Às vezes, entrar no assunto exige rebolado
Foi uma chuva de brilho, carisma e elaborados movimentos pélvicos o comentado show de Shakira, 43 anos, e Jennifer Lopez, de 50, no intervalo do Super Bowl, a final da liga de futebol americano (NFL), na noite do domingo 2 em Miami, no Hard Rock Stadium. Com sete minutos cravados para cada uma, a apresentação começou com a sensualidade da cantora colombiana e seu indiscutível talento musical — apesar de um perceptível playback. Jennifer veio em seguida, e o que não ofereceu em qualidade vocal compensou com dotes físicos: dançou como se não houvesse amanhã e hipnotizou o público ao girar em uma pole dance, causando inveja às jovens de 20 e poucos anos que assistiam atônitas à exibição de saúde da cinquentona.
Para além do saboroso espetáculo visual, as duas cantoras de origem latina deram sua sutil contribuição ao debate político na arena do Super Bowl. Desde 2016, a liga de futebol caiu na inevitável polarização. Beyoncé entrou na festa daquele ano acompanhada de um exército de Panteras Negras, marcando posição contra o racismo. O tema voltou à baila meses depois, quando o jogador negro Colin Kaepernick fez um protesto contra o racismo em campo, causando a fúria de Donald Trump. No show de 2020, a alfinetada veio temperada com salsa e lambada. Na hora da dobradinha das duas cantoras, a filha de J-Lo, Emme, de 11 anos, chegou ao palco em uma gaiola — óbvia referência às crianças detidas na fronteira americana com o México. Às vezes, fazer política exige rebolado.
Publicado em VEJA de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673