Belletti é muito mais do que um ex-jogador de futebol
Paranaense trabalha como diretor do Coritiba e embaixador do Barcelona
Juliano Haus Belletti não é um ex-jogador de futebol como os outros. Após encerrar a carreira, em 2011, o paranaense chegou a seguir o caminho de muitos colegas ao se tornar comentarista de tevê, mas ele sentiu que aquilo era pouco. E foi percorrer uma rota incomum para boleiros aposentados.
Em seus tempos de atleta, Belletti se destacou pela versatilidade. Ele jogou como lateral, volante e meia, tendo feito sucesso em todas essas posições. Fora dos gramados, o campeão do mundo em 2002 mantém o dom de ser versátil. Depois de ter lançado uma revista de futebol, hoje atua como diretor executivo internacional e diretor de comunicação e marketing do Coritiba, além de ser embaixador do Barcelona, clube pelo qual viveu seu momento mais glorioso na carreira: o gol do título da Liga dos Campeões da Europa em 2006, na vitória por 2 a 1 sobre o Arsenal.
Ex-jogador de Cruzeiro, São Paulo, Atlético-MG, Villarreal, Barcelona, Chelsea, Fluminense e Ceará, além da seleção brasileira, Belletti, prestes a completar 41 anos, falou sobre seu trabalho no Coritiba e no Barcelona. Confira a entrevista:
Como é exatamente o seu trabalho no Coritiba? Eu fui convidado pelo Coritiba para ser diretor internacional. Fiz, então, uma análise de cenário de 30 dias, para saber como funcionava cada setor, cada área. Conversei com praticamente todos os profissionais do clube. Fui tentando conhecer o máximo possível para, na hora de negociar alguma coisa, ter mais argumentos. O presidente (Rogério Portugal Bacellar) gostou dos primeiros meses, havia algumas coisas que eu dava como ideias para o departamento de comunicação e marketing, para adaptar um pouco o que era feito ao que eu pensava, para eu colocar nas apresentações aos clubes e às empresas internacionais. O presidente gostou e me convidou para gerenciar o marketing e a comunicação. O trabalho praticamente quadruplicou, mas eu estou gostando. Minha esposa está estranhando um pouco esse tanto de coisa que eu tenho de fazer, mas essa confiança que o presidente me deu e a receptividade que eu tive estão sendo bastante produtivos.
Como é o seu dia-a-dia como diretor de um clube de futebol? Primeiro de tudo, eu sou pai. Acordo as crianças, dou café para elas e as levo até o colégio. Depois vou para o Couto (Pereira, estádio do Coritiba), chego às 8h30, 9h para começar a trabalhar. Sendo diretor internacional, o contato com empresas e clubes para tentar adquirir parcerias estratégicas tanto a nível técnico quanto de business começou nos primeiros meses no clube. Fiz uma viagem a Villarreal, depois negócios em Nova York, fui a Barcelona também. Essas viagens serviram para estreitar relacionamentos com quem eu já tinha contato no futebol, e para levar o nome do Coritiba a essas empresas, a esses clubes.
E qual é a sua função no Barcelona? Representar o clube. Ser a cara do clube em eventos e atos institucionais ao redor do mundo. Falar em nome do melhor time do mundo é uma baita responsabilidade, mas também um baita privilégio. Isso começou em San Francisco, onde eu fui promover um jogo do Barça contra o Manchester United no estádio do 49ers (time de futebol americano). Gostaram tanto do que eu fiz que resolveram que seria uma boa eu continuar representando o clube em outros atos. Já fui ao Japão, a Uganda, aos Estados Unidos vou quase sempre, ao México. Sou um dos capitães do Barça Legends (time de veteranos do clube) também. E é isso: falar com as empresas parceiras e patrocinadoras do Barça em nome do clube, falar com a imprensa mundial, com sócios e torcedores. Fotos, entrevistas e autógrafos vêm no pacote, mas a minha função é representar.
É possível conciliar o trabalho nos dois clubes? É claro que o Barcelona sabe do meu trabalho no Coritiba, e vice-versa. Os dois concordaram, aceitam e eu tento equilibrar as coisas para que não fique ruim para nenhum dos dois lados. Eu aproveito as viagens pelo Barcelona para fazer reuniões em nome do Coritiba também.
Você participou de um amistoso no Líbano com Ronaldinho Gaúcho. Como foi a experiência? Foi um jogo entre o Barça Legends e o Real Madrid Leyendas. Serviu para promover a marca, promover o futebol espanhol, promover o Barça Legends e participar de atos institucionais no local. Normalmente, quando são jogos em países em que é preciso envolver o lado institucional do clube, eu vou. É quando eu tenho mais trabalho, e é o que eu gosto de fazer. Além do jogo, são promovidos alguns atos com chefes de estado, ou com sócios que a gente tem em qualquer lugar do mundo, ou com possíveis parceiros e patrocinadores, e eu participo como embaixador. Então a gente chega lá, tem um ato institucional em uma noite, no outro dia treina, no outro dia joga, e volta.
Qual o seu papel e o do Ronaldinho Gaúcho nesse tipo de evento? O Ronaldo é embaixador da imagem do clube, e eu, da comunicação. Por causa disso, temos de ir a quase todos os eventos.
Quais as principais semelhanças entre ser executivo e jogador? Você tem de ser resiliente em qualquer setor, e ser autodidata tem contribuído muito. Eu gosto de pesquisar, ir atrás, conversar com as pessoas. O melhor know-how que eu estou tendo desde que parei de jogar é conviver sempre com pessoas bem-sucedidas da área. Para a revista, por exemplo, mesmo tendo diploma de treinador, a convivência com vários treinadores me deu um know-how impressionante. Outro exemplo: fiz uma pré-temporada com o Barça nos Estados Unidos. O treino era, digamos, às 9h, então às 6h todo o pessoal responsável pelo departamento de logística ia para o lugar de treinamento para montar a estrutura para receber tanto o time quanto os torcedores. E eu ia junto para saber como era, para aprender como eles iriam trabalhar em todos os setores. Procurei sempre me envolver muito no que eu fazia para adquirir o máximo de conhecimento possível.