Há 41 anos, a última final de Champions perdida pelo Real Madrid
Decisão deste ano será uma reedição da de 1981, também em Paris, onde PLACAR acompanhou a exuberante festa do campeão Liverpool
O Stade de France, em Saint-Denis, nos arredores de Paris, receberá no próximo dia 28 o encontro de duas das camisas mais pesadas do futebol: Real Madrid e Liverpool decidirão o título da Liga dos Campeões pela terceira vez. Na última, em 2018, o clube espanhol, maior vencedor do torneio com 13 troféus, levou a melhor em Kiev. Na anterior, em 1981, deu Liverpool, no Parque dos Príncipes, também em solo francês. Esta foi a última vez que o Real Madrid perdeu uma decisão de Champions e PLACAR estava lá para relatar este momento histórico ao público brasileiro, numa época de acesso limitado ao futebol europeu.
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Esta será a 17ª final do Real Madrid, que venceu 13 e perdeu apenas três, com incríveis 80% de aproveitamento. A equipe merengue liderada pelo craque argentino Alfredo Di Stéfano conquistou as cinco primeiras edições, entre 1956 e 1960. Em seguida, perdeu para Benfica e Inter de Milão, nas decisões de 1962 e 1964, e venceu o Partizan Belgrado em 1966.
O time só alcançaria outra final 15 anos depois, em 1981, quando acabaria derrotado pelo Liverpool por 1 a 0, com gol de Keneddy. Desde então, foram só vitórias em sete finais: 1998, sobre a Juventus, 2000 contra o Valencia, 2002 diante do Bayer Leverkusen, 2014 e 2016 sobre o Atlético de Madri, 2017 diante da Juventus e 2018 sobre o próprio Liverpool.
O blog #TBT PLACAR, que toda quinta-feira recupera algum tesouro de nossos quase 52 anos de história, desta vez publica na íntegra o texto escrito por Ronaldo Kotscho, enviado especial à capital francesa, sobre aquela noite de exageros da barulhenta e beberrona torcida inglesa. Confira:
O EXÉRCITO VERMELHO CONQUISTA A EUROPA
Apoiado por uma torcida incendiária, o time da terra dos Beatles é o novo campeão europeu
Ronaldo Kotscho (enviado especial)
English Team vai mal? Viva o Liverpool!
Essa ambígua sensação de tristeza e euforia não incomoda nem um pouco os ingleses. É verdade que a Inglaterra não vence há quatro partidas em Wembley, estando ameaçada de ficar fora, pela terceira vez consecutiva, de uma Copa do Mundo. Mas como não exaltar o feito do Liverpool, quarta passada, conquistando a Copa Europeia de Clubes Campeões e garantindo, para a ilha, a hegemonia na competição pelo quinto ano seguido?
A decisão, no mesmo Parc des Princes em que o Brasil deu um show de bola há três semanas (3 x 1 sobre a França), foi definida a 9 minutos do fim: O lateral esquerdo Alan Kennedy recebeu no ângulo da grande área, avançou sobre a zaga espanhola e arrematou cruzado, encobrindo o inexperiente goleiro Agustín. Bola na rede, Kennedy correu campo afora para saudar a explosiva torcida inglesa que já celebrava a festa.
Como sempre, uma festa tão selvagem quanto contagiante, porque, entre a vitória e a derrota, eles preferem o álcool. Já na véspera da decisão, a embaixada transformou-se numa barulhenta central de reclamações, a mais grave das quais foi a depredação de um hotel próximo à estação de Saint-Lazare, por um bando de jovens de 17 a 22 anos. O vice-cônsul britânico conseguiu sua libertação garantindo pagamentos dos prejuízos, calculados em 100 mil cruzeiros.
À caminho de Parc des Princes, dezenas de incidentes a marcar a passagem da mais devastadora horda que Paris recebeu nos últimos tempos. Úísque, cerveja, conhaque — tudo era combustível para incendiar a torcida inglesa. Nos arredores do estádio, havia calçadas inteiramente cobertas de garrafas de cerveja.
Às 20h15, o espetáculo começou e a horda alucinada se transformou numa fantástica força de apoio à equipe. Não é à toa que o time é chamado de Red Army, Exército Vermelho: são onze generais apoiados por uma artilharia demolidora. Do início ao fim da partida, o coro de Li-ver-pool! Li-ver-pool! aqueceu o estádio e engoliu os gritos da torcida espanhola.
Com o gol de Kennedy, mais que o delírio inglês, os parisienses se aliviaram. Vitoriosos, eles não se entregariam a manifestações de violência. Nem esboçaram invadir o campo, que ficou por conta dos 11 heróis e seus reservas, dando várias voltas olímpicas, empunhando o magnifíco troféu e até lançando provocações aos aficionados espanhóis. Thompson e Neal se enrolaram em echarpes vermelhas, Souness empunhou uma bandeira inglesa e foram os três evoluindo diante de sua feliz torcida.
Os refletores de Parc des Princes se apagaram às 23h50, hora em que os jogadores se reuniam a suas esposas no hotel Méridien para, finalmente, desfrutar as delícias da Paris boêmia. Na Place Vendôme, um alegre bando de vermelho trocava seu impetuoso grito de guerra pelo gracioso estribilho de Obla-di, obla-da, life goes on hei, la-ra-ra-ra-ra-ra-ra. Justa homenagem a outros quatro heróis que também celebrizaram Liverpool. Paul, George, Ringo. E John Lennon.