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Em 2011, PLACAR apresentou Hulk, o super-herói do Porto

Então com 24 anos e como estrela do Porto, atacante paraibano sonhava com titularidade na Copa de 2014 e volta ao Brasil jogando pelo Palmeiras, o time do coração

Givanildo Vieira de Souza. Este nome apareceu pela primeira vez na revista PLACAR em fevereiro de 2011, já acompanhado do apelido que o consagraria. Hulk, o super-herói que hoje é um ídolo incontestável do Atlético Mineiro vivia uma realidade diferente naquela época, aos 24 anos.

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A reportagem de Edu Petta apresentou ao grande público o atacante paraibano que à época fazia grande sucesso no Porto e recebia suas primeiras chances na seleção brasileira. O apelido, por exemplo, foi explicado em detalhes:

O apelido veio lá pelos 4 anos de idade, na época da Copa de 1990. O futuro super-herói futebolístico adorava assistir ao cartoon do monstro verde e, não se sabe se louco de raiva do time de Lazaroni ou por pura brincadeira, passou a imitar o mutante fortão. Era ver o desenho para o menino se virar para trás, estufar o peito e grunhir para diversão da família, que passou a chamá-lo de “Hulk”. A avó avisou: “Esse apelido vai pegar”. Sábia profecia

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O atacante canhoto “de chute letal e desejado por Mourinho para o lugar de Benzema no Real Madrid”, contou sua trajetória, que inclua passagens pelo Corinthians de Alagoas e São Paulo antes de chegar ao Vitória, onde, muito garoto, enfrentou uma concorrência pesada:

 Em 2002, com 16 anos, voltou para a base do São Paulo. Morou debaixo das arquibancadas do Morumbi com a geração de Renan, Alê e Jean. Quando a estada no São Paulo parecia engrenar, foi levado por seu empresário para as categorias de base do Vitória.

“Fiquei na Bahia de 2003 a 2005, mas a concorrência era brava. O ataque era formado por Edílson Capetinha e por Obina, e disputei apenas um jogo.” Apesar de tudo Hulk diz que por lá aprendeu bastante com o volante Amaral. “Ele é um cara muito engraçado e me deu muitos conselhos.” O principal deles foi aceitar aos 18 anos a proposta para jogar no Japão.

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Na época, o  atacante já tinha um objetivo claro e que se concretizaria: chegar à seleção brasileira e disputar a Copa do Mundo de 2014 em casa. Também falava em um dia retornar ao Brasil para vestir a camisa do clube do coração, o Palmeiras.

O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera um tesouro de nossos arquivos, reproduz na íntegra o perfil de Hulk:

Hulk, jogador do Porto – Carol da Riva/PLACAR

Hulk – O super-herói verde (e amarelo) detona em Portugal

Paraibano de 24 anos, ele tem se firmado como o grande matador do Porto com sua patada descomunal de perna esquerda. Seria Hulk o herói de que precisamos para 2014?

Edu Petta

O apelido veio lá pelos 4 anos de idade, na época da Copa de 1990. O futuro super-herói futebolístico adorava assistir ao cartoon do monstro verde e, não se sabe se louco de raiva do time de Lazaroni ou por pura brincadeira, passou a imitar o mutante fortão. Era ver o desenho para o menino se virar para trás, estufar o peito e grunhir para diversão da família, que passou a chamá-lo de “Hulk”.

A avó avisou: “Esse apelido vai pegar”. Sábia profecia. Cerca de 20 anos depois, a comprovação. No dia 7 de novembro de 2010, com a camisa 12 do Futebol Clube do Porto às costas, ele ajudou a arrasar o arquirrival Benfica com uma exibição de gala no Estádio Dragão e dois gols – o primeiro de pênalti, que ele mesmo sofreu; e o segundo, um golaço, com uma bomba de perna esquerda de longe da área e com efeito. Ao marcar o primeiro, o brasileiro correu para as câmeras, sacou a camisa e exibiu os músculos grunhindo como o gigante raivoso, da mesma maneira que fazia quando criança em Campina Grande, sua cidade natal.

A rádio Nova, a principal do Porto, até fez uma enquete: “O que é que o Hulk [eles falam “Ulk” – sem pronunciar o H] come no pequeno-almoço [café da manhã]? Porque aquilo não é normal”. O apelido de infância estava mais que justificado. Mas qual seria a “identidade secreta” desse novo monstro dos gramados praticamente desconhecido em seu país de origem?

Para responder à questão, marcamos encontro com Givanildo Vieira de Souza, o Hulk, no Estádio Dragão em uma tarde gélida de inverno no fim do ano passado. No horário marcado, uma perua Mercedes branca apontou no estacionamento sob os acordes dissonantes do grupo Calcinha Preta no último volume. Ali estava o canhoto brasileiro de chute letal desejado por Mourinho para o lugar de Benzema no Real Madrid, mas que tem contrato com o Porto até 2014 com multa rescisória de 100 milhões de euros.

Hulk veio andando com a ginga que sua condição de astro lhe permite. É artilheiro da Liga Portuguesa, recebeu o prêmio de melhor jogador do mês pela quinta vez seguida e lidera a Bola de Prata do jornal português A Bola. Com 1,80 metro de altura e 75 quilos e vestindo calça jeans, casaco de couro e colar de ouro, e com enormes tatuagens com os nomes dos filhos nos braços, o porte de Hulk impressiona. “Vocês são da PLACAR?” Sim, conhece a revista? “Desde criancinha”, diz e abre um sorriso com a recordação.

Hulk, jogador do Porto durante jogo contra Vitória de Guimarães – Vitor Garcez/PLACAR

HULK OU GODZILLA?

“Venho de uma família humilde. Era obrigado a trabalhar na feira, mas fugia sempre que podia para jogar bola”, conta o atacante de 24 anos. De tanto insistir, o pai o levou para uma escolinha de Campina Grande, onde seu primeiro treinador, Waldemar Barbosa, notou logo seu talento. “Eu percebi nele um grande jogador pela força da perna esquerda. Com 13 anos já o colocamos para jogar no time de cima.” Não demorou muito, e Hulk foi levado para o Corinthians de Alagoas. Aos 15 anos já estava em Portugal, onde treinou no Vilanovense, clube pequeno próximo ao Porto. Em 2002, com 16 anos, voltou para a base do São Paulo. Morou debaixo das arquibancadas do Morumbi com a geração de Renan, Alê e Jean. Quando a estada no São Paulo parecia engrenar, foi levado por seu empresário para as categorias de base do Vitória.

“Fiquei na Bahia de 2003 a 2005, mas a concorrência era brava. O ataque era formado por Edílson Capetinha e por Obina, e disputei apenas um jogo.” Apesar de tudo Hulk diz que por lá aprendeu bastante com o volante Amaral. “Ele é um cara muito engraçado e me deu muitos conselhos.” O principal deles foi aceitar aos 18 anos a proposta para jogar no Japão.

O brasileiro chegou ao Oriente para defender um time de segunda divisão, o Kawasaki Frontale, e acabou emprestado imediatamente ao Consadole Saporro. “Achei que ia ser só uma experiência. Pensei: “Vou passar uns seis meses e volto já”.” Mas Hulk desandou a marcar gols no Sapporo e terminou o ano com 25 tentos, um a menos que o compatriota Borges. Transferido no ano seguinte para o Verdy Kawasaki, ele explodiu de vez. Marcou 37 gols, ganhou a artilharia e levou o clube de volta à primeira divisão. O futebol de força, a camisa verde e o apelido de super-herói não poderiam combinar melhor…

“Eu era tratado como rei pelas ruas da cidade.” No Império do Sol conheceu sua esposa, a também paraibana Iran. Em 2007, quando disputava a artilharia da primeira divisão japonesa, foi assediado pelos clubes da Europa. O Atlético de Madrid tinha a melhor proposta, mas ele escolheu o Porto. Pesaram na decisão a língua pátria e a vontade de jogar no clube que conhecera quando lá residiu aos 15 anos.

“Hulk foi um investimento alto. Pagamos 5,5 milhões de euros pela metade do passe do jogador junto ao Atlético Rentistas do Uruguai [o time de Juan Figger]”, lembra o diretor do clube português, Rui Cerqueira. “O Porto era o tricampeão nacional, mas precisava de um centroavante para formar parceria com os argentinos Lisandro e Lucho Gonzalez”, conta Cerqueira.

Hulk, durante Cinfaes 1 x 4 Porto, partida válida pela Eliminatória da Taça de Portugal 2008/2009, no Estadio Cerveira Pinto – PLACAR

O GAJO É BRUTAL, Ó, PÁ!

De volta a Portugal, agora em um time grande, Hulk escolheu a camisa 12 e sentou-se no banco. Foi entrando aos poucos na equipe do técnico Jesualdo Ferreira até que marcou seu primeiro gol, na vitória de 2 x 0 contra o Belenenses. Foi o que bastou. “Foi o gol mais importante da minha carreira”, diz. “Depois dele nunca mais deixei de ser titular.” Naquela temporada Hulk marcou oito vezes e ajudou o

Porto a conquistar o tetracampeonato. Embalado, fez ótimas apresentações na Champions 2008-2009 e foi eleito uma das dez promessas europeias pela Uefa para 2009-2010.

O Porto só parou nas quartas diante do Manchester United. Após a partida, ninguém menos que o escocês sir Alex Fergusson veio cumprimentá-lo. “Não entendo como este rapaz não está na seleção brasileira. Ele é rápido, forte, veloz e tem um canhão na perna esquerda”, disse o lendário treinador de Old Trafford.

Mas a concorrência para a Copa 2010 era tarefa árdua até para super-herói, e Dunga já tinha seu time fechado. Apesar disso, convocou Hulk para os jogos preparatórios contra Inglaterra e Omã, em outubro de 2009. Aos 62 minutos do jogo com os ingleses, Hulk entrou no lugar de Luís Fabiano. Deu apenas um chute a gol.

“É um jogador de futuro e com muita força e explosão”, disse o técnico naquela época. Não foi o suficiente para levá-lo à África. Além disso, o “caso do túnel da Luz”, em dezembro de 2009, prejudicou demais seu bom momento. O caso é o seguinte: após um clássico contra o Benfica, houve um tumulto e uma suposta agressão de alguns jogadores do Porto aos dirigentes do rival.

A Comissão Disciplinar portuguesa suspendeu Hulk preventivamente por quatro meses, mas as imagens nunca foram claras e ao fim do campeonato 2009-2010 a mesma comissão reverteu sua pena para singelos três jogos. Mas já era tarde. Hulk ficou ausente em 18 partidas e não teve a chance de provar a Dunga que era ao menos melhor do que Grafite. “Tenho a certeza de que o Hulk teria ido à Copa não fosse o caso do túnel. Aquilo foi uma armadilha, um absurdo”, afirma seu atual treinador, Villas-Boas.

VOLTA PARA CASA?

Hulk admite que já teve vontade de mostrar sua força no Brasil, sobretudo no Palmeiras – seu clube do coração -, mas sabe que deve mesmo permanecer na Europa nos próximos anos. Enquanto isso, em todo verão ou nas férias é para a Paraíba que Hulk toma caminho. Ali toca pagode, faz churrascos e promove jogos beneficentes. No entanto, na bela cidade do Porto é difícil vê-lo na rua ou em baladas. Sua força, seus gols e o nome de super-herói o tornaram o maior ídolo das crianças do clube. A “camisola” número 12 com seu nome às costas é a que mais vende na Loja Azul. “Este Hulk só fica bravo se disserem que ele é fominha”, conta o volante Fernando, seu melhor amigo de Porto. “Sou nada. É só ver o número de assistências que faço no campeonato”, ele fecha a cara pela primeira e única vez na entrevista.

Para Mano Menezes, que o convocou para a semana de treinos da seleção em agosto de 2010, “Hulk não tem a mesma habilidade de um Neymar ou de um Nilmar, mas tem uma característica de força. Quando pensarmos em alguém assim, ele vai estar lá”. No fundo Hulk sabe que para pavimentar seu caminho para estar no Brasil em 2014 tem de jogar bem nos torneios europeus. Por isso a importância dos jogos eliminatórios de fevereiro contra o Sevilla pela Liga Europa. Ali podem estar frente a frente Luís “Fabuloso”, o 9 da última Copa, e quem sabe o 9 da próxima. Pensando bem, ao imaginar a pressão de jogar em casa em 2014, ter um super-herói em campo seria mesmo uma ótima ideia.

Brasucas no ataque

A trajetória de Hulk faz parte da tradição do Porto de contar com centroavantes brasileiros. Alguns deixaram saudade; outros nem tanto. Confira alguns deles:

Flávio Minuano – 1971-1974
O gaúcho artilheiro do Brasileirão de 1975 pelo Inter foi contratado a peso de ouro junto ao Fluminense para fazer frente ao Benfica de Eusébio. Em sua passagem, Flávio encantou a torcida tripeira com seus mais de 70 gols, mas não chegou a ser campeão.

Walter Casagrande – 1986-1987
Casão chegou ao Porto logo após a Copa de 1986, mas se machucou gravemente em um jogo contra o Brondby, de Copenhague, pelas quartas da Champions – vencida pelo Porto com um gol de Juary. Casagrande jogou seis partidas e marcou somente um gol.

Juary – 1986-1988
O menino da Vila de 1978 foi um verdadeiro talismã no banco do Porto. Entrava e decidia. A glória veio no título europeu de 1987 ao dar a assistência para o gol de empate e depois marcar o tento decisivo contra o Bayern de Munique, na célebre virada por 2 x 1.

Jardel – 1996-2000
“Jardigol” e “Super Mario” foram alguns dos apelidos que ele ganhou no Porto. Tricampeão nacional, Jardel marcou 130 gols em 125 jogos, foi o artilheiro do campeonato quatro vezes e ainda levou a Bota de Ouro de maior artilheiro europeu em 1999.

Luís Fabiano – 2004-2005
O Fabuloso não repetiu o sucesso que teve no São Paulo. Luís Fabiano chegou machucado em Portugal, foi criticado e nunca se adaptou. Jogou 22 jogos e marcou apenas três gols, o que forçou sua saída para o Sevilla, na Espanha.

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