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‘Speed Sisters’: mulheres palestinas nascidas para correr

Antonio Pita. Ramala (Cisjordânia), 25 jul (EFE).- Em um ambiente masculino e repleto de barreiras, quatro mulheres pilotos palestinas desafiam a velocidade e, principalmente, a sociedade com a equipe ‘Speed Sisters’, uma história de superação que, em breve, ganhará reconhecimento com um documentário. Nour Dawoud, de 21 anos, Mona Enab (24), Betty Sade (31) e […]

Antonio Pita.

Ramala (Cisjordânia), 25 jul (EFE).- Em um ambiente masculino e repleto de barreiras, quatro mulheres pilotos palestinas desafiam a velocidade e, principalmente, a sociedade com a equipe ‘Speed Sisters’, uma história de superação que, em breve, ganhará reconhecimento com um documentário.

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Nour Dawoud, de 21 anos, Mona Enab (24), Betty Sade (31) e Mara Zahalka (20) são as mulheres que desafiam os limites do conservadorismo para dar vida a essa equipe de automobilismo e a paixão pelas quatro rodas.

Para começar, são mulheres. Se essas pilotos palestinas já teriam que enfrentar inúmeras adversidades por conta deste fato, imaginem dentro do mundo automobilístico, que também é dominado por homens.

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Diante deste contexto, essas mulheres assumem uma postura quase heroica, enquanto a velocidade aparece apenas como um detalhe.

‘A sociedade árabe possui a ideia de que esporte é coisa de homens. Agora, as pessoas começam a perceber que isto não é um mero hobby para mim. Estão entendendo melhor’, assinala Mara, que teve que enfrentar ‘muitos problemas’ em sua cidade natal, Jenin, para levar seu sonho adiante.

Em 2005, quando começaram a competir separadamente, muitos torciam contra. Mas, seis anos depois, uma destas corredoras (Betty) conseguiu um feito até então inimaginável: se colocar entre os dez melhores corredores palestinos.

‘O carro não sabe diferenciar se o motorista é homem ou mulher’, afirmou Betty, que nasceu no México e é filha e irmã de pilotos. Vestida com seu traje de treino vermelho e preto, Nour reconhece que o começo foi ‘difícil’.

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‘Quando circulo pelas ruas todos pensam que sou um homem. Depois, quando se aproximam, eles percebem que sou uma mulher e se emocionam’, acrescenta.

Mas as ‘Sisters’ não têm que lidar só com barreiras socioculturais. Na Cisjordânia, território palestino sob ocupação israelense há 45 anos, os pilotos treinam em qualquer pedaço de asfalto.

Centenas de blitzes, terminais militares, vias fechadas aos palestinos – mas permitidas aos colonos judeus -, e a famosa barreira de separação desenham um fragmentado mapa, onde a velocidade adquire um simbólico significado de liberdade.

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‘Tomara que em algum dia possamos ter melhores condições de treinar, como em outros países do mundo’, assinala Betty.

Com quase dois terços dos amplos espaços abertos sob controle administrativo e militar israelense, construir uma pista profissional na Cisjordânia é uma missão quase impossível. Isso sem falar na situação de conflito, que deixou durante décadas o esporte palestino muito abaixo das expectativas.

Para superar as limitações, as ‘Sisters’ colocaram barris de plástico vazios no estacionamento de um matadouro abandonado, situado nos arredores de Ramala, para fazer curvas impossíveis e acelerações que desenham círculos de pneus no chão.

‘Dentro do carro me sinto tranquila’, conta Mara, que dirige um modesto Seat Cupra com apenas um câmbio adaptado.

Nenhuma, de fato, possui carro de corrida profissional e vive do automobilismo: Betty, por exemplo, trabalha no Consulado do México em Ramala, enquanto Mara estuda administração na Universidade Americana de Jenin. Já Nour e Mona, que não trabalham, dependem dos pais para viver.

Impressionada com a história das quatro pilotos mulheres palestinas, a documentarista canadense Amber Fares decidiu acompanhá-las com a câmara nas mãos para rodar ‘Speed Sisters’, um filme que está em fase de produção e que deve estrear somente em 2013.

‘Na primeira vez que estive com essas meninas já me interessei em fazer um documentário’, assinala Amber, que arrecada fundos para concluir seu projeto através do site (www.indiegogo.com/speedsisters), uma ajuda que também se mostra muito importante para as próprias pilotos, que seguem atrás de seus sonhos com auxílio de poucos patrocínios e ajudas pontuais.

Em 2010, o Consulado Britânico em Jerusalém comprou capacetes e também trouxe duas técnicas britânicas durante um fim de semana para treinar as mulheres palestinas.

As ‘irmãs’ só saíram juntas para competir uma única vez no exterior, no circuito de Silverstone, no Reino Unido, explica o empresário Maysun Yayusi.

‘Meu sonho é competir profissionalmente e participar de circuitos internacionais’, diz Nour à frente de seu carro, tunado com chamas e com uma forte declaração no capô: ‘Born to race’ (Nascida para correr).

Representar o território palestino (cuja bandeira decora seus capacetes e trajes) é para elas um motivo de muito orgulho, um gesto de reivindicação nacional como parte de um povo sem Estado.

‘Como mulheres palestinas mostramos ao mundo que aqui não existe somente controles militares e tensão. É outra forma de resistência perante a ocupação. Nós não resistimos com balas, mas com o que nós sabemos melhor: dirigir’, completa Mara. EFE

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