Gabigol e Flamengo: o amor voltou?
Em meio a debate sobre renovação, ídolo rubro-negro marcou seu 16º gol em finais pelo Flamengo e teve nome cantado no Maracanã após brilhar na ida das finais da Copa do Brasil
É difícil imaginar que um jogador qualquer que estivesse em má fase, criticado por torcedores e em fim de contrato seria titular em uma final de Copa do Brasil. Mais complicado ainda é pensar que esse atleta entraria em campo, chamaria a responsabilidade e marcaria dois gols decisivos depois de discutir com o técnico diante das câmeras.
Sim, o cenário soa improvável. Não para Gabriel Barbosa, o Gabigol. O atacante de 28 anos chegou a 16 gols em 17 finais pelo Flamengo e carrega em suas costas o peso de ser um dos maiores ídolos de um gigante clube do Brasil.
O atacante, que perdeu a camisa 10 por indisciplina e agora veste a 99, levou o Maracanã à loucura na tarde do último domingo, 3, na ida das finais da Copa do Brasil, contra o Atlético Mineiro. Foi de seu pé esquerdo que saíram o segundo e o terceiro da vitória flamenguista por 3 a 1.
Com sua tradicional comemoração, exibindo os músculos do braços em frente às arquibancadas, ampliou ainda mais seu retrospecto em decisões. Gabi chegou perto do 13º título pelo clube e, além disso, viveu um dia-chave de um casamento que pode ser reatado. O que ficou claro pelo ensurdecedor cântico de “O Gabigol voltou“, entoado por mais de 60.000 torcedores presentes.
Discussão com Filipe Luís
Ironicamente, o melhor momento de Gabigol em 2024 veio pouco depois de bater boca com o técnico Filipe Luís, seu amigo desde os tempos em que eram companheiros em campo pelo Flamengo. Foi possível ver o ex-lateral gritando “me respeita, seu moleque”, após passar uma orientação.
“Na minha primeira entrevista, falei que estou agora em um cargo em que ia tomar decisões que iam deixar alguns jogadores incomodados, bravos comigo. Foi o que aconteceu com o Gabi agora. Uma correção tática no campo, os nervos à flor da pele, os dois querendo o máximo. Não tem conversinha, é grito. Era o que acontecia toda semana quando eu era jogador. Agora não vai ser diferente. Está resolvido, conversamos no intervalo. Fico feliz pela grande partida que ele fez”, afirmou o treinador em coletiva de imprensa.
“Você não consegue ensinar um jogador a ser decisivo. Você tem ou não tem. Existe um ditado de que o gol se compra, e concordo muito. O Gabriel tem gol, não à toa é um dos maiores artilheiros desse clube, um dos maiores em finais. hoje vimos uma das melhores versões dele no campo. Mérito dele. Trabalhou, acreditou, obedeceu e escutou em todos os treinamentos. Se dedicou, tratou, fez academia quando tinha que fazer, viu vídeo quando tinha que ver. Não existe sucesso sem trabalho. Trabalhou e hoje colheu os frutos”, prosseguiu, antes de deixar uma frase que abriu esperanças sobre uma renovação. “Acredito que ele ainda tem muito pela frente a oferecer, e não pode parar por aí.”
O início brilhante, seguido do caos
Da mesma forma que em muitas relações, o início de Gabigol e Flamengo foi de mil maravilhas. Em 2019, ele desembarcou no Rio de Janeiro para fazer história e não demorou a começar: apenas naquele ano, foram três títulos.
Também foi na temporada inicial em que ele passou a escrever um roteiro heroico e predestinado – apelido que assumiria com orgulho. O auge, talvez de toda a passagem, ocorreu na final da Libertadores de 2019, quando o Rubro-Negro perdia para o River Plate por 1 a 0, mas buscou o resultado com dois gols de Gabriel na reta final.
“O Gabigol voltou”.
Assim gritou a torcida do Flamengo, quando o predestinado – como ele mesmo se apelida – fez o terceiro.
A relação é diferente quando o assunto é final, torcida e ele. Explicar é bobagem. Não é mão única, não.
Tem deboche, raiva, amor – e muito gol.@placar
— Guilherme Azevedo (@guiazevedo31) November 3, 2024
O atacante ainda brilhou no Brasileirão de 2020, chegou perto de salvar o time no vice-campeonato da Libertadores de 2021 e apareceu na decisão da Liberta de 2022, mais uma vez balançando as redes.
O amor, porém, passou a ter suas primeiras turbulências em 2023. O Flamengo não levantou nenhum troféu na temporada, Gabriel começou a perder espaço (especialmente com Tite) e a virada de ano precedeu um caos.
Grande polêmica e impasse por contrato
O ápice de toda a crise aconteceu justamente neste ano. Gabigol, em março, recebeu uma punição inicial por fraude no exame antidoping e ficou sem jogar quase dois meses.
Quando conseguiu efeito suspensivo para retornar aos campos, virou holofote de outra nova polêmica. Em maio, uma foto vazada do atacante vestindo uma camisa do Corinthians aumentou ainda mais a onda de boatos envolvendo uma possível saída do clube.
Em meio a todas essas polêmicas, o clube ainda expôs que não chegou em acordo de renovação com o ídolo: “Espero que ele volte a ter um desempenho esportivo compatível com o valor que ele está solicitando”, disse Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, em entrevista ao Charla Podcast, em julho.
Foi desse modo que seu nome se tornou ainda mais recorrente em notícias do mercado da bola. Frequentemente, o atacante passou a ser ligado a clubes brasileiros, como Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro e Bahia, tendo em vista a possibilidade de assinar um pré-contrato desde julho.
Entretanto, mesmo com o vínculo prestes a chegar ao fim e sem indicação de um acerto, Gabriel voltou a brilhar para aproximar o Flamengo de mais troféu. Preciso, decisivo e com uma estrela inegável, foi o Gabigol dos tempos áureos.
Mascarou rancores, apagou polêmicas e colocou no torcedor a paixão acima do racional. No fim das contas, também deixou claro que, mesmo com o divórcio vindo a se concretizar, o último ato foi de glória – e perfeito para deixar saudades.