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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

Brasil 3 x 1 Argentina: Copa se ganha nos detalhes

Nos nove dias de espera até vitória sobre os hermanos, cronista tenta alterar hotel da concentração, trajeto do ônibus e outras rotinas e superstições

A partir da estreia contra a União Soviética, e sempre no dia exato dos jogos do Brasil na Copa de 1982, até a derrota para a Itália, em 5 de julho, o Comentarista do Futuro voltará ao início da década de 80 em seu túnel do tempo particular. Ele embarcou com a missão de alertar os jogadores sobre Paulo Rossi e a Tragédia de Sarriá. Será que consegue?

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Atire a primeira almofada quem nunca se ajeitou no sofá para repetir a posição em que estava no momento daquele gol do seu time? Ou trocou de roupa para torcer com a mesma que usava na última vitória que festejou? Quando o assunto é Seleção e Copa do Mundo, vamos além, e não é raro, minutos antes de rolar a bola, ouvir alguém ordenar:

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 Tem que todo mundo sentar no mesmo lugar do jogo passado!

Superstições, tabelinha mais que comum com o Futebol. E posso garantir a vocês, queridos leitores e leitoras de 1982, que daqui a 40 anos, em 2 de julho de 2022, de ‘quando’ venho, mesmo com todos os avanços da tecnologia, ainda seremos convictos nessas crendices. Cansado de tantas tentativas frustradas para alertar nosso Escrete sobre o fim trágico que nos aguarda no Mundial da Espanha, pensei que talvez fosse este o melhor caminho para cumprir minha missão de salvar o Futebol Arte: impedir que certas rotinas – que vêm dando sorte – sejam alteradas na Segunda Fase da disputa. A começar pelo local da concentração. 

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Precisava trocar Sevilha pra vir pra este ‘fim de mundo’ chamado ‘Mas Badó’, hotelzinho bucólico e ‘duas estrelas’ nos arredores de Barcelona? Imaginem o que é passar 9 dias aqui, toda a ‘homemzarrada’ junta, com pagodinho do Junior ‘Voa, Canarinho Voa’ toda noite, maços e maços de cigarro traficados pelo ‘Pacheco, Camisa 12’ da Gillette (já contei essa história na resenha do primeiro jogo) e esbarrando a todo instante com o Fagner, cantor e boleiro cearense que tem passe livre junto ao selecionado Canarinho. Até de ‘rachão’, para completar time, ele participou. Desconfio que foi com essa pausa longa até os jogos decisivos que começamos a desafinar…

Fagner e Zico
O cantor Fagner tinha passe livre na concentração da seleção

Convencido de que ‘detalhes’, mesmo de superstições, são fundamentais, fiz questão de seguir o ônibus da Delegação Brasileira em seu trajeto de ida e volta para o estádio de Sarriá, em Barcelona, onde nos apresentamos pela primeira vez, na vitória de 3 x 1 sobre a Argentina. Se fomos por aqui e viemos por ali, óbvio, temos que obrigatoriamente repetir os caminhos daqui a três dias, contra a Itália, certo? Pois o fato de ter vindo do futuro me permite saber que, por algum desconhecido motivo, nosso motorista vai decidir mudar o traçado até o estádio. Mas hei de impedir!!!

O confronto com a Argentina, confesso, nada me preocupava, e não apenas por saber de antemão o resultado e que seria a melhor apresentação do time de Telê. Que nenhum ‘hermano’ me leia, mas nossos principais rivais estavam sem qualquer condição psicológica de atuar e vencer. Já entraram em campo derrotados, pelas notícias que chegavam da América sobre as mortes de compatriotas e a vitória acachapante da Inglaterra na Guerra das Malvinas, iniciada em 2 de abril. Para vocês terem uma ideia do choque que o grupo de jogadores sofreu, no futuro saberemos que todos chegaram à Espanha acreditando nas falsas notícias de triunfo nacional, divulgadas na mídia argentina, e só souberam da verdade, do massacre, aqui. Tinha argentino se matando de verdade no campo – de batalha. Deveriam, então, estar jogando Futebol? Até o primo de um dos atletas, o habilidoso Ardiles, morreu em combate e a notícia amanheceu na concentração do selecionado. Perder de 3 x 1 para o Brasil foi ‘peanuts’. Ou melhor, um mísero e inexpressivo alfajor.

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O estado emocional do grupo pode ser medido por aquela ‘Bênção’, no melhor capoeirês, que Maradona proferiu na cintura do Batista, faltando cinco minutos pra acabar o jogo. Estava tão atordoado que, no futuro vai confessar, queria dar o chute no Falcão mas, acreditem, se enganou – e não vejo semelhança, mesmo ambos sendo gaúchos. Em sua primeira Copa, o jovem (21 anos) craque argentino que mês passado foi comprado pelo Barcelona por 8 milhões de dólares não acertou quase nada – mas aguardem: daqui a quatro anos ele vai compensar o fiasco com sobras, inclusive dando um ‘troco’ na hoje inimiga Inglaterra. A atual campeã do mundo Argentina também não fez bonito e só chegou até aqui após claudicante campanha na Primeira Fase:

Derrota de 1 x 0 para a Bélgica na estreia dia 13, um dia antes de os pós-adolescente fardados argentinos se renderem, após 45 dias de batalha e 652 companheiros mortos.

Vitória de 4 x 1 sobre a Hungria, dia 18, um dia após a queda do ditador Leopoldo Galtieri. 

 Vitória de 2 x 0 sobre El Salvador, dia 23, já com Reynaldo Bignone como novo presidente, escolhido pela junta militar

Resultado: terminou em segundo lugar em seu grupo, o que implicou na formação do chamado ‘Grupo da Morte’, com Brasil e Itália, outra que colaborou, ao empatar com Polônia (0 x 0), Peru (1 x 1) e Camarões (1 x 1) e classificar-se pelo número de gols. Foi justamente a melhor campanha brasileira na Primeira Fase que nos fez permanecer enclausurados, nove dias ‘na sinuca’, período em que, como todos sabem, os italianos venceram os argentinos por 2 x 1, há três dias. Por isso que para os ‘hermanos’ ontem era ‘vencer ou morrer’. Mas graças a Deus que, aqui na Espanha, apenas no sentido figurado.

O Brasil sente muito mas entrou em campo sem ter nada a ver com esta guerra – mesmo que os ‘canhões’ do Éder venham sendo chamados pela mídia de ‘Exocet’, nome dos mísseis com que o Reino Unido tem arrasado as tropas albicelestes. Deu a alegria do Samba, aguçando a melancolia do Tango. A imagem que se eternizará do confronto, aliás, será aquela ‘sambadinha’ do Júnior após o terceiro tento. Até o fim da febre da Copa, serão 726 mil cópias vendidas (disco de platina) do compacto que o lateral, antes de embarcar pra Espanha, lançou com a música – que, vale o registro, é de autoria de Memeco e Nonô do Jacarezinho e chama-se ‘Povo Feliz’ e não ‘Voa, Canarinho, Voa!’. 

Outra forma ‘alternativa’ de ganhar um dindim na Seleção será revelada e confirmada depois do Mundial: um acordo entre a Coca-Cola e os atacantes brasileiros, que ganhariam um ‘premiozito’ em dinheiro a cada vez que comemorassem um gol junto à placa do anunciante, na beira do gramado. Em entrevista no futuro, Serginho Chulapa dirá: “Não me lembro o valor exato. Quem fazia gol tinha dez segundos para chegar em frente à placa. O problema era que, na empolgação, às vezes quem marcava esquecia do acordo.” E ao ser indagado se fazia parte do combinado: “Claro que sim! Eu ia perder essa?” É o que sempre digo: Copa se ganha nos detalhes…

Foi o terceiro embate seguido entre Brasil e Argentina na principal competição do Mundo do Futebol: vitória em 1974 na Alemanha (2 x 1), o 0 x 0 da ‘Batalha de Rosário’ (1978) e o passeio de hoje. “O Brasil só ganhou por ter muita sorte”, dirá no futuro o técnico César Menotti, que se despediu do comando do selecionado rival. De fato, o jogo começou equilibrado, com Juan Barbas, logo aos 2 minutos, completando cruzamento de Kempes e assustando Waldir Peres, que catou firme. Mas tudo mudou a partir dos 11 minutos, quando Daniel Passarella impediu um contra-ataque derrubando Serginho, lá no meio da rua, Éder bateu daquele jeito que a gente conhece, a bola explodiu no travessão e, quando quicava, foi alcançada por Zico, em seu quarto gol no torneio. E fomos pro vestiário com a vantagem. Em tempo: ainda não vi o ‘Galinho’ comemorar ao lado de marca de refrigerante. 

A segunda metade do jogo foi mais violenta. Logo na saída, o volante Ardiles, em luto pelo primo, deu uma pisada no tornozelão de ouro do Doutor Sócrates, que precisou de atendimento dos seus pares por uns cinco minutos, fora de campo. Criado no Futebol de Areia de Copacabana, Júnior deu o troco em Maradona, num carrinho por trás dentro da área. Mas parece que, ao menos ontem, isso valia. Assim como rasgar a camisa do adversário na grande área, pois, já adianto, um adversário fará isso com Zico no jogo das quartas-de-final, daqui a três dias, e o lance será igualmente ignorado pelo juiz israelense Abraham Quem, ou melhor, Abraham Klein. Pronto, falei! Voltando à vaca fria, com Bife Ancho e tudo, aos poucos o talento do Onze verde-e-amarelo foi se impondo, como pode ser visto na triangulação que levou ao segundo gol, de Serginho, aos 21 minutos. Os argentinos em campo não estavam na Linha de Tiro das Malvinas mas, talvez por isso, cismaram de fazer Linha de Impedimento, quase um suicídio coletivo. Júnior escapou e 3 x 0 pra nós. Sambinha…

A Argentina teve o brio de não se entregar, parando quase sempre na melhor atuação de Waldir Peres na Espanha, e achando tempo para descontar com Ramon Diaz e ver seu melhor jogador ser expulso, na despedida melancólica em seu primeiro Mundial. Uma vitória que nos deixa a um empate com a Itália para chegarmos à semifinal. Atenção total então aos detalhes! Estamos assistindo a uma Copa com fatos curiosos:

  1. Pela primeira vez, o jogo de abertura não terminou 0 x 0 (derrota por um gol da Argentina para a Bélgica). Aliás, alerta de ‘spoiler’, até 2022 um 0 x 0 em partida inaugural nunca mais vai ocorrer;
  2. Nunca antes também um país-sede iniciado com VOGAL deixou de triunfar em suas terras. A Espanha, adianto, não vai passar desta Fase, ao contrário de Uruguai (1930), Itália (1938), Inglaterra (1966), Alemanha (1974) e Argentina (1978);
  3. Uma das Seleções na disputa, a escocesa, levou para a Espanha um jogador chamado ‘Brazil’, que participou da Primeira Fase e não jogou apenas uma partida, justo a com a Seleção Brasileira. Alan Bernard Brazil não vai alcançar notoriedade nos gramados e sim daqui a alguns anos quando terá um programa de rádio e tomará cerveja no café da manhã.

Visto isso, caso eu não consiga cumprir minha missão de evitar a derrota do Brasil este ano, ficamos, desde já, 40 anos antes, combinados assim:

  1. No jogo de abertura da Copa de 2022, que será entre Senegal x Holanda, torçamos todos pelo empate sem gols;
  2. Nenhuma chance de o país-sede vencer, até porque o Mundial será realizado no Qatar, com ‘Q’.
  3. E jogador de outra Seleção chamado Brazil… Não pode!

No mais, me chamou a atenção a quantidade de cigarros que o técnico argentino, Cesar Menotti (homônimo de um futuro cantor sertanejo), fumava no banco. Terá ele algum contato com o Pacheco?

PARA VER GOLS E OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO

https://www.facebook.com/watch/?v=2502305263113700

https://www.youtube.com/watch?v=NJ4eDcZxaYY&ab_channel=Fl%C3%A1vioBaccaratFuteboleCarnaval

PARA VER A EXPULSÃO DE MARADONA

https://www.youtube.com/watch?v=J3ywgQveTlI&ab_channel=exceolino

PARA VER O JOGO COMPLETO

https://www.facebook.com/watch/?v=1504000636402402

BRASIL 3 x 1 ARGENTINA

Competição: Copa do Mundo 1982

Local: Estádio de la Carretera de Sarriá, Barcelona 

Data: 2 de julho de 1982 

Horário: 17h15

Público: 38.400 espectadores 

Árbitro: Mario Lamberto Rubio Vásquez (México)

Assistentes: Gaston Edmundo Castro Makuc (Chile), Gilberto Aristizábal Murcia (Colômbia)

BRASIL: Waldir Peres, Leandro (Edevaldo, aos 37’ do 2ºT), Oscar, Luizinho e Júnior; Toninho Cerezo, Falcão e Zico (Batista, aos 35’ do 2ºT); Sócrates, Serginho e Éder

Técnico: Telê Santana

ARGENTINA:  Fillol, Olguín, Galván, Passarella e Tarantini; Barbas, Ardilles e Calderón; Bertoni (Santamaría, aos 20’ do 2ºT), Kempes (Ramón Díaz, aos 46’) e Diego Maradona

Técnico: César Luis Menotti

Gols: Primeiro Tempo: Zico, aos 11’; Segundo Tempo: Serginho aos 21’; Júnior, aos 28’; e Ramón Díaz, descontando aos 44’;Cartão Amarelo: Passarella, Waldir Peres e Falcão Cartão Vermelho: Maradona

 

 

 

 

 

 

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