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Laor vence depressão, mas não cura mágoa: ‘Me senti traído por Neymar’

Recuperado de problemas de saúde, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro relembra a ‘sujeira’ que viu no futebol entre 2009 e 2012, época em que presidiu o Santos

“Me decepcionei muito. Foi um ato de absoluta deslealdade, além de ser ilegal, porque a Fifa não permite aliciamento de jogador, com o agravante de que o Santos jogaria contra o próprio Barcelona no Japão”, relembra, sobre acordo de Neymar com o clube catalão em 2011

Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, recuperou o sorriso fácil que se acostumou a exibir durante seu mandato na presidência do Santos. Bem mais magro e prestes a lançar uma biografia, o ex-dirigente de 72 anos superou uma série de problemas de saúde que por pouco não lhe tiraram a vida. Entre 2009 e 2012, período em que esteve na presidência, Laor comemorou seis títulos, incluindo a Copa Libertadores de 2011, vencida no Pacaembu em um dia definido por ele como o mais feliz de sua vida. No entanto, a condição de cartola – uma novidade para um executivo com passagens pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda -, cobrou um preço alto: várias internações e uma profunda depressão o obrigaram a se afastar da presidência de seu clube do coração e por pouco não o derrubaram, inclusive financeiramente. Durante sua caminhada, Laor conviveu como poucos com uma dupla que lhe deu tantas alegrias quanto dores de cabeça: o craque Neymar Jr. e seu pai e agente, Neymar da Silva Santos. Rompido com a dupla há mais de um ano, o ex-dirigente enumera os motivos de sua decepção e diz ter sido traído.

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No início do ano, Laor foi condenado a pagar 20.000 reais de indenização por danos morais ao pai de Neymar, graças a uma acalorada entrevista (na qual não sabia que estava sendo gravado). Desta vez, o ex-dirigente evitou “adjetivar” o empresário, mas não escondeu sua decepção. A principal mágoa de Luis Álvaro se refere a um adiantamento de 10 milhões de euros pagos pelo Barcelona à N&N, empresa da família de Neymar, como garantia de que o atacante reforçaria a equipe catalã no futuro. Sem o consentimento do Santos, o acordo foi fechado em novembro de 2011, um mês antes de a equipe brasileira ser derrotada pelo próprio Barcelona, por 4 a 0, na final do Mundial de Clubes, em Yokohama. Laor só teve conhecimento do fato por meio da imprensa. Na ocasião, ele se recuperava de um quadro agudo de depressão. “Me decepcionei muito. Foi um ato de absoluta deslealdade, além de ser ilegal, porque a Fifa não permite aliciamento de jogador, com o agravante de que o Santos jogaria contra o próprio Barcelona no Japão. Imagina com que cabeça o jogador entraria em campo?”

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Laor não acredita que o pai possa ter assinado o compromisso com o Barcelona sem avisar o filho. “É evidente que o Neymarzinho sabia, porque ele sempre conversava com o pai sobre todas as negociações.” Laor, que diz que manteve relação “quase fraterna” com a família de Neymar ao longo de três anos, contou que o pai do atleta mentiu diversas vezes. “O que mais me chateou foi que, ao longo de todo o ano de 2012, diante das notícias que saiam na imprensa, eu perguntei ao pai do Neymar se ele já tinha algo acertado com outro clube, e ele desmentiu tudo com uma tranquilidade digna de um monge beneditino. Ele fez isso comigo e com o Odílio (Rodrigues, então seu vice) várias vezes. E eu tenho uma qualidade para muitos e um defeito para outros que é a boa fé, eu acredito na palavra das pessoas.”

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Laor relembra que foi um dos responsáveis por bolar o plano de carreira que propiciou a permanência de Neymar no Santos quando equipes como Chelsea, Real Madrid e o próprio Barcelona o assediavam. “Me senti traído, porque eu fiz tudo por esse moleque, dava tudo o que ele queria, fizemos um plano de carreira, ele ganhou mais no Santos do que o Cristiano Ronaldo no Real Madrid.” Na ocasião, Laor conseguiu o apoio de diversos patrocinadores e pediu ajuda até a Pelé para conseguir convencer o jovem a adiar sua ida à Europa. Neymar deixou o clube paulista em junho de 2013, depois de conversar pessoalmente com Laor.

Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, ex-presidente do Santos
Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, ex-presidente do Santos VEJA

“Eu via que ele não estava mais feliz. Perguntei a ele se ele queria realmente ir e ele me disse que sim. Então disse que faria tudo para ajudá-lo e ainda perguntei se ele tinha preferência por algum clube. Ele disse que preferia o Barcelona, mas eu nem imaginava que eles já estavam acertados.” Sem querer entrar nas questões judiciais que estão sendo investigadas no Brasil e na Espanha, Laor acredita, porém, que a venda de Neymar acabou sendo satisfatória para o Santos. “O Santos recebeu 17 milhões de euros e se esperasse mais seis meses não receberia nada, pois acabaria o vínculo. É claro que ele vale muito mais, mas dentro das possibilidades, acho que foi um bom negócio”. Oficialmente, o Barcelona afirmou ter pagado cerca de 57 milhões de euros pelo craque. No entanto, meses depois, o clube catalão admitiu ter gastado um valor bem maior, perto dos 100 milhões de euros, em um escândalo que derrubou o então presidente do Barça, Sandro Rosell, e está sendo investigado nos dois países envolvidos. Laor diz não ter participado das negociações. “Estava afastado, com a saúde muito debilitada, apenas assinei os papeis deitado em uma cama”.

Laor nega qualquer intenção de voltar a trabalhar com futebol e considera que o ambiente nebuloso e estressante do meio contribuiu diretamente em seus problemas de saúde. “Fui testemunha de muita sujeira no futebol. Quando eu assumi, fui examinar a base do Santos e vi que 70% dos direitos econômicos dos jogadores eram dos atletas ou de seus empresários e 30% do clube e eu não aceitei isso. Quem lapida o garoto e o coloca na vitrine é o clube, então ele tem que ser majoritário. Uma vez, nos interessamos por um jogador chileno e o empresário veio tratar conosco. Acertamos salários, luvas, etc, mas aí o empresário falou: ‘E a minha comissão?’ Por que eu teria que pagar comissão a empresário? Eu convivi com muita mentira e hipocrisia.”

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Laor evitou julgamentos contra o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, que cumpre pena de prisão domiciliar em Nova York acusado de corrupção, e seu sucessor Marco Polo Del Nero, que vem sendo investigado pelo FBI e pela Justiça brasileira. “Quando estive no Santos tivemos algum contato e os dois sempre foram muito cordiais”, limitou-se a dizer. Já ao ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez, Laor não poupou críticas e novamente Neymar estava envolvido. “O Andrés Sanchez, que se proclamava meu amigo e vivia dizendo que o cara perigoso no meio do futebol era o Juvenal Juvêncio, publicou depois no livro dele que assediou o Neymar com 120 milhões de reais para tirá-lo do Santos e não me falou nada. Mas eu já suspeitava. Uma vez na premiação do Paulistão, estavam numa mesa o Wágner Ribeiro (empresário do Neymar), Neymar pai, o Neymarzinho e o Andrés. Eu vi aquilo, levantei e fui direto pra mesa do Corinthians, marcação homem a homem. (risos) Não houve nada naquele dia, mas depois houve.”

Apesar da decepção com uma série de ex-colegas do futebol e de passar por dificuldades financeiras – Laor se autodefine o único dirigente que deixou o futebol mais pobre do que entrou – ele se diz renovado e motivado a contar as principais passagens de sua vida. Sua biografia Laor – Paixão e Ousadia será finalizada nos próximos dias e lançada no ano que vem, por meio de um financiamento coletivo (crowdfunding). A obra pode ser adquirida no site da Bookstart, em pacotes que incluem até um café da manhã com o ex-presidente do Santos. Antes do lançamento, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro será um dos convidados do programa Papo de Esporte, de TVEJA, no mês de dezembro.

Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, ex-presidente do Santos
Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, ex-presidente do Santos VEJA
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