Zanetti, o campeão discreto, promete não perder seu foco
Sóbrio e nada vaidoso, o atleta brasileiro que fez história na ginástica diz que só entenderá o tamanho do feito quando voltar – e revela que ‘esconde’ a medalha
“Ser extravagante não faz o meu estilo. Sou mais reservado. E não faz o meu tipo ficar andando com a medalha pendurada no pescoço”
Qualquer medalha olímpica tem um peso incalculável, seja ela de ouro, prata ou bronze, seja na modalidade que for. Algumas, porém, carregam um significado diferente, têm um valor ainda mais extraordinário. E foi essa a dimensão da vitória de Arthur Zanetti, de 22 anos, na segunda-feira, na North Greenwich Arena, às margens do Tâmisa, em Londres. Quando um atleta brasileiro conquista uma medalha – nestes Jogos, foram sete antes do ouro do ginasta paulista -, a conquista é notícia no Brasil. Mas Zanetti, que derrotou o chinês Yibing Chen, tricampeão mundial e campeão olímpico, teve sua façanha destacada na imprensa internacional, do jornal americano The New York Times à rede britânica BBC (onde falou sobre o ouro, em inglês, num noticiário da emissora). Nesta terça-feira, um dia depois de subir ao pódio, e com mais algumas horas para tentar entender a repercussão de seu feito, o novo campeão olímpico brasileiro, o primeiro medalhista da história da ginástica do país, confessou que “a ficha ainda não caiu” – e disse acreditar que isso só acontecerá quando ele retornar ao Brasil.
“É só lá que sentirei o impacto do que fiz aqui”, contou, sem qualquer sintoma de euforia. Discreto e contido, Zanetti já avisou que a medalha pode até mudar a percepção das pessoas sobre ele e sobre sua modalidade, mas não deverá transformar sua rotina. Descartou, por exemplo, reforçar seu marketing pessoal para entrar no grupo de atletas brasileiros que emprestam sua imagem para projetar um esporte. “Fazendo meu trabalho já estarei divulgando bem a ginástica”, explicou. “Ser extravagante não faz o meu estilo. Sou mais reservado”, diz o atleta, de perfil oposto ao de Diego Hypólito, ginasta mais famoso do país. De acordo com Zanetti, essas características contribuem para o seu desempenho em provas em que está sob forte pressão, como a Olimpíada. “Há muito trabalho psicológico, para manter sempre o foco.” A modéstia do campeão olímpico é tamanha que ele se nega até mesmo a passear pela capital olímpica exibindo o tesouro conquistado em Londres. “Não faz o meu tipo ficar andando com a medalha pendurada no pescoço.” Ao chegar para a entrevista coletiva concedida na Casa Brasil, na Somerset House, trazia o ouro protegido no bolso do agasalho.
Para o técnico Marcos Goto, essa conduta tem uma explicação muito simples: Zanetti já sabia bem do que era capaz antes mesmo de vir à Olimpíada. “Não é que ele é frio. Ele já disputa Mundial desde 2007, já é um cara de bom nível desde aquele tempo”, justifica o treinador. “A conquista não foi resultado só das experiências recentes, como o Mundial do ano passado. Isso já vem de muitos anos”, reitera o campeão. Ao comentar seu futuro, Zanetti mantém a postura sóbria, dizendo que o foco da ginástica brasileira não deve ficar apenas sobre ele: “O objetivo para 2016 é levar uma equipe completa aos Jogos. Levando uma equipe completa, a chance de medalha do Brasil aumenta”. Numa última amostra de seu temperamento nada vaidoso, Zanetti sinalizou que não acredita ter sido um fenômeno isolado, um vencedor que subiu ao pódio só por causa de seu talento natural para a ginástica. “Não é uma medalha só minha, mas sim de todos os profissionais com quem eu trabalho, de todos os colegas de equipe”, insiste. “Só fiz a minha parte, fiz o meu melhor. E estou bem satisfeito.”