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A Copa dos craques

A disputa particular entre Neymar e Messi – pela artilharia e pelo título de melhor jogador – é a face mais visível da hegemonia do craque neste fantástico Mundial

“Não sei se já terá havido uma Copa em que a supremacia do craque tenha sido tão categórica quanto foi a de Neymar e Messi nesta primeira fase”

Além da fartura de estatísticas bacanas, existe uma tendência menos numerável que ajuda a tornar fantástica esta Copa. Menos numerável, mas não menos evidente: a hegemonia do craque. A disputa particular entre os companheiros de clube Neymar e Messi – pela artilharia, pelo poder de decisão e pelo título de melhor jogador do Mundial – é a face mais visível do fenômeno, para o qual vêm contribuindo também as atuações do holandês Robben e do colombiano James Rodríguez, entre outras menos cintilantes.

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Em partidas disputadas quase sempre com absoluta entrega física e tática, o jogo coletivo dos times modestos tem sido, na maioria das vezes, suficiente para atravancar o caminho dos grandes. Nesse cenário atarefado cabe ao craque, e apenas a ele, decidir a parada. É claro que o jogador extraordinário sempre foi fundamental no futebol, mas não sei se já terá havido uma Copa em que sua supremacia tenha sido tão categórica quanto foi a de Neymar e Messi nesta primeira fase.

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Maradona pode argumentar que teve o mesmo papel no Mundial de 1986, mas a verdade é que estava só: Platini, Zico e Rummenigge, os dois últimos fisicamente quebrados, passaram longe do seu brilho. Agora duas das seleções favoritas terminam a primeira fase deixando a impressão de que, não fossem suas geniais estrelas solitárias, poderiam até estar eliminadas.

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Consigo imaginar a vibração do maior craque da crônica esportiva brasileira com essa apoteose do talento individual. Romântico de anedota, Nelson Rodrigues nunca teve um segundo de dúvida quando era obrigado a escolher entre a exaltação do craque e o elogio do espírito de equipe. Em 1955, escreveu que Zizinho tinha vencido sozinho um Brasil x Paraguai, antes mesmo de entrar em campo, no momento em que seu nome fora anunciado pelo alto-falante do estádio. “Em último caso, poderá jogar de casa, pelo telefone”, exagerou, numa daquelas hipérboles que adorava. Por quê? Porque Zizinho era craque.

Em 1966, o então técnico do Botafogo, Admildo Chirol, caiu na bobagem de dar uma entrevista condenando “as estrelas solitárias do futebol” e pregando: “O personalismo não é mais concebido dentro de uma equipe, e, sim, o coletivismo”. Em defesa do craque, Nelson caiu-lhe em cima com a fúria de mil profetas do apocalipse. “Numa competição modesta de cuspe a distância, o torcedor exige o mistério das grandes individualidades”, escreveu. “No futebol, a própria bola parece reconhecer Pelé ou Garrincha e só falta lamber-lhes os pés como uma cadelinha amestrada.” Decretou então que, “no time de Pelé, só ele existe e o resto é paisagem”.

Quase meio século depois, passados tantos modismos táticos e tantos atestados de óbito – e de ressurreição – do craque, é uma delícia constatar que Nelson Rodrigues poderia estar falando do time de Neymar, do time de Messi, sem mudar uma vírgula. O que não chega a ser surpreendente: desde quarenta minutos antes do nada, ele só se interessava pelo eterno.

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