Crise na CBF: Caboclo negociou silêncio de funcionária por R$ 12 milhões
‘Fantástico’ divulgou áudios e mais detalhes da denúncia que afastou o presidente da entidade por 30 dias
Afastado por 30 dias por decisão do Conselho de Ética, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pela acusação formal de assédio moral e sexual por uma funcionária da entidade, a defesa de Rogério Caboclo ofertou um montante de R$ 12 milhões pela não divulgação de gravações e formalização de denúncia, de acordo com matéria divulgada pelo Fantástico e pelo site Ge.com. O acordo foi recusado pela funcionária envolvida.
Assine a revista digital no app por apenas R$ 8,90/mês
A mulher em questão foi orientada por advogados a gravar conversas sempre que estivesse sozinha com o então presidente. O Fantástico divulgou os áudios, posteriormente transcritos, e explica ter confirmado a veracidade das gravações com um perito.
A defesa de Caboclo diz que foi omitido pela denunciante um acordo entre as partes, fato esse prontamente negado pela funcionária. Ele ainda argumenta que o valor de 12 milhões de reais foi pedido pela mesma e que lhe causou estranheza a denúncia, meses após a data da gravação. Em sua versão, explica que minutas do acordo foram trocadas. A defesa da funcionária disse jamais ter havido o pedido, mas sim uma oferta, que foi recusada.
Nos trechos das gravações, registradas em 16 de março, o presidente afastado da entidade inicia conversas de cunho pessoal e sexual, perguntando se a funcionária “se masturba” e se estava “dividida” entre dois funcionários. Caboclo ainda oferece bebida alcoólica a ela.
A mulher em questão alegou sofrer os abusos desde abril do ano passado. No documento de doze páginas usado como base da investigação, ela afirmou ter provas de suas alegações e pediu que Caboclo fosse investigado, afastado pela entidade e, punido pela Justiça Estadual. Ela detalha ter sofrido diversas situações constrangedoras em que foi submetida pelo dirigente.
Na denúncia, ela ainda cita episódios em que Caboclo tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro, chamando-a de “cadela”. Ainda segundo a denunciante, os comportamentos abusivos eram constantes, sempre com Caboclo aparentando estar alcoolizado.
A confusão de ordem pessoal de Caboclo coincide com um momento de enorme turbulência política e esportiva na CBF. Em acordo costurado com a Conmebol e com o governo Bolsonaro, a entidade trouxe para o Brasil a Copa América, depois que as sedes originais, Colômbia e Argentina, desistiram devido a tensões sociais e aumento dos casos de Covid-19, respectivamente.
A forma como a mudança foi feita, sem consultar os atletas que se viram expostos a um debate essencialmente político e que gerou enorme repercussão nas redes sociais, levou o grupo de jogadores e a comissão técnica e se posicionar contrários à participação na Copa América.
O técnico Tite e o volante Casemiro confirmaram ter tido uma reunião com Caboclo, cujo conteúdo será revelado na terça-feira, 8, após a partida contra o Paraguai nas Eliminatórias. “Todo mundo sabe nosso posicionamento”, desabafou Casemiro, após a vitória sobre o Equador, no Beira-Rio.
Veja a transcrição da gravação do diálogo entre Caboclo e a funcionária pelo Fantástico e o Ge.com:
Rogério Caboclo: Seu coração tá no cabeção ou no pilotão?
Funcionária: Em nenhum dos dois
RC: Em quem tá?
Funcionária: Não tá em ninguém, é verdade. Mulher consegue ficar bem sozinha.
RC: Eu conheço minha mulher há 26 anos… Já apaixonei, pirei por amor.
[…]
RC: Eu tinha te jurado que eu não ia falar sobre assuntos particulares. Ela tem a b… dela e eu tenho o meu p[…] Eu sou horroroso?
Funcionária: Chefe, eu não vou entrar no assunto da vida sexual de vocês [ri constrangida].
RC: […] Ela vai fazer ginástica, vai voltar tesuda […]
Funcionária: Então, todo mundo… deixa ela ser feliz.
RC: Sabe o que eu sou contra? Nada […] Você quer uma taça de vinho? […] Não… se não parece que eu tô louco […] Posso te fazer uma pergunta?
Funcionária: Chefe, não vou me meter na sua vida sexual seu e da […]. Não vou, não vou.
RC: Não é isso. É na sua [vida pessoal].
Funcionária: Deixa a minha [vida pessoal] quietinha.
RC: Você consegue resistir ao […] todo dia dando em cima de você?
Funcionária: Consigo, nós somos amigos. Acabei de falar, consigo, ponto, nós somos amigos. E tá tudo bem, tá tudo certo, nós somos amigos, a gente se dá bem, ele no sofá, eu no quarto e tá tudo bem. (Nota da Redação: aqui, a funcionária fala sobre um colega de trabalho com quem divide apartamento)
RC: Eu não acredito.
Funcionária: Eu não tenho por que mentir, não.
RC: Tá bom. Segunda pergunta. Posso?
Funcionária: Fala.
[…]
RC: Você se masturba?
Funcionária: Chefe, tchau.
RC: Ei…
Funcionária: Não quero falar disso, não quero. Eu vou avisar ao […] que você tá lá embaixo.