A mais polêmica final do Brasileirão
Cronista deixa 2023 com Botafogo líder e retorna ao último grande momento do clube no torneio: o título de 1995, contra o Santos, com três erros do juiz
“Japoneses não saqueiam lojas e mercados, mesmo com as portas abertas após um tsunami” – ouvirei repetidas vezes esta frase, seja da boca de algum amigo (a) com pretensões de ‘sabão moral’ ou da minha própria cabeça, com a chamada ‘voz da consciência’. Ensaiei filosofias de botequim e epifanias pouco brilhantes, como essa, ao testemunhar, ontem, no Pacaembu, o empate (1 x 1) entre Santos e Botafogo que deu ao alvinegro carioca o título de campeão brasileiro. Não creio em ‘justiça divina’ ou ‘maldições’ no futebol, mas sinto informar aos botafoguenses que será este o único triunfo do clube, ao menos nos próximos 27 anos e edições do mais importante torneio nacional. A notícia boa é que deixei o futuro (sim, sou um ‘Viajante do Tempo’, que usa uma engenhoca para voltar a jogos do passado) com o ‘Glorioso’ inconteste líder do Brasileirão de 2023, com 12 pontos conquistados nas quatro primeiras rodadas, ou seja, 100% de aproveitamento. Grande ‘Fogão’!
Mas garanto a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1995, que as quase três décadas não apagarão as memórias e as queixas (em especial dos torcedores santistas) contra o árbitro da partida, Márcio Rezende de Freitas, que cometeu erros decisivos, confirmando um gol ilegal (impedimento) do Túlio Maravilha e anulando um outro, legítimo, do Peixe, que poderia igualar o placar do primeiro confronto da final (2 x 1 pro Botafogo, no Maracanã) e, quem sabe, dar novos rumos à Taça. Mas e daí? Algum atleta deveria ter se confessado em posição irregular? Existe espaço para ética e ‘consciência limpa’ no futebol? Ou será que, assim como se diz do Botafogo, há coisas que só acontecem com os japoneses?
Os anos vão passar e o próprio Márcio Rezende, já aposentado, assumirá em entrevistas as falhas cometidas. E o fará externando o desejo de que já pudesse contar, ontem, com um aparato de tecnologia que adotaremos nos gramados nacionais a partir de 2016, e que chamaremos de ‘VAR’ – iniciais de ‘Video Assistant Referee’, ou, no velho e bom português, ‘árbitro assistente de vídeo’. Acreditem se quiser: a partir de 2019, em todas as partidas do Campeonato Brasileiro (assim como em outras competições importantes de futebol) teremos, além dos chamados ‘três homens de preto’ (no futuro, mais afeitos a jaquetas amarelas ou lilás), um segundo time de analistas e julgadores, trancafiados numa salinha repleta de telas de TV, com imagens e diferentes ângulos produzidos por uma dezena ou mais de câmeras espalhadas pelo campo. Meia-dúzia de cinco ou sete sujeitos de prontidão, prontos para alertarem o árbitro sobre falhas cometidas no calor dos lances. E a esta altura vocês todos certamente estão me perguntando: vão acabar então os erros no futebol? Curiosamente, não. Longe disso! Talvez no Japão…
Registre-se que não faltou bravura ao time botafoguense. Um dos destaques do elenco, o atacante Donizete Pantera, saberemos agora que entrou em campo com dores no músculo posterior da coxa. Com atuação brilhante do arqueiro Wágner e um eficiente esquema montado pelo até aqui nada conhecido técnico Paulo Autuori (sua carreira vai longe, como treinador e também como dirigente de futebol), o ‘Glorioso’ fez valer a vantagem obtida na primeira partida da final, no Maraca, segurando o empate e erguendo o troféu – o único Brasileiro do clube de General Severiano (mas, alerta de ‘spoiler’, em 2010 a CBF passará a considerar neste ranking torneios anteriores, como a Taça Brasil de 1968, vencida pelo clube da Estrela Solitária – passando a ter a companhia de duas estrelinhas na camisa. Foram 51 pontos somados em 27 partidas, até o tira-teima com o Santos. E saibam que a novidade introduzida este ano, os 3 pontos por cada vitória alcançada, determinação da FIFA, veio pra ficar.
Quis o destino que justo no encontro entre essas duas legendas dos anos 1960, Botafogo e Santos, que punham frente à frente craques como Pelé e Garrincha, deu-se aquela que, vaticino, é e será, ao menos até 2023, a mais polêmica final do Brasileirão (em parte, porque a partir de 2003 não teremos mais finais, com a disputa passando a ser por pontos corridos). As lambanças foram tantas no jogo de ontem que, registre-se também, o empate santista, no primeiro minuto da Segunda Etapa, também aconteceu de forma irregular, também impedimento. Resumo da ópera: o único tento assinalado de forma legal, pelo santista Camanducaia, aos 34’ da metade derradeira, foi anulado. Há coisas que só acontecem no Futebol… Graças a Deus!
PARA VER LANCES E GOLS DA FINAL DO BRASILEIRO DE 1995
FICHA TÉCNICA
SANTOS 1 x 1 BOTAFOGO
Competição: Final do Campeonato Brasileiro de 1995 (Segunda partida)
Data: 17 de dezembro de 1995
Estádio: Pacaembu
Local: São Paulo (SP)
Público: 28.488 pagantes
Árbitro: Márcio Rezende de Freitas (MG)
SANTOS: Edinho; Marquinhos Capixaba, Ronaldo, Narciso e Marcos Adriano; Carlinhos, Marcelo Passos e Giovanni; Camanducaia, Jamelli e Robert (Macedo)
Técnico: Cabralzinho
BOTAFOGO: Wágner; Wilson Goiano, Wilson Gottardo, Gonçalves e André Silva (Moisés); Leandro, Jamir, Beto e Sérgio Manoel; Donizete e Túlio Técnico: Paulo Autuori
Gols: Primeiro Tempo: Túlio, aos 24′; Segundo Tempo: Marcelo Passos, a 1’40”
Cartões Amarelos: Wilson Goiano, Túlio e Wágner (BOT) e Jamelli (SAN)