A nova praia do tênis
Os brasileiros descobrem o beach tennis, jogo que pode ser praticado até por quem está fora de forma e que já colocou o país no alto do ranking mundial
A partida transcorre em uma quadra do mesmo tamanho da do vôlei de praia, a raquete se assemelha à do frescobol (só que mais leve) e a contagem de pontos segue as regras do tênis, porém sem as vantagens. Parece muito com o britânico badminton em tropicalíssimo cenário praiano, tirando um detalhe essencial: neste jogo entra bolinha em vez de peteca. Trata-se do beach tennis, o tênis de praia, criado na década de 80 em Ravena, a cidade italiana dos deslumbrantes mosaicos bizantinos, que aportou no Rio de Janeiro uns anos atrás e vem conquistando o extenso litoral brasileiro. Em teoria, pode soar um pouco enrolado, mas os iniciantes, mesmo aqueles menos afeitos à vida esportiva, garantem: é bem fácil de pegar. Quem tem inclinação para se exercitar, então, faz a festa na areia fofa.
O que arrasta tanta gente para a beira-mar é a junção de um esporte, digamos, mais tranquilo com o alto grau de resultado que ele proporciona. O beach tennis bota o corpo todo para trabalhar e, graças à resistência imposta pela areia, funciona como um potente motor de queima de calorias — são até 600 eliminadas em uma hora de raquetadas, o equivalente ao que se pode alcançar com natação, corrida ou ciclismo. “Na primeira aula, já consegui sentir a adrenalina do jogo e me divertir”, conta a dermatologista Daniela Alvarenga, de 46 anos, que estreou na modalidade há dois anos em uma escolinha na Praia de São Conrado, no Rio, e desde então trocou a academia pelas redes fincadas nas areias do Leme à Barra da Tijuca.
O desbravador do beach tennis no Brasil foi o carioca Adão Chagas, ex-árbitro da Associação de Tênis Profissional (ATP), que virou professor dos mais experientes. Foi ele que viu a modalidade fervilhar na Europa e a trouxe para cá em 2008, abrindo uma escola. “Achei que tinha tudo a ver com o perfil brasileiro”, diz ele. A partir da orla carioca, o tênis praiano pipocou em várias outras areias: foi da Praia da Joaquina, em Florianópolis, à do Futuro, em Fortaleza, com escala em Santos, o berço do beach tennis em São Paulo, até encontrar a trilha do interior. Hoje prolifera em clubes de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
É um dos esportes que mais avançam no mundo inteiro, substituindo, muitas vezes, o tradicional vôlei de praia. “De todos os países, o Brasil é onde o beach tennis tem crescido com mais vigor. O número de praticantes mais do que dobrou recentemente”, diz Larissa Boechat, coordenadora do departamento dedicado à modalidade na Confederação Brasileira de Tênis (CBT). Eram 25 000 adeptos em 2016, hoje são 60 000 — e de todas as idades. As escolinhas recebem gente de faixa etária bem elástica, que abarca os extremos: vai dos 10 aos 80 anos. Para a criançada, é brincadeira pura; para os mais velhos, uma oportunidade de vencer o sedentarismo em um esporte possível, que se amolda a diferentes graus de preparo físico. É a velocidade do jogo que define sua dificuldade. Também pode ser praticado em duplas, o que providencialmente divide o esforço do vaivém na areia.
Na esfera profissional, os criadores do beach tennis, os italianos, ainda são os grandes desse esporte no mundo. O Brasil, apesar de novato no jogo, aparece logo atrás, em segundo lugar, de acordo com a Federação Internacional de Tênis (ITF). A proliferação de campeonatos internacionais dá a dimensão do salto na última década — os torneios passaram de catorze ao ano para 320. Treze atletas brasileiros figuram no rol dos 100 melhores do planeta no ranking masculino. No feminino, o placar é ainda melhor: duas brasileiras emplacam entre as dez primeiras. A paranaense Rafaella Miller, de 24 anos (quinta no ranking), e Joana Cortez, de 39 (sétima), acabam de levar o ouro no mundial por equipes em Moscou. “Os brasileiros estão cada vez mais competitivos, melhorando na parte técnica e física”, diz Joana, que já foi tenista profissional. Seguindo os passos do vôlei de praia, o Comitê Olímpico Internacional estuda incluir o beach tennis nos Jogos de 2024, em Paris. Será que vem medalha aí?
Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2018, edição nº 2610