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Rali dos Sertões se inspira na NBA e faz evento em formato “bolha”

Maior rali das Américas, o evento será disputado em esquema fechado e com o objetivo de revelar “tesouros turísticos” do país

A partir do próximo dia 30, carros, motos, quadriciclos e utilitários multitarefas (UTVs, na sigla em inglês) enfrentarão 5 000 quilômetros de terrenos traiçoeiros, passando por subidas de serras, rios, fazendas e algumas das mais deslumbrantes paisagens do país. A festa do Sertões chega a sua 28ª edição em formato adaptado para a nova realidade da pandemia de coronavírus. Inspirado na bem-sucedida experiência da NBA, cuja fase final foi realizada no complexo da Disney, na Flórida, o evento ocorrerá em “bolhas” espalhadas por cinco estados e pelo Distrito Federal, partindo de Mogi Guaçu (SP) e terminando nas dunas dos Lençóis Maranhenses. Por questões geográficas, a logística do evento se tornou mais complexa. Foi montada uma “estrutura militar”, com um rígido protocolo de segurança, e competidores e estafe serão constantemente testados e vigiados com pulseiras, sistema de GPS, chat via satélite e patrulha aérea.

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Todos os envolvidos terão de dormir na chamada Vila Sertões, acampando ou em motor homes. Em caso de acidentes, helicópteros chegarão ao local em até dez minutos e os competidores serão atendidos em uma estrutura hospitalar dentro da bolha, para não ter de recorrer a leitos da rede pública. O número de pessoas envolvidas, entre pilotos, mecânicos e organização, foi reduzido pela metade, de 2 000 para cerca de 1 000. Devido à necessidade de realizar testes, garantir a segurança, instalar chuveiros, cabines sanitárias e servir cerca de 5 000 refeições diárias — antes, os corredores permaneciam em hotéis —, os custos com o evento subiram. O surpreendente aumento de parceiros (são seis patrocinadores e quinze apoiadores), porém, aliviou as contas e evitou o cancelamento.

Antes da pandemia, a organização tinha em mente planos grandiosos para o evento, como terminar a competição em Jericoacoara (CE), realizar uma parada em uma aldeia indígena e incluir o Sertões no calendário do Mundial de Cross Country. A quarentena, porém, adiou a programação. “Tivemos de redesenhar todo o trajeto”, diz Edgar Fabre, diretor técnico da prova. “Tudo começa com um passeio virtual pelo Google Earth e depois fazemos diversas viagens para comprovar a viabilidade.” O Sertões jamais repetiu um percurso e pela primeira vez será disputado em novembro — o que deve incluir a chuva entre seus protagonistas. “Será mais difícil e emocionante”, diz Fabre.

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O evento, antes chamado de Rally dos Sertões, costuma atrair multidões de sertanejos. No entanto, para evitar aglomerações, serão montados cordões de isolamento e o nome da cidade-sede permanecerá oculto. Joaquim Monteiro, CEO do Sertões e que tem no currículo a organização da Olimpíada do Rio, afirma que a razão de ser do rali não é organizar uma competição esportiva, mas promover o Brasil. Ele lembra que locais como o Jalapão, em Tocantins, só se tornaram pontos turísticos depois de aparecerem em reportagens sobre o rali.

“Partimos do princípio de que o brasileiro não conhece bem o próprio país e nosso objetivo é provocá-lo a querer visitar o Pantanal ou a Chapada Diamantina”, diz o executivo. Em 2020, ele apresentará o que chamou de dois “tesouros turísticos”: o Lago de Serra da Mesa (GO) e a Chapada das Mesas (MA). Há ainda um relevante aspecto social: o evento instalou cabines de atendimentos médicos e psicológicos em rincões remotos de quinze estados e distribuirá 5 toneladas de cestas básicas no caminho. A meta é tornar o Sertões o maior rali do mundo — hoje só perde para o Dakar — a partir de 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil e que marcará a 30ª edição do evento, com um trajeto especial que atravessará todo o país, do Oiapoque ao Chuí. “Não queremos ser como o Rally Dakar”, diz Monteiro. “Nossa referência é o Tour de France de ciclismo, pelo que representa para a cultura do país.” Ele vai mesmo sacudir a poeira.

Publicado em VEJA de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710

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