A polêmica da doação do terreno
O site de PLACAR da sequência nesta semana uma série com a história da compra dos terrenos e estádios dos maiores times de São Paulo e alguns outros da capital paulista. Com ajuda de Augusto Pigini do Colégio Notorial do Brasil – Seção de São Paulo, tivemos acesso às certidões da escritura de venda e compra das principais praças esportivas da cidade de São Paulo, além da Vila Belmiro, em Santos.
Hoje falaremos de um estádio que tem uma aquisição polêmica até hoje. Torcedores rivais dizem que o São Paulo ganhou do Estado do seu estádio, enquanto o torcedor são paulino nega. Contudo, o que foi doado, mas não pelo Estado, foi o terreno em que foi construído o Morumbi, anos depois.
Em 1952, no dia 4 de agosto o São Paulo recebeu a doação de um terreno, no Jardim Leonor, de 2.246.220,63 m² da Imobiliária e Construtura Aricanduva, presidida por João Jorge Saad, que hoje dá nome a umas das vias vizinhas ao estádio. Saad foi um dos donos do grupo Bandeirantes e, na época, era genro do então governador de São Paulo, Adhemar de Barros. Já o presidente do São Paulo, que adquiriu o local, era Cícero Pompeu de Toledo, que hoje dá nome ao estádio.
A participação da prefeitura foi como interveniente, ou seja, quem mediou a doação, por meio do então prefeito da capital, Armando de Arruda Pereira. O São Paulo aceitou a doação e prometeu que, em 3/4 da área construiria um estádio de futebol e na parte restante um parque infantil, que seria mantido pelo São Paulo, com acesso franqueado a todas as crianças. Havia também a obrigação de reservas 25.000 m² para a construção de um estacionamento. Além disso, a obra do estádio deveria começar em dois anos, tendo que terminar a construção em um período de dez anos.
Para questões fiscais, ficou estabelecido que o terreno valeria 500 mil cruzeiros na época.
Meses depois, no dia 12 de novembro de 1952, a Imobiliária e Construtora Aricanduva fez outra doação, de um terreno de 25 mil m², no valor de 200 mil cruzeiros, anexo ao outro terreno, doado anteriormente. O terreno também faria parte da praça esportiva que estava sendo construída no terreno.
Com a venda do estádio do Canindé, o São Paulo investiu em material de construção e na construção do estádio, que começou em 1953. Em 1960, ou seja, oito anos após a doação do terreno e sete anos após o início das obras, o estádio foi inaugurado.
Em 2016, a Prefeitura de São Paulo entrou na Justiça para considerar nula a doação do terreno, já que o local havia sido destinado para o uso público. Antes de ser adquirida pela Imobiliária Aricanduva, o local estava destinado a ser praça pública. Contudo, logo após adquiri-lo, a empresa manifestou seu desejo em doar o terreno para que o clube construísse seu estádio. O Departamento de Urbanismo, inicialmente, foi contra, mas depois foi convencido por Cícero Pompeu de Toledo a ceder.
Ao Globo Esporte, na época, o São Paulo se defendeu. “É importante frisar que não se trata de uma cessão de terreno público, e sim entre duas entidades particulares. A construtora decidiu alterar o projeto de loteamento e mudou a praça desporto para o que hoje é a área do clube, e pediu duas contrapartidas: a construção de um estacionamento (o edifício garagem que hoje já existe no Morumbi) e um parque (a sede social), sem determinar se deveria ser gratuita ou não. Esse procedimento, cabe frisar, teve anuência da prefeitura. Apesar do tom alarmista com o qual a notícia veio a público, o São Paulo está absolutamente tranquilo com o questionamento porque atendeu a todas as exigências solicitadas pela construtora à época e está pronto para dialogar com todos os órgãos competentes para explicar sua posição. O clube também explica que ainda não foi notificado da ação”.