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Um jeito de corpo

Para tornar a Olimpíada mais atrativa ao jovem, organização dos Jogos de Paris-2024 quer incluir na disputa o breaking, a versão competitiva da dança de rua

Nascido no bairro nova-iorquino do Bronx em meados dos anos 1970, o break, estilo de dança que combina coreografia com habilidades dignas de um contorcionista (ao som de rap, é claro), está prestes a dar seu passo mais ousado. O comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Paris de 2024 anunciou que a versão competitiva desse pilar da cultura hip-hop, o breaking, estará presente no evento como modalidade esportiva — como o salto em distância ou a natação. “Queremos tirar os esportes dos ginásios”, disse o chefe do comitê Paris-2024, Tony Estanguet, ao apresentar a ideia, que ainda será submetida ao crivo do Comitê Olímpico Internacional (COI) em dezembro de 2020.

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Mas, afinal, dança de rua é esporte? Para os defensores do breaking, não há dúvida. “Trata-se de uma modalidade extremamente atlética, competitiva e popular entre os jovens”, disse a VEJA a diretora esportiva do Paris-2024, Aurélie Merle. “Queremos um evento que se alinhe aos novos tempos.” A modernidade também é vantagem estratégica: a França tem a segunda maior comunidade de praticantes do esporte no mundo, o que pode ser um atalho para conquistar uma medalha em casa. Além disso, a novidade se encaixa no anseio do COI de renovar o público que assiste à Olimpíada — no Rio, a idade média do espectador foi de 53 anos. “Entendo o objetivo de renovar o público envelhecido”, diz Marcus Vinicius Freire, medalhista olímpico e diretor executivo do Comitê Olímpico do Brasil entre 2008 e 2016. “Se a ideia era rejuvenescimento, creio que a prioridade deveria ter sido dos e-sports, os jogos eletrônicos.” Estima-se haver 30 milhões de praticantes de breaking no mundo. Apenas o game League of Legends tem mais de 100 milhões de fiéis ao redor do globo.

No cerne da discussão está o gosto do comitê olímpico por provas qualitativas, em que a vitória é dada ao atleta que faz a melhor apresentação segundo a avaliação do corpo de jurados, e não com base em cálculos incontestáveis de metros ou segundos. Os críticos, mais conservadores, reclamam da subjetividade da atribuição de notas. Mas, antes de torcer o nariz para a inovação francesa, convém lembrar uma frase de Pierre de Coubertin, o criador dos Jogos da era moderna: “A Olimpíada é uma viagem ao passado e uma aposta no futuro”.

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Publicado em VEJA de 6 de março de 2019, edição nº 2624

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