Em 1999, PLACAR elegeu os maiores craques do século; confira o top 10
Na contramão da recente lista da 'Four Four Two', que rebaixou Pelé e Garrincha, heróis brasileiros em Copas foram valorizados e falácias foram combatidas
De tempos em tempos, tradicionais publicações esportivas buscam eleger os maiores de todos os tempos. Comparar craques de épocas distintas é um exercício tão saboroso quanto cruel — e sempre polêmico. Nesta semana, a inglesa Four Four Two causou alvoroço ao lançar sua lista, com Lionel Messi no topo. O que mais causou espanto, ao menos no Brasil, foi a presença de Pelé como o quarto do ranking.
Assine #PLACAR por apenas R$ 9,90/mês. Não perca!
É verdade que não há unânime no mundo sobre o Rei ter sido o maioral. Ainda assim, esta deve ser a colocação mais baixa do gênio brasileiro, tricampeão da Copa do Mundo, em qualquer ranking semelhante. Nas últimas décadas, foram as comparações entre Pelé e Diego Armando Maradona que permearam os debates. Agora, os dois ganharam a companhia das estrelas do século XXI.
No ranking da Four Four Two, o campeão Messi é seguido por Diego Maradona e Cristiano Ronaldo. Do trio, apenas Maradona ergueu a Copa do Mundo, e uma única vez. A lista gerou críticas sobre revisionismo histórico e eurocentrismo por outros fatores. George Best, ídolo do futebol britânico, por exemplo, é o 7º, à frente de nomes como Ronaldo Fenômeno (10º) e Garrincha (15º).
Vinte e três anos atrás, em novembro de 1999, quando Messi e Cristiano ainda davam seus primeiros chutes, PLACAR lançou uma edição especial em que elegeu, em ordem, os 100 craques do século passado. George Best, posto em sétimo pela revista britânica neste ano, foi apenas o 27º. Garrincha, por sua vez, foi bem mais valorizado (de 15º para 4º).
Curiosamente, Zico se saiu melhor na revista inglesa (14º) do que na brasileira (16º). Ronaldo, que estava em atividade e convivendo com lesões e polêmicas em 1999, foi o 83º. E o primeiro lugar, é claro, foi de Pelé. Tinha como não ser?
Cada posição foi explicada pela redação da época. O redator-chefe André Fontenelle foi o responsável por escrever sobre Pelé e foi enfático, desconstruindo falácias bastante exploradas há anos, por quem buscava desmerecer a história e o legado de Edson Arantes do Nascimento.
O blog #TBT PLACAR, que a cada quinta-feira recupera um tesouro de nossos arquivos, reproduz abaixo, na íntegra, os argumentos sobre o Rei do Futebol.
O top 10 de PLACAR em 1999:
1 – Pelé (Brasil)
2 – Maradona (Argentina)
3 – Cruyff (Holanda)
4 – Garrincha (Brasil)
5 – Beckenbauer (Alemanha)
6 – Di Stéfano (Argentina)
7 – Puskás (Hungria)
8 – Platini (França)
9 – Eusébio
10 – Romário
Alguém tem alguma dúvida?
E há quem diga que Pelé não foi o maior de todos. O problema é encontrar um argumento razoável
Por André Fontenelle
De vez em quando aparece alguém para dizer que algum outro jogador foi melhor que Pelé. Na Argentina, há até dois candidatos ao posto: Maradona e Di Stefano (sem falar dos portenhos mais velhos, para quem José Manuel Moreno, ídolo do River nos anos 40, foi ainda melhor que os dois). Cruyff e Garrincha também são citados aqui e ali. Os argumentos para justificar a escolha costumam ser os mesmos, todos fáceis de desmontar.
1. ” Pelé jogou numa época em que havia mais liberdade em campo.
É só perguntar a qualquer jogador daquela época se havia ou não botinada na época de Pelé. Ainda mais contra um jogador como Ele, que precisa aprender a se defender dos marcadores. Fraturas eram muito mais comuns nos anos 60 e lesões graves eram muito mais difíceis de curar. Pelé sobreviveu a tudo isso. E o mais engraçado: o Rei estreou na mesa de cirurgia em 1999, aos 58 anos, por conta de um problema no joelho direito.
2. ” Pelé ganhou três Copas do Mundo num time repleto de craques. Assim é fácil. Maradona ganhou sua Copa num time de “joões-ninguém”. Logo, Maradona é melhor.
O argumento usado contra Pelé joga, na verdade, a favor dele, rei numa geração de gênios (foi contemporâneo de Puskas, Di Stefano, Cruyff, Garrincha…). Quem eram os rivais de Maradona?
3. ” Pelé não jogou em clubes europeus; logo, Seu futebol nunca pôde ser testado no Velho Mundo.
“Pelé teria fracassado na Europa”, disse Maradona em uma entrevista à televisão italiana em 1997. Volta e meia, algum jornalista europeu, que poucas vezes ou nunca viu Pelé jogar, põe Cruyff ou Di Stefano à frente em rankings de todos os tempos. Mas Pelé jogou mais de cem partidas na Europa ao longo de sua carreira, marcando quase um gol por jogo, mesmo em meio às cansativas excursões do Santos e da Seleção Brasileira. Ganhou uma Copa do Mundo na Europa (em 1958, na Suécia), feito único, aliás, para equipes sul-americanas. Aliás, quem disse que o futebol europeu era superior ao brasileiro naquela época?
4. ” Maradona era mais habilidoso. Di Stefano era mais completo.
Com a palavra, Maradona. “Posso ter sido pior que Pelé. Mas Di Stefano foi melhor”, disse o Pibe na já citada entrevista à RAI. Com a palavra, Di Stefano. “O melhor jogador que eu vi na minha vida foi Pedernera.” O técnico espanhol Helenio Herrera usava o seguinte argumento: “Di Stefano foi muito melhor que Pelé. Era a âncora na defesa, o criador no meio-campo e o mais perigoso atacante.” Quem viu Pelé armando o jogo e atacando na Copa de 70, apenas para citar o momento mais marcante da carreira d´Ele, sabe a verdade. E até no gol o Rei foi perfeito: jogou três vezes com a camisa 1, do Santos e não levou gol em nenhuma.
A discussão é interminável e tem um outro aspecto que não deve ser descartado. Destruir ícones, remar contra a maré dá sempre mais ibope. A polêmica é inebriante, irresistível para muita gente. E Pelé não foi o melhor em todos os quesitos. Maradona podia driblar mais, Cruyff, provavelmente, foi insuperável na categoria inteligência tática. E é aí que entra a principal qualidade do Rei: a versatilidade. É duro acreditar que alguém tenha subido tanto quanto Ele naquele primeiro gol na final contra a Itália em 1970.
Parece mentira também que o homem que encantou o mundo com um drible de corpo contra o Uruguai (que não deu em nada) já tivesse marcado anos antes um gol igualzinho. Às vezes um monstro do drible, em outras, um veloz atacante. Se fosse o caso, fazia de canela, como se fosse um perna-de-pau. Pelé fazia de tudo. Mas talvez os adversários do Rei tenham razão. Pelé não foi o maior jogador de todos os tempos: foi outra coisa, porque a lista de tudo que fez o põe em uma categoria à parte, acima de tudo. Os mortais que discutam entre si.
Assim nasceu o soco
O jogo era contra o Juventus-SP, na Rua Javari. Partida dura, o Santos não conseguia romper a muralha que os adversários ergueram perto da área. A torcida do Juventus aproveitava para tripudiar do Rei. Vaiavam quando Ele pegava na bola. Foi quando Pelé fez, segunda a própria avaliação, o gol mais lindo de sua carreira.
Pelé conseguiu uma seqüência de quatro chapéus sem deixar a bola cair. O goleiro foi o último a ser “chapelado”. O craque não esquece da cena. “Quando fiz o gol, parti para cima da torcida. Fui xingando os caras dizendo “Seus f.d.p!”. Assim nasceu o soco.”
Ficha completa
Nome: Edson Arantes do Nascimento
Nascimento: Três Corações, MG, 23/10/1940
Posição: Meia-atacante
Clubes em que jogou: Santos (1956 a 1974), Cosmos-EUA (1975 a 1977)
Títulos: Campeão paulista (1958, 1960/61/62, 1964/65, 1967/68/69, 1973), da Taça Brasil (1961/62/63/64/65), do Robertão (1968), do Rio-São Paulo (1959, 1963/64), da Taça Libertadores (1962/63) e mundial interclubes (1962/63) pelo Santos; norte-americano (1977) pelo Cosmos; campeão mundial (1958, 1962 e 1970) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela seleção: 92
Gols: 77
Confira o Top-10 eleito por PLACAR em 1999:
1. Pelé (Brasil)
2. Maradona (Argentina)
3. Cruyff (Holanda)
4. Garrincha (Brasil)
5. Beckenbauer (Alemanha)
6. Di Stefano (Argentina)
7. Puskas (Hungria)
8. Platini (França)
9. Eusébio (Portugal)
10. Romário (Brasil)