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Primeiro clube vegano do Brasil garante acesso inédito

O Laguna sagrou-se campeão da segunda divisão potiguar ao bater o Univap por 3 a 2 de virada; saiba mais sobre o clube

O Laguna, o primeiro clube vegano das Américas, garantiu o título da segunda divisão do Campeonato Potiguar e a vaga na elite estadual de 2025. O acesso foi conquistado com uma vitória emocionante por 3 a 2 sobre o Univap, somada à derrota do QFC para o Alecrim por 1 a 0, no último domingo, 24.

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O “algodão-doce”, apelido carinhoso da equipe de Tibau do Sul, encerrou a competição do Rio Grande do Norte empatado com 19 pontos, empatado com Alecrim e QFC. O troféu, porém, foi assegurado pelo critério de confronto.

A campanha do Laguna foi impulsionada por contratações de peso, como o atacante Bill, ex-Corinthians e Santos, e o volante França, ex-Palmeiras. O centroavante, inclusive, marcou duas vezes na vitória decisiva.

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Clube vegano e inovador

Para o CEO do Laguna, Gustavo Nabinger, o título simboliza mais que uma conquista esportiva. “Esse é o reconhecimento de um projeto ousado e sustentável. Enfrentamos desafios fora de campo, mas mostramos que dentro das quatro linhas somos imbatíveis. Agora é hora de pensar nos próximos passos na primeira divisão”, afirmou.

O presidente Rafael Eschiavi também destacou o pioneirismo do clube em ideal vegano, ressaltando que o projeto começou em abril de 2022 com o objetivo de alcançar a elite do futebol nacional em 10 anos. “Este acesso é apenas o início. Vamos consolidar o Laguna como uma equipe vencedora na elite estadual e seguir avançando”.

Laguna comemorou título estadual - Henrique Holanda / Laguna SAF
Laguna comemorou título estadual – Henrique Holanda / Laguna SAF

Projeto e cardápio do Laguna

Reportagem de abril de 2023 de PLACAR mostrou em detalhes o projeto do primeiro time vegano do Brasil. O Laguna leva à risca o ideal de que é possível fazer futebol profissional – e em alto nível – sem o consumo de produtos animal, com sustentabilidade e jogando bonito.

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Não há nas seis refeições diárias oferecidas pelo clube absolutamente nada proveniente de animais. Itens como carnes, ovos ou derivados de leite são abolidos no dia a dia. A suplementação também vem toda de origem vegetal.

Os uniformes utilizados pelos atletas, confeccionados pela fornecedora Escudetto, são 100% poliéster e feitos de materiais inorgânicos – produzidos a partir de plástico e outros elementos sustentáveis. As aplicações, exceto o escudo do time, também possuem materiais sustentáveis.

O cardápio de um dia do Clube Laguna
O cardápio de um dia do Clube Laguna

O veganismo é uma filosofia de vida pautada na retirada gradual de todo tipo de alimento de origem animal da alimentação – diferente da dieta vegetariana, em que o adepto restringe o consumo de carne de origem animal.

Para fornecer alimentação vegana aos atletas, o Laguna buscou a parceria da Sociedade Vegetariana Brasileira, que possui um green team (um ‘time verde’, em tradução livre do inglês), com chefs de cozinha, nutricionistas e psicólogos. O cardápio dos atletas foi criado pelas chefs veganas Mirna Ribeiro e Cá Botelho, de grande renome no Brasil.

O cardápio varia durante a semana, mas costuma se basear em arroz, feijão ou lentilha ou grão de bico, massa, verdura, muitos legumes, carboidratos como batata, mandioca, algum tipo de proteína vegetal.

O clube oferece seis refeições diárias (café da manhã, vitamina com suplementação pós treino, almoço, lanche da tarde, janta e ceia) e faz acompanhamento nutricional individual nos atletas.

“Temos o papel de informar, acredito muito na informação, porque o veganismo é importante para o planeta. E a partir disso podem decidir melhor se querem ser onívoros, vegetarianos e veganos. Queremos levar informação e sabor para que as pessoas possam perceber que podem ter até uma alimentação melhor. Além disso, oferecemos uma qualidade superior de refeição a maioria dos clubes, até alguns de Série A, em termos de qualidade e valor nutricional”, explica o treinador.

A inspiração alemã

Por mais sugestivo que possa parecer, não é o Forest Green Rovers a principal inspiração para o surgimento do Laguna. É claro que há referência, “é um case de sucesso…”, afirma Gustavo Nabinger. O time inglês da cidade de Nailsworth é o primeiro vegano da história do futebol. A prática começou em 2011, quando o clube foi comprado por um empresário do ramo de energia eólica. Além da abolição de alimentos de origem animal, uma série de transformações sustentáveis ganharam espaço no clube, o que o fez ser reconhecido pela ONU e pela Fifa como o “o mais ambientalmente sustentável do mundo” e o único neutro em emissão de carbono.

“Mas se tem um time que eu me inspiro muito é o St. Pauli, da Alemanha. É um clube muito maior que o futebol e o entretenimento. Ele levanta a bandeira e representa muita coisa. Usa a força do esporte e da visibilidade que tem para reforçar posicionamentos”, revela o ex-jogador e sócio do Laguna.

St. Pauli luta contra o racismo ou qualquer tipo de discriminação
St. Pauli luta contra o racismo ou qualquer tipo de discriminação

O St. Pauli não é um clube vegano. Fundado na cidade de Hamburgo por operários do bairro que dá nome ao clube, a equipe também não é reconhecida pelos títulos expressivos, afinal, passou a maior parte da centenária história em um sobe e desce entre a terceira e a quarta divisão do futebol alemão.

O diferencial é justamente a postura, principalmente da torcida, frente às questões sociais, na luta contra o racismo, o fascismo, a xenofobia e a homofobia. Essa identidade é uma característica tão enraizada entre os adeptos, que não é raro ver bandeiras no estádio e ações do próprio clube contra qualquer tipo de discriminação.

Para ele, os times de futebol mais antigos quando surgiram, ainda no século XIX, eram mais integrados e atuantes na sociedade, mas ao longo dos anos foram perdendo essa característica para a lógica mercantil. O principal objetivo do jovem Laguna, enquanto clube e empresa, é ser um agente transformador e de impacto socioambiental para jogadores e comunidade. “A gente acha que o clube pode ter esse papel de se comunicar com a comunidade, representar a comunidade e de transformar a comunidade e o nordeste é um lugar muito propício para estar”, ressalta.

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