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PLACAR de junho em edição especial: os 40 anos da tragédia do Sarriá

Revista de colecionador homenageia a fascinante seleção brasileira da Copa de 1982 e recorda a dolorosa derrota para a Itália de Paolo Rossi

Edição de junho de 2022 de PLACAR: uma homenagem à seleção de 1982
Edição de junho de 2022 de PLACAR: uma homenagem à seleção de 1982

O advogado José Carlos Vilela, 50 anos, define com a maestria de um passe de calcanhar de Sócrates o que representou a derrota da seleção brasileira para a Itália na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. “É sinônimo de fracasso, sim, mas também de como devemos enfrentá-lo, de coração aberto e sinceridade”. Quem vivenciou a tragédia do Sarriá certamente se lembra de Vilela. Era ele o garoto de 10 anos que, com um choro da mais sincera tristeza, estampou a capa do Jornal da Tarde que entrou para a história. Quarenta anos depois, o torcedor-símbolo daquele esquadrão é um dos destaques da edição especial de PLACAR que recorda e homenageia a equipe dirigida por Telê Santana, com craques como Zico e Falcão, sinônimo de futebol arte. A revista digital de junho já está disponível em dispositivos iOS e Android, e em breve chegará em sua versão física às bancas de todo o país.

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O cartunista gaúcho Oberdan Machado é autor do desenho de capa, que repetiu a chamada da edição original da PLACAR de 1982 “Que pena, Brasil”. Nesta edição especialíssima, de colecionador, repassamos toda a campanha, desde a conturbada preparação até a derradeira derrota em Barcelona, com gols do carrasco Paolo Rossi, sempre com belíssimas imagens de nossos arquivos.

Além do emocionante depoimento de José Carlos Vilela, que relembrou a viagem em família naquele verão europeu, a PLACAR de junho traz uma novidade: um capítulo do livro 1982 Brazil – The Glorious Failure, do jornalista e historiador inglês Stuart Horsfield. Ele também tinha apenas dez anos na época, mas a tristeza infantil não o impediu de alimentar o fascínio pela Seleção de Telê.

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O advogado José Carlos Vilela Júnior, hoje com 50 anos,
Antes e depois: a capa histórica e o advogado José Carlos Vilela Júnior, hoje com 50 anos

Sócrates, o capitão daquela seleção, é destaque. Em 1982, a pedido de PLACAR, o Doutor escreveu um diário da Copa, com o cotidiano
do que via e sentia nos gramados espanhóis e nos bastidores da concentração. A derradeira anotação não foi como ele imaginava, mas pouco importa…

Juca Kfouri, diretor de redação de PLACAR na época, foi quem teve a ideia de chamar Sócrates para escrever o diário. O craque anotava à mão e depois de cada partida entregava as folhas de papel pautado cuidadosamente anotadas. Diz Kfouri, olhando para quatro décadas atrás: “Foi o trabalho mais fácil de minha vida — como datilógrafo”. O texto de Sócrates têm inestimável valor histórico, e foi reproduzido na íntegra nesta edição.

O diário de Sócrates
O diário de Sócrates, escrito especialmente para PLACAR, há 40 anos

A edição termina com um pôster da equipe formada por Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, Éder e Serginho, além de belas imagens da demolição do Sarriá, em 1997, e do choro dos italianos com a morte de Rossi, autor dos três gols diante do Brasil e herói do tetra. Confira, abaixo, a carta ao leitor:

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Aqueles dias de inverno

Houve 1950, o 2 a 1 para o Uruguai transformado no Maracanazo e no trauma de uma geração. Pelé, que tinha apenas dez anos, conta ter ficado chocado com o choro do pai, para então prometer que um dia ganharia uma Copa do Mundo para o Brasil. Houve 2014, a historia repetida como farsa, o 7 a 1 para a Alemanha no Mineirão, e que só não ficou tão tristemente carimbada talvez porque tenha soado inverossímil, mais afeito a risos nervosos do que lágrimas. As duas maiores derrotas brasileiras nas Copas realizadas em casa são marcos indeléveis — da primeira se pode dizer que serviu de atalho para a reconstrução que culminaria com o título de 1958, e o fim do complexo de vira-lata a que se referia Nelson Rodrigues. Depois da segunda, e foi outro dia mesmo, não há lição que possa ser extraída. Uma outra decepção deveria estar sempre na ribalta — a de 1982, aquele 3 a 2 contra a Itália, no Sarriá, que completa agora 40 anos.

Não foi numa final, como em 1950, nem tampouco numa semifinal, como em 2014, mas deixou um travo amargo. Virou hábito dizer que o fracasso daquele equipe de Telê Santana, com Sócrates, Zico, Falcão, Júnior e cia., marcou o fim do entusiasmo com o chamado futebol-arte, peça inaugural para um estilo mais fechado, calculista e retranqueiro. O distanciamento autoriza, hoje, a pensar de modo diferente: nunca fomos tão felizes, apesar da dor. Aquele grupo não ergueu a taça, mas não seria exagero dizer que tem relevância equivalente — ou mesmo maior — aos que em 1994 e 2002 voltaram com festa em cima do caminhão do corpo de bombeiros. Um modo de medir a força daquele escrete, gloriosamente vencido, é perceber como ele ainda emociona — e por isso merece uma edição inteira e histórica.

Quando a redação de PLACAR começou a imaginá-la, uma das ideias foi buscar textos de jornalistas de fora do Brasil, de modo a entendermos como repercute a canarinho que disputou o Mundial na Espanha. O inglês Stuart Horsfield, autor do livro 1982 Brazil: The Glorious Failure, atendeu com raro interesse o convite para ceder um dos capítulos de seu trabalho. “Marcou minha infância, será uma honra estar na páginas de PLACAR”, disse por telefone, minutos depois de receber uma mensagem. Horsfield ficou tão animado que pediu a uma colega, a ilustradora Julie Barber, um desenho que ajudasse a iluminar suas tristes impressões daqueles dias, como se vê na abertura da reportagem da pág. 55.

Entusiasmo igual foi o que demonstrou o cartunista gaúcho Oberdan Machado, autor do desenho de capa, que não por acaso recebeu a mesmíssima chamada edição de PLACAR publicada logo depois da eliminação, em 1982 “Que pena, Brasil”. Que aqueles dias de verão europeu, inverno no Brasil, sejam eternizados. Ou, como diz o advogado José Carlos Vilela, o menino em prantos da icônica capa do Jornal da Tarde, ao rever a si mesmo na infância: “É sinônimo de fracasso, sim, mas também de como devemos enfrentá-lo, de coração aberto e sinceridade”.

O ilustrador Oberdan (acima, em autorretrato), e os ingleses Julie Barber e Stuart Horsfield: entusiasmo

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