No reinado de Messi, Barcelona domina a Europa e assombra os rivais
De Paris a Roma, de Londres a Berlim: com seu quarto título continental em uma década, catalães exaltam o triunfo da dinastia liderada pelo maior jogador de seu tempo










De seu gabinete na capital da Alemanha, Adolf Hitler inaugurou uma era de terror que buscava, através da força bruta, dominar toda a Europa. Chegou a subjugar boa parte do continente, mas sucumbiu graças às próprias ambições desmedidas. Passados setenta anos da derrota dos delírios genocidas do monstro nazista, Berlim assisiu, no sábado, no Estádio Olímpico, à consagração de outra força hegemônica – essa, no entanto, fundamentada em valores e ideias muito mais virtuosas. Os europeus se curvaram à arte e ao espetáculo do futebol do Barcelona, outra vez vencedor da Liga dos Campeões, graças ao suado triunfo sobre a Juventus, 3 a 1, numa empolgante final. “É difícil até dar conta do que temos feito. Com o passar do tempo, acho que isso tudo será ainda mais valorizado. Não há palavras para descrever o que conseguimos aqui”, afirmou Andrés Iniesta, eleito o melhor da decisão e um dos arquitetos dessa destruição sistemática dos oponentes iniciada há pouco menos de uma década.
Desde 2006, o Barça ergueu nada menos que quatr troféus da mais difícil competição de clubes do planeta, uma façanha espantosa diante de uma concorrência tão dura. Nos anos 1950, o Real Madrid foi pentacampeão europeu de forma consecutiva, mas numa época e num torneio muito diferentes, em que só os campeões nacionais entravam no páreo e pouquíssimos tinham aspirações ao título. Até a final de Paris, nove anos atrás, o clube catalão sofria com seu currículo modesto na competição (só uma taça, em 1992) e com a coleção invejável de troféus europeus do arquirrival. Esse complexo de inferioridade, evidentemente, ficou no passado. “É um orgulho fazer parte deste clube e desta equipe”, disse Iniesta, formado no próprio Barça e um dos fios condutores dessa trajetória de sucesso. “Levantar essa taça é algo brutal e espetacular. Não poderia pedir mais”, disse Xavi, outro pilar da equipe. Em Berlim, o veterano capitão se despediu do clube que defendeu durante dezessete anos totalizando a fabulosa marca de 25 títulos conquistados.
Soberania – Além de Iniesta e Xavi, outro mito barcelonista esteve presente nas conquistas de Paris, Roma, Londres e Berlim. Na primeira, aos 18 anos, Lionel Messi, que na época ainda era apenas um novato promissor, chorou como criança nos vestiários do Stade de France por não ter conseguido participar da partida contra o Arsenal por pelo menos alguns minutos. Em 2009, já como estrela máxima da equipe, foi o melhor em campo no triunfo sobre o Manchester United na capital italiana – assim como na final de dois anos depois, contra o mesmo oponente, na Inglaterra. Ao aparecer diante dos jornalistas para receber o prêmio de craque da decisão em Wembley-2011, o supercraque argentino, com suas respostas quase monossilábicas, seu corte de cabelo de coroinha e um certo ar de indiferença, ainda parecia um gênio em formação. No sábado, ele subiu ao gramado do Estádio Olímpico como astro soberano da noite – ainda que, desta vez, não tenha sido o protagonista principal das jogadas decisivas da partida (lembre-se, porém, que foi dele o chute rebatido por Buffon no segundo gol, de Suárez).
Depois de balançar as redes em Roma e Londres, Messi passou em branco em Berlim, adiando a quebra de mais um recorde (nenhum jogador marcou em três finais de Liga dos Campeões). Sua influência sobre os desdobramentos do jogo, entretanto, acabou sendo profunda: foi, por exemplo, o principal passador da final, com 69 toques, 87% acertados. Também ditou o ritmo de sua equipe, acelerando ou segurando o jogo, tarefas que costumam ficar a cargo de Iniesta, Xavi ou Ivan Rakitic. Mais expressivo e menos blasé que nos primeiros anos de seu reinado, o melhor jogador do mundo – agora com braços tatuados, penteado menos antiquado e um jeitão mais seguro de si – passou a ser também um líder da equipe, não apenas sua grande referência técnica e criativa. No caminho até o título, o Barcelona derrubou os clubes que garantiram vaga como campeões das outras quatro grandes ligas europeias: Manchester City (Inglaterra), PSG (França), Bayern (Alemanha) e a italiana Juventus. Com a autoridade de quem comandou essa campanha incontestável, Messi levou o filho Thiago ao vestiário para posar para uma foto ao lado do icônico troféu da Liga dos Campeões. Ao que tudo indica, não será o último retrato desse tipo no álbum da família.