Poderíamos falar sobre o Botafogo de 1995. Mas é muito fácil falar desse time, que tinha ídolos como Túlio Maravilha e Wagner, e que conquistou o Brasileiro daquele ano. Esse time ficou marcado não só na cabeça de botafoguenses como de torcedores do Brasil inteiro. Mas o time de 1989 tem espaço especial no torcedor do Fogão. Pode não ter ficado marcado na memória de outros torcedores, mas foi o time que quebrou o jejum e tirou o clube da fila.
Aquele time formou muitos ídolos para o hall botafoguense, muito graças ao título daquele ano. No gol, por exemplo, Ricardo Cruz virou ídolo da equipe com o bicampeonato carioca de 1989 e 1990. Ainda foi vice-campeão brasileiro em 1992, após deixar o clube. Veio do rival Fluminense.
Na lateral direita, talvez o principal nome daquele elenco botafoguense. Revelado no clube e titular do Brasil na Copa de 1986, além de ser campeão da Copa América de 1989, Josimar levava o nome do clube para o Brasil. Após o título carioca, seu primeiro e único pelo time, deixou o clube para jogar na Europa.
A dupla de zaga trazia experiência e um dos maiores ídolos do clube. Wilson Gottardo chegara do Náutico dois anos antes e conquistaria o bi do Carioca com o time. Voltaria ainda em 1995 para ser campeão Brasileiro. O outro era Mauro Galvão, após passagem pelo Bangu, no qual foi vice-campeão brasileiro, chegou para conquistar o bicampeonato do Carioca, antes de ir para a Europa.
No meio de campo, um dos volantes era Carlos Alberto Santos, outro que se tornaria ídolo na equipe. Chegou no Novorizontino e ajudou o time a ser bicampeão carioca, além de vice-campeão brasileiro de 1992. Já Luisinho, outra joia da base botafoguense, bicampeão carioca, que chegaria à seleção anos depois.
O principal meia (que também jogava no ataque) desse time era o experiente Paulinho Criciúma, que chegara após passagem no futebol coreano e também tornou-se bicampeão carioca no time. No segundo semestre, Paulo Roberto ainda chegaria para reforçar a equipe.
Já no ataque, vinham os heróis daquela conquista. Maurício, forte e alto, chegava do América e seria campeão carioca no clube, marcando o gol do título daquele ano, com assistência de Mazolinha, que veio do banco para se tornar herói do clube com cruzamento perfeito. Morreu no fim de 2016, em Santa Bárbara D’Oeste.
A grande meta daquele ano era sair da fila, que já durava 21 anos. Desde 1968 o título não vinha, e Valdir Espinosa seria o responsável por fazer aquele time sair da incômoda fila.
O torneio seria jogada em dois turnos, com todos contra todas, com os mandos trocados no segundo. O campeão da cada turno faria a final do torneio. Regra simples e de fácil entendimento. No primeiro turno, a Taça Guanabara, cada uma das 12 equipes fez 11 jogos. O Botafogo teve uma campanha impecável, com sete vitórias e quatro empates, sem derrotas, com 19 gols pró e apenas três contra (melhor defesa). Contudo, o Flamengo fez uma campanha ainda melhor, com oito vitória e três empates, com 30 gols pró e cinco contra. Por um ponto, o Mengão foi campeão. O empate de 1 x 1 com o Flamengo, com mando do Botafogo, tirou a taça do clube. Além disso, um empate com o Volta Redonda, fora dos planos, deixou o clube atrás.
No empate em 1 x 1 com o Flamengo, o árbitro Luiz Carlos Félix encerrou o jogo pouco antes de Paulinho Criciúma empurrar uma bola para o gol vazio, que daria a vitória ao Glorioso.
No segundo turno, a Taça Rio, no entanto, o Fogão alcançou a meta. Novamente impecável, venceu sete e empatou quatro, repetindo a campanha do turno, com 17 gols pró e oito contra. Contudo, dessa vez, ninguém ficou à frente do alvinegro. O Vasco, que chegou mais perto, ficou um ponto atrás, com sete vitórias, três empates e uma derrota. Nos clássicos, o Botafogo empatou com o Flamengo por 3 x 3 e com o Vasco por 1 x 1, além do Fluminense, por 2 x 2. O título veio com o empate em 0 x 0 contra o Bangu, garantindo a equipe na final.
No jogo contra o Flamengo, o Botafogo perdia por 1 x 3 e buscou o resultado, com gol contra de Gonçalves, que depois seria ídolo no Botafogo, e de Vítor, aos 42 do segundo tempo.
E o rival seria o Flamengo. Mais um clássico, grande pedra no sapato do clube no ano. Em seis disputados, foram seis empates. A decisão seria um tira-teima. E, novamente, na primeira partida, empate em 0 x 0 com o Flamengo, com 56.897 torcedores no Maracanã. Sete clássicos, sete empates.
O Botafogo tinha vantagem dos resultados iguais por ter feito melhor campanha na primeira fase. Por isso, jogava por mais um empate, o oitavo em oito clássicos. Contudo, dessa vez, o Botafogo venceu o Flamengo. Com cruzamento de Mazolinha aos 12 minutos do segundo tempo, com 56.412 pagantes (68.671 presentes), Maurício, de cabeça, fez o gol que tiraria o clube da fila, justamente contra o Flamengo de Aldair, Leonardo, Zico, Bebeto, Zinho e do treinador Telê Santana.
“O Botafogo é reconhecidamente um clube de superstições e quem trabalha lá acaba se tornando, pelo menos um pouquinho, supersticioso também. Durante todo o campeonato estadual do Rio de Janeiro de 1989, em todas as preleções realizadas antes dos jogos, o Luisinho, meio campo titular daquele time, comparecia vestindo uma camisa do Napoli que ele havia ganho do Maradona. Foi assim do primeiro jogo até o penúltimo. Sim, o penúltimo, pois no dia do jogo final contra o Flamengo, antes de iniciar a palestra olhei para todos os jogadores e não encontrei a camisa azul do Napoli. Não falei nada, olhei para o Luisinho, olhei para o restante do grupo e novamente para o Luisinho. Sorrindo ele abriu a bolsa, pegou a camisa do Maradona e vestiu. Só aí comecei a preleção”, contra o treinador da época, Valdir Espinosa.
Foi um título invicto em um ano que já era marcante. Além do Carioca e alguns torneios amistosos, o time disputou ainda o Brasileiro daquele ano
Na primeira fase, no grupo A, o time venceu quatro, empatou três e perdeu três dos dez jogos que fez contra os rivais do próprio grupo, ficando em segundo, atrás apenas do Corinthians, mas à frente de Atlético-MG, Internacional, São Paulo e Flamengo, por exemplo. Os oito primeiros se classificavam e eram espalhados em dois grupos de oito na segunda fase.
Os pontos conquistados na fase anterior eram mantidos, e os clubes jogavam ainda mais oito jogos contra rivais do outro grupo, também em turno único. O Botafogo esteve no Grupo A, com São Paulo, Corinthians, Atlético-MG, Flamengo, Náutico, Inter de Limeira e Internacional, justamente os rivais da primeira fase, mas sem os três piores. Nos duelos contra os oito classificados do Grupo B, o Fogão venceu cinco, empatou uma e perdeu duas. Contudo, o São Paulo fez campanha mais impressionante. Sétimo colocado na primeira fase, mas apenas um ponto atrás do Botafogo (dado o equilíbrio da chave), o Tricolor venceu cinco e empatou três, ficando com 23 pontos, contra 22 do Botafogo. Na última rodada, não adiantou o Botafogo venceu o Santos fora de casa. Com a vitória do São Paulo contra a Portuguesa, também como mandante, o Tricolor alcançou a final do torneio, contra o Vasco.
Derrota e empate contra os rivais novamente atrapalharam. Foi um 2 x 2 com o Vasco e uma derrota e 0 x 2 para o Fluminense nesta segunda fase. Além disso, uma derrota em casa para o Cruzeiro (1 x 2) afastou o clube dos planos de conquista. Ao final do torneio, o Botafogo ficou no quarto lugar, um ponto atrás do Cruzeiro, terceiro colocado no Brasileiro.