Um brasileiro no Manchester City
Marcelo Coutinho é um caso de gestão de sucesso no futebol global
O brasileiro Marcelo Coutinho, businessman internacional, passou muitas horas, nos últimos meses, no Manchester City. Este é seu relato:
“Tive o privilégio de assistir dois jogos do City em Manchester, pela Champions League, contra o PSG e o Real Madrid. Acompanhado com dois conhecedores de futebol, visitei toda a estrutura do clube e pude absorver os conceitos gerenciais modernos que integram o clube profissional com as divisões de base. Estes conceitos se basearam no modelo de gestão do Barcelona, durante o período de Pep Guardiola.
O Manchester City foi adquirido pelo Sheik Mansoor, de Abu Dhabi, que escolheu, como chairman, o principal executivo, CEO, Khalddon Mubarak, do mais respeitado fundo soberano desse Emirado Árabe: o Mubadala. A partir daí, e durante três anos, desenharam um plano estratégico para criar o que pretendiam: a melhor equipe do Reino Unido num primeiro momento e, depois, ser um dos clubes mais competitivos da Europa.
Acredita-se que para chegar aí é preciso muito mais que apenas o talento dos jogadores, e sim dar mais relevância a administração da ideia, assim como nas decisões para o longo prazo. Chamou a minha atenção o contraste com o amadorismo de nossa administração no futebol que vive apenas do romantismo do passado e agora da exportação de atletas, às vezes ainda muito jovens para as engrenagens de clubes como o City. Porém, o mais apavorante é o gerenciamento dos campeonatos, a falta de credibilidade das Federações e da Confederação.
O projeto demorou cerca de três anos para escolher o master plan sobre o novo estádio, o centro de treinamento e a academia, e mais 18 meses para construí-lo, consumindo 320 milhões de libras.
O detalhe é a logística de integrar todos os venues em apenas uma localização, pois o estádio foi construído para os Jogos de 2002 da Comunidade Britânica, e, em vez de virar um legado ao acaso, foi absorvido pelos proprietários do City e desenvolvido todo o entorno do complexo, hoje uma atração turística, chegando em 2008 a ser palco da final da Uefa, além de garantir todos os prêmios e considerações pelo museu e pelas atividades que o estádio propicia a toda a comunidade vizinha.
A integração é a grande interpretação dessa obra, pois tudo é próximo, seja o escritório central, onde a equipe de mais de 200 pessoas gere o clube até as atividades de negócios; pois a entidade do centro geográfico inglês iniciou um grande processo para tornar global a marca City, através de clubes em regiões estratégicas, como NY, com o NY City, que disputa a MSL. Na Austrália com o Melbourne City, o City possui uma base de torcedores grande; também no Japão, através da parceria com a automotriz Nissan, que é um dos principais anunciantes e controla o Yokohama Mariners.
Agora a cúpula está finalizando a compra de um clube na China, pois o City vendeu 18% dele para um grupo de investidores chineses que investiu 265 milhões de libras a holding company que controla todos os ativos esportivos da marca Manchester City. O foco, agora, é criar um clube chinês que participe do campeonato chamado Chinese Super League, cujo principal clube é treinado por Luis Felipe Scolari. Para finalizar o controle global deles, seguindo as novas regras da Fifa, os executivos decidiram também ter um clube no Uruguai, que, juntamente com a Argentina, Chile e os gaúchos do Brasil, compõem uma camada latino-americana com alto grau de origem europeia, o que facilita sua inserção no Velho Mundo. Com essa estratégia global, o Manchester City pretende ser um grande formador de talentos.
Em relação aos jogos da Champions, impressionante a organização no controle de acesso e na saída do estádio, apenas a duas horas de trem de Londres. Uma das diversas peculiaridades que oferece, é que, por exemplo, ao meu lado estava Noel Gallegher, do Oasis, como um cidadão normal, torcendo e vibrando junto com os amigos e sempre amável nos intervalos para interagir com os fãs. Isso tudo faz com que, como sucede atualmente, os anunciantes vibrem de felicidade: pois apenas na web do clube são 14 línguas diferentes que acessam o mundo digital do City comercializando todos os produtos possíveis e criando uma fidelidade única.”