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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

Bate-volta — dia 18: a mais bela derrota do Brasil em ‘quartas’

Com ‘Crise de Abstinência’, cronista vai a 1986 ver o jogão com a França e extrai lições pra partida hoje com Croácia, tipo: “Tem que treinar pênalti!”

De saída peço desculpas por qualquer deslize que venha a cometer nesta resenha, pois a rabisquei em meio a uma ‘Crise de Abstinência’ – de Copa do Mundo, totalmente dependente, um adicto pela maior festa do Futebol. E nada a ver com a ressaca que entorpece hoje o Brasil, após a traumática derrota de ontem, em disputa por pênaltis – depois do empate com a França nos 90 minutos (1 x 1) – que nos eliminou do Mundial do México. A minha angústia tem raízes no futuro, pois revelo a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1986, que sou um Viajante do Tempo que deixou 2022 em meio a outro Mundial, que daqui a 36 anos será realizado no Catar – sim, no Catar, juntinho ao deserto, a “temperatura (nada) ideal para o esporte bretão”. Após 17 dias seguidos de jogos, em que fiz ‘bate-voltas’ (viagens curtas) diárias ao passado, me vi de repente, ao acordar, diante das primeiras 24 horas sem nenhuma partida entre seleções na TV. Pior que isso: 48 horas!!!! Acusei o golpe. Mesmo desnorteado, decidir vir até este jogão de ontem – triste, mas antológico – por três motivos:

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  1. Por ser a primeira das duas vezes que, até 2022, seremos eliminados pelos franceses em quartas-de-final de Copa do Mundo (a próxima em 2006). 
  2. Por ser esta fase, as ‘quartas’, aquela em que, até 2022, mais vezes teremos nos… Dado mal. Cinco!
  3. E ainda porque retornarei ao Meu Tempo na data do jogo do Brasil pelas ‘quartas’ no Mundial do Catar, não contra a França (ufa!), mas Croácia (país que vai declarar independência da Iugoslávia daqui a cinco anos, depois passar mais quatro em guerra, e enfim se libertar e partir com camisa própria, mesmo que xadrez, para as Copas do Mundo)

O que que tem a ver o bumbum com as calças? Sei lá, não avisei que estou em ‘crise’?

Mas ultimamente tenho optado por retroceder no tempo para testemunhar não apenas triunfos, mas também derrotas da Seleção, pois são elas que mais nos ajudam e contribuem em conquistas futuras (bonito, isso… Vou mandar pro Tite!). Sei muito bem o amargo que todos vocês, queridos torcedores e queridas torcedoras de 1986, estão sentindo hoje após o desfecho inesperado de ontem. Mais do que ‘sei’, ‘lembro’! Não bastassem a sensação de que “jogamos melhor”, o pênalti perdido por Zico no tempo normal e a França errando menos na disputa derradeira, tudo isso desaba sobre nossas cabeças e machuca nossos corações apenas quatro anos depois da frustração em Sarriá, na Espanha. E, convenhamos, é difícil entender que tenha sido o quarto Mundial seguido sem o Brasil sagrar-se campeão – afinal, nos quatro anteriores ganhamos três! 

Calma… Muita calma nessa hora! Como venho do próximo século, garanto a vocês que serão mais dois ‘canecos’ até 2022 (Penta!!!), E que no Catar estaremos apresentando um futebol que nos fará ser apontados entre os dois grandes favoritos ao título – o outro, justamente a França, algoz de ontem. Claro que, para confirmar os prognósticos, será preciso seguir em frente, vencendo a Croácia. E estaremos ‘nelas’! Nas traiçoeiras ‘quartas’ …

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Assistindo assim, pela segunda vez, já sabendo que ia dar ‘eme’ no final, foi um espetáculo e tanto testemunhar este Brasil 1 x 1 França – partida que, saibam, no próximo século, em 2020, chegará a ser apontada como a melhor de todos as Copas do Mundo. Coisas da FIFA… Exageros e ‘factóides’ à parte, vimos de fato um belo confronto de duas gerações, do Brasil e da França, que exibem um toque diferenciado na bola. Se temos Zico, Sócrates e Careca, eles não ficam muito atrás (só um pouco) com Platini, Tigana e Giresse. Quis o destino, porém, que transcorressem os fatos que prefiro nem ruminar aqui. Coisas do Futebol…

O fantasma das Quartas-de-final para o Brasil em Copas do Mundo começou justo na disputa em que esta fase (em que oito selecionados jogam, dois a dois, em busca de quatro vagas) foi realizada pela primeira vez: em 1954, na Alemanha. Menos mal que saímos derrotados pela mágica Hungria de Puskas (4 x 2). Mas a ‘escrita’ vai se consolidar mesmo no Século 21, quando – sugiro que anotem – vamos ‘morrer ainda longe da praia’ em 2006 (perdendo de novo pra França, creiam-me), 2010 (Holanda) e 2018 (Bélgica). Só vamos ultrapassar este funil em 2014, mas a vitória nos encaminhará para a pior das eliminações, em 2014, já pelas “semis”, pra Alemanha, no Maracanã, e acho melhor ficarmos por aqui, evitar detalhes. Danada de ‘quartas’…

Esse negócio de ‘disputa de pênalti’, vamos combinar, é o ‘protocolo’ (desculpem, palavra muito em voga no Amanhã) mais mal resolvido do Futebol. Mas é como a Democracia: até 2022 ninguém terá descoberto um sistema melhor. Por isso não darei eco aqui neste texto às maledicências que tomam o Brasil sobre o pênalti perdido, durante o jogo, por Zico (na disputa final, ele fez!). O ‘Galinho’ ainda vai penar (‘ops’, juro que foi sem querer) muito por conta disso, com os detratores, em especial de São Paulo, tentando colar nele uma pecha de “jogador de Maracanã”. “Não passarão!”, claro. O mito Zico, outra informação que garanto a vocês, no futuro só vai aumentar. Se eternizar.

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O Tempo, tenho aprendido isso, sabe pôr as coisas no seu lugar. A primeira penalidade máxima perdida pelo Brasil numa Copa do Mundo, em 1934, foi obra de Waldemar de Brito, na derrota do Brasil para a Espanha (3 x 1). Em 1938, foi a vez do ponta Patesko bater um pênalti pra fora, sem grande impacto na vitória brasileira (4 x 2) sobre a Suécia, pelo terceiro lugar. Waldemar de Brito e Patesko: os senhores e as senhoras, queridos leitores e queridas leitoras de 1986, já ouviram falar? Prova de que perder pênalti em partida decisiva não é o fim da vida pra ninguém.

Até 2022, antecipo a todos, a Seleção Brasileira perderá mais 3 pênaltis em Mundiais. Querem anotar? Em 1994, um zagueiro, de nome Márcio Santos, terá sua cobrança defendida pelo goleiro Zoff numa disputa com a Itália, mas sairemos vitoriosos mesmo assim (e campeões!); em 2014, em Copa aqui no Brasil, dois jogadores do escrete nacional, Willian e Hulk, vão desperdiçar suas cobranças em disputa com o Chile, mas novamente nos manteremos ilesos, nos classificando às ‘quartas’ … (ui!) Vejamos agora o ‘copo cheio’, ou ‘o outro lado da moeda’: da primeira competição, em 1930, no Uruguai, até 2022, no Catar, serão 10 as penalidades perdidas pelos nossos adversários em jogos com o Brasil. É como diz aquele velho clichê: “Futebol se ganha nos detalhes!”

O chato é que, sinto informar, a derrota de ontem, mais do que marcar o recorrente “fim de uma geração”, iniciará uma escrita bem chatinha pra nós, brasileiros, com o selecionado gaulês. De hoje até 2022 – pasmem! –, nunca mais conseguiremos vencer a França em Mundiais. E incluam aí uma derrota em Final – em ano que manterei em segredo (‘Nota da Redação de Placar em 2022: cronista se refere à Copa de 1998, na França, quando os donos da casa derrotaram a Seleção Brasileira na finalíssima por 3 x 1)’ – e a desclassificação em 2006.   

Brasil e França são (e sempre serão) as duas mais refinadas escolas de futebol do planeta. E ontem deram a prova disso, em jogo limpo, na bola, um show de Futebol bem jogado. ‘Os dois mereciam ganhar’, estampará hoje em suas páginas o jornal ABC de Madri (é só conferir!). Mas fomos desclassificados, mesmo que invictos, como em 1978 (o gol de ontem, lembrem-se, foi o primeiro que sofremos no México). E logo em Jalisco, o palco do Primeiro Ato do espetáculo de Pelé & Cia. em 1970. O estádio mexicano não merecia assistir a isso… 

Aliás, essa foi e será a única partida que a Seleção Brasileira perdeu neste palco sagrado do Futebol, eternizado por vir a ser um dos dois únicos campos a receber duas finais de Copa do Mundo. No gramado de Jalisco, o Brasil disputou (entre 1970 e este ano) 10 partidas em Mundiais, com 9 vitórias e um empate – a de ontem, com ‘saborzaço’ de derrota. No Catar, chegaremos às ‘quartas’ com um retrospecto de 3 vitórias e uma derrota (mas jogando com time reserva) na competição. E com a imprensa esportiva brasileira, pela primeira vez em muitos quadriênios, empolgadíssima, cheia de elogios e otimista com a Seleção. Tanto que, ao deixar 2022, ainda não tinha visto, lido ou ouvido nenhum jornalista ou comentarista questionar: “Estamos treinando pênaltis?”

‘Perder’ é uma palavra que até 2022 não conheceremos em confrontos com a Seleção da Croácia. Já terão sido quatro jogos, com 3 vitórias (duas em Copas, 2006 e 2014) e um empate. Os croatas, saibam todos, não serão o ‘zé ninguém’ do Futebol. Daqui a 36 anos já terão conquistado espaço e respeito no Mundo da Bola. A ‘Vatreni’, assim será chamada, vai estrear em Mundiais em 1998, e já chegarão em terceiro lugar. Em 2018, sua quinta participação no torneio, na Rússia, conquistarão o vice-campeonato. Perdendo a final pra quem? Pra quem? França. Como se vê, não foi tão aleatória assim a minha escolha pela viagem na Máquina do Tempo até essa derrota de ontem. Os franceses estarão escancaradamente em nosso caminho no sonho do Hexa. Voltarei ao futuro de olho neles, mas, antes, com todas minhas preces e simpatias para que venhamos a superar a Croácia, ultrapassando a barreira (e o fantasma) das ‘quartas’. Vamos lá, Brasil! Estou em ‘Crise de Abstinência’! Preciso de pelo menos mais algumas ‘doses’ de Copa…

PARA VER OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO 

https://www.youtube.com/watch?v=NpBmFqVjpoM

FICHA TÉCNICA
BRASIL 1 X 1 FRANÇA (3 x 4 nos pênaltis)
Quartas-de-Final – Copa de 1986

Competição:  Copa do Mundo de 1986, no México
Data: 21 de junho de 1986
Horário: 12h (local)
Local: Estádio Jalisco, em Guadalajara (MEX)
Público: 65.000 espectadores
Árbitro: Ioan Igna (Romênia)

BRASIL: Carlos; Josimar, Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Alemão, Júnior (Silas) e Sócrates; Muller (Zico) e  Careca. Técnico: Telê Santana

FRANÇA: Bats; Amoros, Battiston, Bossis e Tusseau; Giresse (Ferreri), Fernandez, Tigana e Platini; Stopyra e Rocheteau (Bellone). Técnico: Henri Michel

Gols: Primeiro Tempo: Careca, aos 16’; Platini, aos 41’

Pênaltis (pela ordem): Sócrates (Bats defendeu); Stopyra (gol); Alemão (gol); Amoros (gol); Zico (gol); Bellone (gol); Branco (gol); Platini (fora); Júlio César (trave); e Fernandez (gol)

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