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Johan Cryuff, o legado de uma lenda do futebol

Confira 93 conceitos inspiradores do maior craque holandês da história

O magistral craque e técnico se solidificaram com o homem, para moldar um estilo de jogo e de vida que merece ser observado. Noventa e três ‘princípios’ garimpados em suas memórias demonstram por que o número 14 mais famoso da história foi, e sempre será, tão admirado e lembrado.

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“Quero ser lembrado como um bom jogador. . .”, disse certa vez Johan Cruyff. Modesto, obviamente será lembrado como um bom jogador, possivelmente o melhor que a Europa já mostrou ao mundo em toda a sua história. Mas esse meia-atacante que em 25 de abril, completaria 69 anos, será lembrado muito além de seu desejo mínimo, porque foi um grande personagem, daqueles que alcançam dimensão máxima, em todos os papéis que se predispôs a exercer. Iremos lembrá-lo também como grande técnico, um autêntico ‘professor’, homem digno, bom companheiro, construtor de uma família tão boa quanto sua imagem, firme, reto, lutador, exemplo para todos.

Cruyff fez de seu estilo de jogo um modo de vida, através do qual ele mesmo afirmara, sem se propor a nada em particular, apenas sendo como Deus e a infância em seu lar, na Holanda, o moldaram. Não é fácil para nós, latinos dispersos, amantes do talento, pois aqui ele surge como água de manancial, sem necessidade de perfurações e grandes esforços, entendermos – pior, copiarmos – alguém criado numa sociedade protestante, de moral luterana, ética calvinista, com uma história tão distante da nossa, num país pequeno que foi colonizador e não colonizado, que levou isso tudo ao futebol. Cruyff não nasceu dotado como Pelé, mas foi o europeu que mais se aproximou Dele. Ele soube se edificar para ser a ‘lenda’ que foi.

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Johan Cruyff que jogava com o número 14 porque não queria cair em nenhum modelo tradicional e porque,talvez, inconscientemente, ele soubesse que uma vez que não era o 10 que todos imaginavam, somou a ele mais quatro, pois, quem sabe, enxergava aqueles que se vestiam com aquele número, sempre defensivos como que por um sacrifício, pouco reconhecidos, que ele queria homenageá-los e também imitá-los. Como faria isso? Se esforçando, trabalhando para a equipe, ocupando esporadicamente sua posição, se juntando a eles que lá atrás, tanto fazem, assim como aqueles que convertem o gol do time, mas não recebem os devidos aplausos.

Declarou que seu ídolo era Dom Alfredo Di Stéfano, o sul-americano mais europeu, no modo de jogar, que o mundo já viu. Atuando pelo Real Madrid, Di Stéfano encantou a todos, pois se sacrificava muito mais do que os próprios espanhóis, que já eram puro sacrifício, e resolvia com pitadas típicas dos craques sul-americanos. 

Cruyff jogava como ele, uma década depois, e com companheiros, bem menos badalados que os madrilenos, que o ajudavam a pensar mais no time do que neles próprios. E, fundamentalmente, o treinador de Cruyff, o também holandês Rinus Michels, pensava igual a ele, tanto que o ajudou a ser quase perfeito como foi. Não haveria existido o Cruyff que conhecemos se ele não tivesse encontrado em seu caminho Michels. Juntos criaram uma ideia de que na equipe holandesa do Ajax, principalmente, na seleção de seu país, ‘a Laranja Mecânica’, e depois no Barcelona, deu certo, e que passou a ser conhecido como ‘futebol total’. A partir daí, já sozinho, Johan Cruyff transformou essa ideia-sucesso em filosofia. De jogo e de vida. Misturou com maestria única, ambas as coisas.

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O mais magistral ainda foi que ele praticou essa filosofia, como jogador, a ensinou como treinador e a deixou como grande legado para todos nós, amantes orgulhosos do futebol e um pouco envergonhados de sermos, deste lado do mundo, tão diferentes de quem se criou sem jeitinhos e aprendeu a fazer tudo direito desde o leite materno. É interessante observar que Cruyff nunca se sentiu o Deus que o mundo do futebol, muitas vezes, o batizou. Tanto que até na sua morte, relativamente prematura, quis demonstrar que era humano como todos e vulnerável como qualquer um: ele morreu por conta dos quase dois maços de cigarro que fumava diariamente, durante boa parte de sua vida, algo aparentemente muito contraditório pelo fato de ser tão disciplinado e cheio de regras. Mas, não, sua preocupação com as regras férreas se concentrava na intenção de, sempre, trabalhar em equipe e gerar boa convivência social para todos. Com ele mesmo se permitia alguma despreocupação, certa indisciplina, ao fumar, ainda que soubesse os danos provocados. Entender essa aparente contradição é entender Johan Cruyff, que, ao inverso de Di Stéfano, foi o mais sul-americano de todos os europeus.

Dentro de campo, melhor que Cruyff, apenas Pelé. Quiçá Maradona, mas não podemos esquecer que ele era argentino e Cruyff, holandês. Até a mídia era útil para um e inútil para outro. A confabulação dos inconscientes sempre criou para Maradona certo caldo de cultivo favorável, enquanto esquecia, como ainda o faz – em menor medida – alguém dos Países Baixos. Não teve a sorte de ser campeão mundial e dificilmente haveria curtido esse momento se para tal consagração um juiz tunisiano houvesse convalidado um gol com a mão*. 

Na Europa quem mais se aproximou dele foi o húngaro Ferenc Puskas, mas o estilo de Puskas estava entre o de Maradona e Messi, e sua época não aceitava o que depois Cruyff impôs, era outro futebol, que Di Stéfano começara a quebrar. Na Oceania, Ásia, África e nas Américas Central e Norte, nada parecido. E aqui, na América do Sul, assim, como ele, também não. À sua altura futebolística, alguns poucos, mas expressados de outro modo. Portanto, só Pelé foi superior a ele. Pelé não precisa ser explicado. E Cruyff sabia disso.

Agora, fora de campo nenhum outro craque alcançou sua dimensão. Nem Di Stéfano (que treinando o Real Madrid e clubes argentinos como Boca e River alcançou títulos e glórias), porque, como técnico, ele era pouco professoral e sua linha austera o tornava dependente dos jogadores. Cruyff não, pelo contrário, fazia que os jogadores se tornassem dependentes de seu esquema, de sua genialidade. Já Pelé, não foi técnico, Puskas foi, mas sem consistência suficiente, não teve grande expressão. Quanto a Maradona, nessa função não pode ser levado a sério, tão irrelevante, como Cruyff, admirável. Quanto a Messi, teremos que esperar o que o futuro dirá quando chegar o dia em que ele deixe de converter seus gols, tão repetidos quanto surpreendentes. Cristiano Ronaldo não entra nesse seleto grupo como também não entra nenhum outro brasileiro, uruguaio ou argentino. Apenas Zico talvez nos obrigue a parar para pensar um pouco. Certamente ele é o nosso craque que mais próximo, ainda que longe, está de Cruyff.

O certo é que o holandês que queria ser lembrado como um bom jogador será lembrado por um legado muito superior ao saber o que fazer com a bola dentro de campo, de acordo com uma filosofia que merece ser reproduzida.

*Em partida válida pelas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, no dia 22 de junho, o árbitro tunisiano Ali Bennaceur validou o primeiro gol de Maradona, feito com a mão, ‘La Mano de Dios’, na vitória argentina por 2 a 1 frente à Inglaterra.

93 CONCEITOS ‘CRUYFFIANOS’ QUE PODEM NOS AJUDAR A ENTENDER MAIS O FUTEBOL E INTERPRETAR MELHOR SUA ANALOGIA COM A VIDA. COM VOCÊS, O MESTRE JOHAN:

1. Antes de errar prefiro não cometer esse erro.2. Técnica não é fazer 100 embaixadinhas. Técnica é passar a bola com um toque, na velocidade correta e no pé certo do seu companheiro.3. Muitos treinadores falam de movimento, de correr muito. Eu falo que não é necessário correr tanto. O futebol é um esporte que se joga com o cérebro. Há que estar no lugar certo no momento certo. Nem muito antes nem tarde demais.4. Se você anota um gol a mais do que o rival, você vence.5. Escolha o melhor jogador para cada posição e você não terá a melhor equipe, apenas 11 bons de cada uma.6. No futebol há dois conceitos básicos: quando se passa a bola há que passá-la corretamente. Quando se recebe a bola há que controlá-la corretamente. Pois, se não controlar bem não poderá voltar a passá-la bem.7. Há que ganhar sempre quando se está um contra um.8. A ferramenta mais importante para jogar bom futebol é somar técnica e sentido comum.9. Se você tem a bola, o rival já não poderá marcar você para evitar que a receba.10. Quando um agente ou empresário tem muita influência dentro de um clube é porque alguém o deixou entrar no clube.11. O ideal seria que todos soubessem jogar em todas as posições, por isso precisam escutar as indicações que o treinador dá aos jogadores de outras posições. O ponta esquerda não pode ignorar a instrução que o técnico passa ao lateral direito.12. No futebol, não é a mesma coisa treinar e ensinar. Treinadores há muitos, mas que ensinam, poucos.13. Há de se entender que a bola é parte essencial do jogo.14. No meu time, o goleiro é o primeiro atacante e o atacante, o primeiro defensor.15. Claro que é possível vencer um clube rico; nunca vi um saco de dinheiro marcar gol!16. Eu sempre jogava a bola para a frente, porque, se eu a recebesse de volta, seria o único jogador desmarcado.17. Os italianos não podem nos vencer, mas nós podemos perder para os italianos.18. Até os 30 anos eu fazia tudo por intuição. Depois dos 30, comecei a entender por que eu fazia as coisas que fazia.19. Alguém que faz graça com a bola durante um jogo, dando tempo para os defensores adversários voltarem, é o jogador que as pessoas pensam ser ótimo. Para mim ele deve ir ao circo.20. O bom do esporte é que sempre há uma meta e para atingi-la há alguma coisa que deve ser melhorada, e depoishá outra meta e alguma outra coisa para melhorar, e assim sempre, interminavelmente.21. Jogar futebol é muito simples, mas jogar simples é muito difícil.22. Quando o adversário tem um craque que se desmarca muito bem o melhor é não marcá-lo, assim não poderá se desmarcar.23. Toda desvantagem tem sua vantagem. Se eu sou o menos forte preciso ser o mais veloz; se sou o mais baixinho tenho que ser o mais astuto, e assim por diante.24. Respeitar os companheiros, os rivais, os técnicos, os árbitros, o público é fundamental no futebol. E na vida.25. Sempre há de se jogar de maneira atrativa, dando espetáculo.26. Nenhum time corre tão pouco quanto o Barcelona, mas quem tem sempre a bola é o Barcelona.27. Pessoas que não estejam à minha altura não poderão afetar a minha integridade.28. Jogadores que não são verdadeiros líderes, mas tentam ser, sempre brigam com os outros depois de um erro. Líderes de verdade dentro de campo já sabem que os outros vão errar.29. O que é velocidade? A mídia esportiva sempre confunde velocidade com visão. Veja, se eu começo a correr antes que os outros, eu sempre vou parecer mais rápido que eles.30. O futebol é tão interessante que até uma falta te obriga a pensar, a planejar uma jogada, a desenhar uma ação, a treinar uma resposta.31. O capitão do time deve ser aquele que no vestiário tem mais liderança, quem saiba defender o companheiro injustiçado e se importe pelo conjunto, pelo bem de todos. Por isso, quando o treinador erra nessa escolha, com bons modos e argumentos, ele deve ser informado de que não está escolhendo o capitão correto.32. Em uma partida os jogadores têm a posse de bola por três minutos, em média. Então, o mais importante é o que fazer nos 87 minutos sem a bola.33. Depois de ganhar alguma coisa, você não estará mais 100%, mas 90%. É como uma garrafa de água com gás quando fica sem tampa. Pouco tempo depois fica com menos gás dentro.34. Há apenas uma bola, então você precisa tê-la com você.35. Quando na base um jogador se destaca muito, ainda que tenha 12 anos há que subi-lo de categoria, fazê-lo jogar com os maiores para que desenvolva outras aptidões, que seja obrigado a esforçar-se, e que não se conforme com sua superioridade natural.36. Para marcar, há que chutar a bola. Como na vida, no futebol há de se aprender a trabalhar em equipe.37. O mais difícil em uma partida fácil é fazer com que um oponente débil jogue mal.38. O jogador tem uma grande responsabilidade social: ele é um exemplo para muitas pessoas e o representante de uma instituição, suas cores e distintivos, sua história.39. Se o time adversário tem um craque nota dez e outro nota oito e nós temos um marcador nota dez e outro nota oito, não mando que o melhor nosso marque o melhor deles e o segundo melhor defensor marque o segundo melhor atacante. Não. Eu mando nosso marcador nota dez cuidar do atacante nota oito, assim teremos um problema só.40. Se não consegues ganhar, tente não perder.41. O dinheiro deve estar em campo, não no banco.42. Um jogador, sozinho, não ganha títulos.43. As carências se superam com imaginação.44. Prefiro vencer 5 a 4 do que de 1 a 0.45. Para fazer gol é preciso chutar.46. Só há uma bola em campo e quem a tem decide.47. Para jogar bem se necessitam bons jogadores.48. Deve-se pressionar a bola, não o jogador.49. Sempre temos que estar abertos a aprender novas coisas com outros.50. Se você tem a bola, aumente o campo o máximo possível, mas, se você não tem a bola, faça com que o campo fique o menor possível.51. Um problema do futebol atual é que os cartolas sabem muito pouco de futebol.52. O melhor que um treinador pode falar para seus jogadores é que entrem em campo para desfrutar e se divertir.53. O futebol é um jogo que se joga com a cabeça e em que se usam os pés.54. Há que ser bom companheiro e ajudar a quem erra para que ele nos ajude quando erramos.55. Precisamos fazer com que o pior jogador deles tenha a posse da bola. A teremos de volta em pouco tempo.56. No mundo dos cegos, quem é vesgo é rei, mas continuará sendo vesgo.57. Todo jogador profissional de golfe tem um treinador para suas tacadas, outro para suas colocadas, mais umpara seus tiros. . . No futebol temos um treinador só para 15 jogadores. Isso é absurdo.58. O que mais me entusiasma quando treino um time é que posso extrair o máximo da qualidade individual e colocá-la a serviço do conjunto.59. Os jogadores hoje só sabem chutar com o peito do pé. Eu podia chutar com o peito, de chapa e a parte de fora de ambos os pés. Em outras palavras, eu era seis vezes melhor que os jogadores de hoje.60. Me associam a conceitos como liberdade e rebeldia, mas eu nunca os procurei, só fiz as coisas a meu modo.61. É possível que José Mourinho seja um grande treinador e uma ótima pessoa, mas o que ele mostra ao mundo é outra coisa.62. Por mais que se tente transformar o futebol em uma ciência e que a tecnologia crie métodos de ensino, não há nada melhor que a transmissão oral e o ‘cara a cara’ para ensinar a jogar futebol.63. O Real Madrid tem mais títulos que o Barcelona, mas o Barcelona é melhor. Por quê? Porque o Barcelonasomos nós.64. Qualquer um sabe jogar se der a ele 5 metros de vantagem e liberdade.65. A bola pode chegar ao pé direito ou esquerdo, na altura do peito ou da cabeça, por isso é muito importante aprimorar todas as possibilidades técnicas para poder aproveitá-las chegue aonde for.66. Na base não há que proibir os jovens de fazer o que desejam, deve-se ensinar o que é melhor.67. A Alemanha não ganhou a Copa do Mundo. Nós a perdemos.68. Não sou religioso. Na Espanha, os 22 jogadores faziam o sinal da cruz antes de entrar em campo. Se issofuncionasse, todas as partidas terminariam empatadas.69. Jogar para ganhar ou para desfrutar é um debate falso, porque quem joga para ganhar muitas vezes ganha, mas para mim não se pode jogar sem pensar em desfrutar.70. Qualidade sem resultado é inútil. Resultado sem qualidade é entediante.71. Existem poucos jogadores que sabem o que fazer quando não estão marcados. Então às vezes você fala para o seu jogador: aquele atacante é muito bom, mas não marque ele.72. O esporte não só é bom para o corpo e a saúde mas também para que aprendamos a ganhar e perder, a trabalhar, a ser parte de uma equipe, coisas que são muito úteis na vida.73. Ninguém melhor para transmitir conceitos a um jogador do que outro jogador ou ex-jogador. Por quê? Porque ambos falam a mesma língua.74. Se eu quisesse que vocês entendessem isso, eu teria explicado melhor.75. No meu time gosto do Begiristain. É o único que me escuta e faz o que peço que faça.76. Eles o inventaram, mas o futebol inglês nunca cresceu tanto como quando começaram a chegar jogadoresestrangeiros.77. Numa Copa do Mundo sobreviver à primeira fase nunca é o meu objetivo. O ideal seria estar com Brasil, Argentina e Alemanha no mesmo grupo. Assim eu elimino dois rivais na primeira fase. É como eu penso. Sou idealista.78. Meus atacantes só devem correr 15 metros, a não ser que sejam estúpidos ou estejam dormindo.79. Uma coisa que observei quando criança é que sempre desfrutaram mais me ensinando aqueles que eram bons, os melhores, que tinham mais técnica e sabiam mais; os outros, que tinham pouco para transmitir não desfrutavam me ensinando.80. O salário de um jogador deve respeitar sua idade e trajetória, não importa se alguém mais jovem é melhor e ganha menos, para isso estão os prêmios que nivelam as coisas, porque o critério mais justo para o coletivo é o rendimento.81. Se for para perder é melhor perder com nosso ponto de vista que pelo ponto de vista alheio.82. Em futebol as soluções fáceis sempre são as mais difíceis.83. Acho ridículo quando um talento é rejeitado com base em estatísticas de computador. Com base nos critérios do Ajax de hoje eu teria sido rejeitado. Quando tinha 15 anos não conseguia chutar uma bola a mais de 15 metros com o pé esquerdo e talvez uns 20 com o direito. Mas a minha qualidade, técnica e visão não podem ser detectadas por um computador.84. Se conseguirmos que os piores jogadores do rival sejam os que mais tempo têm a bola, obteremos bonsresultados rapidamente.85. Os árbitros devem ser defendidos porque, como todos os que estão no campo, podem errar por vários motivos. E não há qualquer serventia que depois, nos programas de televisão, se mostrem as jogadas. Isso não melhora nada, até porque muitas vezes só deixa mais dúvida.86. A primeira coisa que fiz como treinador foi contratar quatro bascos; os bascos são valentes e sempre se necessitam jogadores assim.87. Os jogadores de técnica apurada sempre têm o problema da eficiência: eles fazem mais coisas bonitas do que estritamente necessárias.88. Aos jogadores eu lhes falo que não têm que se preocupar porque o melhor do elenco tem um contrato superior ao deles, pois todos nos vestiário sabem quem é melhor; o importante é que seja melhor não só no passe e nos gols convertidos mas também na responsabilidade e todas essas coisas que configuram a personalidade de um futebolista.89. Quando se fala da influência do entorno, seja imprensa, cartolas, torcida, empresários etc. há de se ter muito cuidado, porque no futebol, como em todos os ambientes, há muita gente que só quer o mal.90. Quero jogadores que saibam fazer movimentos decisivos em pequenos espaços; por isso pretendo que trabalhem pouco, assim guardam energia para esses momentos decisivos.91. Jogue como se nunca pudesse cometer um erro, mas, quando cometer um erro, aceite que pode errar.92. Ninguém pode esquecer que no futebol se cometem muitas falhas, por isso se deve entender que os erros são tão decisivos quanto os acertos.93. Eu representei uma época na qual podíamos vencer nos divertindo em campo.

Muito antes de qualquer diagnóstico fatal, Johan Cruyff, que jamais acreditou no endeusamento que lhe atribuía a imprensa do mundo todo, disse, o que em 24 de março de 2016 se confirmou: “Em certo modo sou, provavelmente, imortal. . .”. Sim, o que foi sepultado na última sexta-feira do terceiro mês do ano 16 do século XXI foi seu corpo, o dos dribles, o da estampa magra; mas o legado de Cruyff é e será imortal. Pode descansar em paz como nunca descansaram em campo seus atribulados marcadores…

JOHAN CRUYFF 1947 – 2016Nome completo: Hendrik Johannes Cruijff (Cruyff em português)Data de Nascimento: 25 de abril de 1947Falecido em: 24 de março de 2016Lugar de nascimento: Amsterdã, HolandaLugar da morte: Barcelona, EspanhaFilho de: Hermanus Cornelius Cruijff e Petronella Bernarda DraaijereCasado com: Danny Coster (de 1968 a 2016)Pai de três filhos: Jordi (também jogador), Chantal e Susila, que lhe deram dois netos, Jessua Andrea e Gianluca. Sogro do ex-goleiro do Barcelona, Jesús Mariano Angoy.Altura: 1,80 m. Peso: 71 kg (quando jogador)Posição: Meia-atacante (estrategista eArtilheiro: Placar já definiu sua posição, no especial dos 100 melhores jogadores do século, assim: ‘todas menos o gol’)Número de camisa: 14. Pé bom: direito (mas era ambidestro)Apelidos: Jopie (na sua casa quando criança), El Flaco (O Magro), Tulipán de Oro (Tulipa de Ouro), El Salvador (O Salvador) e El Mago (O Mágico)Registro: Em 2004, o diretor Ramón Gieling, filmou o documentário Johan Cruijff – Em um Dado Momento. Também foi presidente honorário do Barcelona por um breve período em 2010……………………………………………………………….OPINIÕES SOBRE CRUYFF“Cruyff construiu o edifício e nós, técnicos do Barça que o sucedemos, apenas tratamos de restaurá-lo e reformá-lo”, Josep Guardiola, ex-atleta e seu melhor aluno.

“Poucos foram capazes de ter um controle tão fascinante sobre uma partida, de uma área a outra, como ele”, David Miller, jornalista que o batizou como ‘Pitágoras das chuteiras’.

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“Ele deu ‘nome’ ao Ajax em todo o mundo e o fez famoso. Quando você pensa no número 14, você pensa em Johan Cruyff. Iremos retirar esse número como uma homenagem a esse jogador único”, John Jaakke, ex-presidente do Ajax, em 2007.

“A escola neerlandesa de Johan Cruijff foi a melhor que eu já vi”, Günter Netzer, ex-craque alemão e atual treinador.

“Ele me ensinou muitíssimo. Eu o olhava e pensava: ‘Tem 38 anos e é muito bom. O que deve ter sido jogar com esse homem quando tinha 24?’ E a verdade é que nunca tive noção da resposta”, Ruud Gullit, outro antigo craque e ex-aluno de Cruyff.

CARREIRA PROFISSIONAL COMO JOGADORSeleção nacional da Holanda: 1966 a 1977 (50 jogos e 33 gols)Times: 1964 a 1973 – Ajax (Holanda) 323 j / 254 gols1973 a 1978 – Barcelona (Espanha) 184 j / 61 gols1979 – Los Angeles Aztecs (EUA) 27 j / 14 gols1980 e 1981 – Washington Diplomats (EUA) 32 j / 12 gols1981 – Levante (Espanha) 10 j / 2 gols1981 a 1983 – Ajax (Holanda) 46 j / 16 gols1983 a 1984 – Feyenoord (Holanda) 44 j / 13 golsNota: por recomendação do técnico da base Vic Buckingham, estreou no Ajax contra o GVAV em 15 de novembro de 1964, com 17 anos e 204 dias. Fez um gol.

TÍTULOS CONQUISTADOSCom a seleção nacional: vice-campeão mundial 1974Com timesTorneios Internacionais: 5 – Copa Intercontinental: (1) 1972 com Ajax. UEFA Champions League: (3) 1971, 72, 73 com Ajax. Supercopa Europeia: (1) 1972 com Ajax.Ligas, Torneios e Copas Nacionais: 17 – Espanha – ‘La Liga’: (1) 1974 com Barcelona. 4 ‘Copa del Rey’: (1) 1978 com Barcelona. Holanda – Liga Eredivisie: (9) 1966, 67, 68, 70, 72, 73, 82, 83 com Ajax e 1984 com Feyenoord Copa da Holanda (Copa KNVB): (6) 1967, 70, 71, 72, 83 com Ajax e 1984 com Feyenoord

Nota: em 1974, se tornou o único jogador a ganhar três ‘Bolas de Ouro’, as outras foram em 71 e 73. Integrou o All Star da Fifa (Lista dos Melhores Jogadores) na Copa do Mundo de 1974, sendo eleito o melhor desse Mundial. Fez parte da lista dos 100 do século da Fifa em 2004 e foi eleito, por quatro vezes consecutivas, o melhor estrangeiro de La Liga Espanhola (1977,78,79 e 80). Na Holanda foi eleito o ‘melhor jogador do ano’ em quatro oportunidades (1967, 68, 69 e 71). Nos EUA foi eleito o ‘melhor jogador da NASL’, a North American Soccer League em 1979 e 80. Ganhou duas vezes a distinção de ‘Melhor treinador do time ideal’ (1992 e 1994); recebeu o Prêmio Laureus ao esportista como melhor carreira profissional em 2006 e o prêmio ‘Creu de Sant Jordi’, a mais alta distinção da Generalitat de Catalunha esse mesmo ano. Escolhido ‘Melhor jogador da Holanda’ e também ‘Melhor jogador da Europa do Século XX’ em 2004.

CARREIRA PROFISSIONAL COMO TREINADOR

1986 a 1988 – Ajax (Holanda) 86 partidas1988 a 1996- Barcelona (Espanha) 301 partidasEntre 2009 e 2013, em gesto de gratidão ao lugar que o acolheu, comandou a seleção da Catalunha. Conquistou a Liga da Espanha em quatro ocasiões (1991, 92, 93 e 94) com o Barcelona, clube com o qual também levou uma vez a Copa do Rei (1990). Na Holanda, com o Ajax venceu duas vezes a Copa Holandesa (1986 e 1987).

Com ambos os clubes faturou títulos europeus: a Recopa de 1987 com o Ajax e a Recopa de 1989, a Uefa Champions League e a Supercopa de Europa de 1992 com o Barcelona.

Cruyff foi o primeiro técnico a conquistar a Uefa Champions League com o Barcelona, em 1992 (em final frente ao Sampdoria de Genova, Itália).

Como técnico, ao todo dirigiu 387 partidas com 240 vitórias, 74 empates e 73 derrotas.

Contra o Brasil como jogador

Em Copa do Mundo enfrentou o Brasil em 1974. Foi em 3 de julho às 19h30, no Westfalenstadion de Dortmund, Alemanha, pela terceira e decisiva rodada do quadrangular, cujo vencedor se classificaria para a final .

HOLANDA 2 x 0 BRASILEstádio: Westfalenstadion Cidade: Dortmund;Público pagante: 52.500; Juiz: Kurt Tschenscher (Alemanha Ocidental); assistentes: G. Suppiah (Cingapura) e B. Davidson (Escócia)HOLANDA: J. Jongbloed (8), W. Suurbier (20), A. Haan (2), W. Rijsbergen (17) e R. Krol (12); W. Jansen (6), J. Neeskens (13) [85m R. Israel (5)] e W. Van Hanegem (3); J. Rep (16), Johan Cruyff (14) e R. Rensenbrink (15) [67m T. de Jong (7)]. Treinador: Rinus Michels.BRASIL: Emerson Leão (1); Zé Maria (4), Luís Pereira (2), Marinho Peres (3) e Marinho Chagas (6); Paulo César Carpegiani (17), Paulo Cézar Caju (11) [61m Mirandinha (19)] e Rivellino (10); Valdomiro (13), Jairzinho (7) e Dirceu (21). Treinador: Zagallo.Gols: 5m do 2°T, Neeskens e aos 20m do 2°T, Cruyff.Cartão vermelho: Aos 39’ do 2°T, Luís Pereira (Brasil)Cartões amarelos: 37’do 1°T, Zé Maria (Brasil), 44’ do 1° T, Marinho Peres (Brasil) e 24’ do 2° T, Rep (Holanda).*em parênteses o número da camisa

SUA OUTRA OBRA

Criou a ‘Johan Cruyff Foundation’, que ajuda crianças deficientes e a ‘Cruyff Academics International’, que através do ‘Johan Cruyff Institute’, ‘Johan Cruyff University’ e ‘Johan Cruyff College’, oferecem programas acadêmicos relacionados com a administração esportiva em cinco países: Espanha, Holanda, Suécia, Peru e México, com o objetivo de profissionalizar o esporte. Seu pensamento neste sentido se resumia a esta frase sua: “Minha visão sobre a gestão esportiva é muito simples. Acredito que todos aqueles que sentem paixão pelo esporte são os que devem liderar as organizações esportivas”.

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