O futebol profissional não é feito apenas de jogadores. Para que os atletas possam ter bom desempenho, um grupo grande de profissionais trabalha de forma quase anônima. Alguns, entretanto, conseguem romper essa barreira e alcançam reconhecimento por tanta dedicação.
No Vasco, o saudoso massagista Pai Santana figura na galeria de ídolos do site oficial pelos serviços prestados durante mais de cinco décadas. No Fluminense, o roupeiro Ximbica, falecido em 2002 após 36 anos nas Laranjeiras, tinha fama de craque. Já o massagista Mário Américo participou de sete Copas do Mundo – entre 1950 e 1974 – com a Seleção Brasileira.
No Tupi, de Juiz de Fora (MG), que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, Adeil de Souza vem trilhando caminho semelhante. Perto de completar uma década no Galo Carijó, como o time é conhecido, ele esbanja dedicação. Afirma que é roupeiro e massagista, mas desempenha inúmeras outras funções sem perder o bom humor. “Faço um pouco de tudo, sempre com muito amor. Chegamos sempre bem antes dos atletas para deixar tudo certinho. Vestimos mesmo a camisa e tentamos sempre fazer o melhor”, comenta.
Tanto empenho gerou reconhecimento. Nos jogos do Tupi no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio ele tem seu nome gritado pela torcida organizada Tribo Carijó. Entre os torcedores ele é “Adeil, o melhor do Brasil”. Os anos de Adeil no Tupi coincidem com o período de grande crescimento do Alvinegro. Em 2007, o clube juiz-forano disputava o Campeonato Mineiro, em busca de uma vaga para alguma competição nacional. Desde 2011, foram três acessos e uma queda. A maior alegria ainda está fresca na memória. “Sem dúvida foi o acesso para a Série B em 2015. O jogo contra o Asa ficou guardado. Quando estávamos indo para o estádio em Arapiraca passaram vários filmes na minha cabeça. Graças a Deus conseguimos a vitória. Foi o momento mais feliz que eu vivi dentro do clube”, ressalta o massagista/roupeiro, que logo após o primeiro jogo do Tupi, depois de seu casamento, no ano passado, ouviu das arquibancadas, o inusitado coro “Ah, o Adeil casou, o Adeil casou”.
Adeil também é considerado um ótimo contador de histórias. Conta, aos risos, que em uma viagem do Tupi a Macaé (RJ) ficou uma noite sem tomar banho porque não encontrou o registro do chuveiro, que cava ao lado da banheira. Mas a sua história preferida ocorreu no Rio de Janeiro. “Estávamos concentrados em um hotel e eu dividia quarto com o então analista de desempenho do Tupi. Cheguei ao quarto e abri o guarda-roupa. ‘Bacana, tem até micro-ondas. Vou descer e comprar uns pacotes de pipoca para ver um filme.’ Fui ao mercado, comprei a pipoca e chamei o amigo para ver o filme. ‘Alex, bora fazer a pipoca.’ Quando ele abriu a porta do guarda-roupa, a surpresa. O micro-ondas, na verdade, era um cofre. ‘Cê é doido, Adeil. Como você vai fazer pipoca no cofre? Parceiro, foi mal. Quebrei, né?”, relembra, aos risos.