogo que vai começar”, afirmou o meia, hoje com 29 anos, em sua chegada a São Paulo.
Andreas não teve vida longa no Flamengo após o pecado. Voltou a Inglaterra, em três anos de bom rendimento pelo Fulham. Mas seu nome não foi esquecido.
Nas redes sociais, assim que o Palmeiras decretou sua heroica classificação diante da LDU, revertendo uma desvantagem de três gols com um 4 a 0 no Allianz Parque, imediatamente os flamenguistas encheram as redes sociais de menções à persona non grata.
“Ninguém morre nos devendo” é o lema com o qual Andreas será recebido pelos cariocas. Mas não é preciso ser especialista em psicologia para saber que o desejo de vingança é proporcional ao medo de um novo trauma.
Quem é freguês de quem?
É consenso que Palmeiras e Flamengo formam a grande rivalidade do futebol nacional na última década. Com gestões responsáveis e eficientes, os gigantes de São Paulo e Rio obtiveram sucesso financeiro e esportivo, com dois títulos de Libertadores para cada, entre outras tantas taças no período. Também colecionaram polêmicas.
O auge chegou nas últimas semanas, como os presidentes dos clubes, Leila Pereira, e Bap, trocando farpas públicas. Influencers, jornalistas e torcedores inflamaram os ânimos, o que já faz esta final já ser, exageradamente, comparada em peso histórico ao próprio Boca x River de 2018.
Uma curiosidade marca esse momento histórico. No Brasileirão, o Palmeiras tem sido um freguês de longa data do Flamengo. Já são 16 jogos invictos da equipe carioca na competição. A última vitória alviverde no duelo foi em 12 de novembro de 2017, com dois gols, veja só de quem, Deyverson.
A verdade é que essa hegemonia do Flamengo no confronto direto pelo Brasileirão vale muito pouco, até porque, desde o início da Era Abel, há cinco anos, o Rubro-Negro só conquistou a competição nacional uma vez, justamente em 2020, enquanto o Verdão ergueu o troféu em 2022 e 2023.
Na resenha do boteco, o que pesa mesmo é a final da Libertadores. O placar geral está em três títulos para cada, com 1 a 0 para o Verdão no confronto direto.
O flamenguista, ainda que não admita publicamente, está apavorado com a possibilidade de ser derrotado novamente, enquanto o alviverde também sofre com o risco de perder a piada, e, aí sim, poder ser chamado de freguês. Só um deles será tetra em Lima. Certamente, Andreas Pereira será protagonista.





