Neymar: um garoto-propaganda problemático
Em 2020, o brasileiro deixou a Nike e fechou com um novo fornecedor de equipamentos esportivos; jogador afirma que não sabia da denúncia
As notícias ruins envolvendo Neymar não param de aparecer. Na noite de quinta-feira, 27, o jornal americano The Wall Street Journal (WSJ) noticiou que o rompimento de contrato de patrocínio com a Nike foi provocado por uma denúncia de assédio sexual feita por uma funcionária da empresa em 2018. O brasileiro não teria colaborado com as investigações e a postura desagradou a fornecedora de material esportivo, que decidiu encerrar o vínculo. O estafe do atacante nega as acusações. O ex-empresário do atleta, Wagner Ribeiro, disse se tratar de uma “invenção” da empresa. O dano de mais um escândalo na carreira do atleta pode deixar marcas irreversíveis.
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O caso veio à tona depois de uma investigação do WSJ, que teve acesso a depoimentos de funcionários e documentos sobre o processo interno. O suposto abuso sexual aconteceu em 2016. A mulher envolvida reportaria o incidente dois anos depois. Com zelo, a empresa contratou uma agência de advocacia externa para conduzir a investigação e tratou de oferecer total apoio e anonimato à denunciante. Fez o que deveria ser feito. A partir de 2019, a Nike deixou de estampar a imagem do jogador em suas ações de marketing por causa do escândalo, de acordo com os documentos obtidos pelo jornal. Em 2020, as duas partes interromperam um vínculo que começou quando Neymar tinha apenas 13 anos de idade. “A Nike encerrou seu relacionamento com o atleta porque ele se recusou a cooperar na investigação sobre as alegações críveis de irregularidades cometidas contra uma funcionária”, explicou a conselheira geral da fornecedora de material esportivo Hilary Krane ao periódico americano.
A reação do grupo que acompanha Neymar foi rápida, mas um pouco atrapalhada. O pai do jogador, responsável em última instância pelos passos do filho quando deixa os gramados, parece não saber lidar com as sucessivas acusações que insistem em cercar a rotina do atacante do PSG e da seleção. Em entrevista a PLACAR, ao rechaçar a denúncia de assédio sexual, disse que a rixa com a empresa teve início com as reclamações do atleta sobre a chuteira da fornecedora americana, que supostamente causariam lesões. E mais, nas palavras de Neymar pai: “Se você ficar sem receber você continua na sua empresa, meu amigo? Quando a Nike não honrou os pagamentos que estavam em atraso alegando um monte de situação a gente rompeu. Simples assim”.
Em coro, o ex-empresário e amigo da família Wagner Ribeiro disse ter estranhado o fato de um caso dessa magnitude ter acontecido há cinco anos e só ter vindo à tona agora. Alegou ainda ser uma forma dos executivos da empresa darem uma desculpa por ter perdido o camisa 10 da seleção brasileira para a Puma, forte concorrente da Nike no mercado de material esportivo. “Vazar esta história com o papo de ‘conduta inadequada’ é uma forma dos executivos da empresa encobrirem a falta de habilidade deles mesmos ao perderem o Neymar, justificando de uma forma que o acionista não pode mandar o executivo embora pela cagada que fez”, disse, um tanto fora de tom.
Wagner Ribeiro recebeu as notícias sobre o suposto assédio em companhia do pai de Neymar, em Mangaratiba, no litoral do Rio de Janeiro. O empresário afirma que eles estão “perplexos” com a situação e que haverá uma “briga” entre a Nike e a NR Sports, empresa fundada pelos pais do jogador para cuidar de sua imagem. Os advogados de Neymar estão estudando mover uma ação contra a fornecedora de materiais esportivos americana.
Nesta sexta-feira, 28, Neymar também se pronunciou pelo Instagram. Afirmou ter sido traído pela empresa e que nunca teve conhecimento da acusação. Disse que os fatos podem ser distorcidos porque as pessoas enxergam de ângulos diferentes e que não entende como uma empresa séria pode distorcer uma relação comercial apoiada em documentos. “Ironia do destino, continuarei a estampar no meu peito uma marca que me traiu. Essa é a vida”, lamentou em relação à tatuagem que tem com o logo da Nike.
Descobre-se, agora, depois da reportagem do WSJ, que havia algo fora do comum nos bastidores em torno da quebra de contato, em 2020. Houve espanto, porque Neymar, apesar das renitentes confusões, era nome de relevância, um garoto-propaganda de respeito. Em seguida, ele assinou com uma outra marca, a Puma. A PLACAR, a assessoria da Puma deixou claro, ao comentar a denúncia de agora, que não tinha nenhuma informação sobre essa história antes da negociação.
Em conversa com PLACAR, em fevereiro deste ano, o diretor global de marca e marketing da Puma, Adam Patrick, revelou que a empresa fora contatada pelo jogador. “Ele nos procurou e disse que estava interessado na parceria. O primeiro pensamento que tivemos em trabalhar com Neymar foi como o usaríamos e o que faríamos com ele. Sob a perspectiva da marca, pensamos em usar sua voz, sua imagem além do futebol. As negociações envolveram a discussão em como envolvê-lo para representar a marca amplamente. É importante para ele e para a gente”. O que a Puma não tinha como saber, porque corria em sigilo, eram as reais motivações da saída da concorrente.
E agora, como reduzir os evidentes danos para a carreira de Neymar? Renê Salviano, diretor comercial, de marketing e de novos negócios do Cruzeiro entre fevereiro de 2018 a fevereiro de 2021, e dono da agência de marketing esportivo Heatmap, comparou a situação de Neymar com a do clube mineiro em sua última gestão, resultando em péssima fase no gramado e na administração financeira. “Como captar um patrocinador com o clube nas páginas policiais?”, indagou. Para Salviano, a única saída, sempre, é a transparência. “Os patrocinadores pensam no reconhecimento de marca e na conversão de negócios. Os jogadores e as instituições têm que entender que eles precisam devolver à sociedade tudo o que tem de força midiática. Ou seja, são exemplos. A instituição, ou o atleta, deve ser exemplo em ações. Não cabe mais assédio, ou coisas assim. É uma exigência das marcas que têm aumentado muito nos últimos três anos”.
Tudo somado, os Neymares, filho e pai, continuam a alimentar uma vida que, a depender da veracidade das acusações, e elas ainda pedem rigorosa investigação, fazem mal à imagem do craque e criam armadilhas para quem os paga, imaginando ter em mãos um divulgador de luxo. Não é bem assim quando os juízes apitam o fim de jogo e o atacante vive a vida que bem entende, com recorrentes tropeções que culminam em passagens por delegacias e cartórios – em 2019, a Polícia Militar foi até a concentração da seleção, que treinava para a Copa América, de modo a buscar o atacante para prestar depoimentos depois de uma acusação de cunho sexual, situação inédita na história do escrete canarinho.
Contratado pelo Paris Saint-Germain como o jogador mais caro do mundo em 2017 por 220 milhões de euros, o camisa 10 da seleção brasileira volta a passar pela experiência de uma grave acusação às vésperas de uma Copa América. No começo da tarde da quinta-feira, 27, ele desembarcou de helicóptero na Granja Comary, em Teresópolis. Levava seus pertences e uma denúncia que o diminui, uma vez mais, e só provoca desconforto para quem trata o futebol como negócio e entretenimento.