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Opinião: a hipocrisia do Santos virou imoralidade

Clube criticou o árbitro Leandro Pedro Vuaden por ter recuado na marcação de um pênalti contra o Flamengo

O Santos enviou um ofício para a Confederação Brasileira de Futebol contestando o incontestável. O clube argumenta que a decisão do árbitro Leandro Pedro Vuaden de recuar na marcação de um pênalti a favor da equipe no jogo com o Flamengo influenciou diretamente em sua desclassificação na Copa do Brasil. E mais: culpou o repórter Eric Faria, da TV Globo, de utilizar o replay da televisão para informar ao quarto árbitro Flávio Rodrigues de Souza que a falta não aconteceu. A “atuação desonesta de Faria estaria comprovada”, de acordo com o documento, “no vídeo da partida e em fotografias tiradas por outros veículos de imprensa”.

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Hipocrisia travestida de irregularidade. Vuaden errou ao apontar para a marca de pênalti. Ao consultar o auxiliar, o juiz teve a (rara) coragem para reconhecer a falha e cancelar a decisão. As ferrenhas reclamações dos jogadores santistas no calor da partida são aceitáveis. Os protestos do técnico Levir Culpi na entrevista pós o jogo também. Agora, pressupor que a acertada decisão ocorreu por influências externas ilegais e colocar a culpa da desclassificação em algo que não está comprovado, nem no ofício, transforma a decisão de recorrer à CBF em imoral.

Lembremos: o jogo estava empatado em 1 a 1 e o relógio marcava 40 minutos do primeiro tempo quando o árbitro assinalou o pênalti. Os cariocas só perderiam a vaga em caso de derrota por três gols de diferença (já que venceu o jogo de ida por 2 a 0 e havia marcado um gol fora de casa, critério de desempate na Copa do Brasil). Não existe garantia de que o Santos converteria a penalidade. Tampouco que conquistasse a classificação para as semifinais.

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A França conseguiu sua vaga para a Copa do Mundo de 2010 com um gol ilegal. O atacante Thierry Henry ajeitou a bola com a mão antes de tocar para o zagueiro William Gallas fazer o gol da classificação. Apesar de tentar a invalidação da partida, a Irlanda teve que se contentar com o erro e a eliminação.

Agora, vamos imaginar que o lance fosse anulado momentos depois porque algum membro da equipe de arbitragem avisou ao árbitro do toque de mão. Neste mesmo cenário, suponhamos que a Federação Francesa de Futebol fizesse uma reclamação formal à Fifa questionando o erro. Percebeu? O Santos tenta fazer exatamente isso. Justificar sua tese em cima de um lance ilegal, irregular, e que não beneficiou o Flamengo. Pelo contrário, o Rubro-Negro teria sido prejudicado se o pênalti inexistente fosse assinalado.

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A controvérsia das Eliminatórias Europeias em 2009 ajudou a esquentar ainda mais o debate sobre o fair play e pelo uso do árbitro de vídeo no futebol. Duas consequências que só buscam elevar o nível do esporte. De lá para cá, a Fifa fez ações em prol da honestidade dentro das quatro linhas e testou a tecnologia nos dois últimos torneios relevantes que organizou: o Mundial de Clubes em dezembro do ano passado e a Copa das Confederações deste ano.

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A não marcação do pênalti não eliminou o Santos e o ofício só serviu para manchar a imagem de seus dirigentes. Os pedidos de anulação da partida, proibição de repórteres ao lado do campo para que não se comuniquem com a arbitragem, punição da equipe de arbitragem e descredenciamento de Eric Faria não condizem com a grandeza do time tricampeão da Copa Libertadores. É só mais uma prova de que o que interessa no futebol brasileiro é o bem próprio. Mesmo que seja baseada na hipocrisia e na imoralidade.

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