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A hora da arma secreta

É verdade: a influência das armas secretas sobre o placar de uma partida nunca foi provada. Se você fosse um pouco mais velho, porém, saberia que também nunca provaram o contrário. Nunca provaram que tudo isso é inútil, filho Sou velho (disse o velho), velho o bastante para já ter visto de tudo num campo […]

É verdade: a influência das armas secretas sobre o placar de uma partida nunca foi provada. Se você fosse um pouco mais velho, porém, saberia que também nunca provaram o contrário. Nunca provaram que tudo isso é inútil, filho

Sou velho (disse o velho), velho o bastante para já ter visto de tudo num campo de futebol, filho. É por isso que eu digo que agora não há muito mais a dizer. Chegamos até aqui, sabe-se lá como, mas a hora é esta e esta é a hora do absurdo, do disparate total. Você tem por acaso uma cueca velha da sorte, lembrança daquela final de 2002? Então vá vesti-la agora mesmo.

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Ah, não tem? Seu ritual da vitória é diferente, inclui saltitar na frente da TV numa perna só e assobiar Segura o Tchan enquanto tocam o hino do adversário? Ou será que você é da turma que veste uma velha camisa do Bangu e faz gargarejo com loção pós-barba a cada quinze minutos? Bom, não importa. As superstições da torcida são incontáveis. Escreva o que estou dizendo, filho: valem todas.

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Como sou velho (disse o velho), não me esqueço do Carlito Rocha, aquele folclórico comandante do Botafogo em seus anos dourados. O cara tinha o Garrincha e o Nilton Santos no time, mas mesmo assim nunca abriu mão de toda ajudinha que o além pudesse dar. Mandava os funcionários de General Severiano amarrarem todas as cortinas da sede do clube porque acreditava que, fazendo isso, amarrava as pernas dos jogadores adversários. Grande Carlito, sempre com seu vira-lata de estimação, o Biriba, responsável por evitar tantas derrotas do time da estrela solitária. Tenho certeza de que, agora que foram eles mesmos morar no além, aqueles dois estarão atentos ao jogo de hoje no Mineirão.

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Ah, mas tudo isso é bobagem, você diz? Pois eu digo (disse o velho) que você diz isso porque é jovem. Sendo jovem, só é capaz de compreender que ninguém nunca provou a utilidade dessas crendices. Isso é verdade: a influência das armas secretas sobre o placar de uma partida nunca foi provada. Se você fosse um pouco mais velho, porém, saberia que também nunca provaram o contrário. Nunca provaram que tudo isso é inútil, filho. Digamos que você assista ao jogo de hoje plantando bananeira e o Brasil vença: como garantir que não venceu justamente por causa disso? Impossível garantir tal coisa, certo? Então pronto.

O negócio é sério, rapaz. É mata-mata. É semifinal de Copa do Mundo. Perdemos nosso grande craque. Mesmo com ele, nunca jogamos tanta bola assim. Essa Alemanha não é bem uma máquina, mas parece mais forte – e, afinal de contas, a Alemanha é a Alemanha, não é? É, sim. E o Brasil é o Brasil. Chegou a hora da tautologia pura, filho. É por isso que eu digo (disse o velho): é claro que vamos vencer. Agora pode ir ali no banheiro e me trazer a loção pós-barba.

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