Joseph Blatter, presidente da Fifa, Aldo Rebelo, ministro do Esporte, e José Maria Marin, presidente do COL e da CBF, bem que tentaram manter o futebol no foco da entrevista coletiva de balanço final da Copa das Confederações, nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro. Mas rapidamente a vitória da seleção brasileira sobre a Espanha ficou para escanteio – e a questão das manifestações populares e os problemas de infraestrutura enfrentados pelas seleções no torneio foram colocados na marca do pênalti. “Em um evento do tamanho da Copa das Confederações, como também ocorre em uma Copa do Mundo ou em uma Olimpíada, nunca é possível satisfazer a todos”, resignou-se Blatter, que admitiu publicamente, pela primeira vez, sua preocupação com a movimentação das ruas. “Quando começamos a competição, havia um clima de incerteza, inquietação social. Mas, mesmo em condições extraordinárias, vencemos.” No entanto, ao contrário do que fez no encerramento da última Copa das Confederações, na África do Sul, quando deu nota 7,5 para o país organizador, Blatter preferiu não avaliar o atual anfitrião. “Na universidade, uma nota 8 garante a passagem de ano. O que posso dizer é que tenho certeza que o Brasil, na Copa do Mundo, conseguirá a graduação.”
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Aldo Rebelo, por sua vez, tratou de fazer o possível e o impossível para livrar a barra do governo federal no tocante às reivindicações populares. “De fato, temos empreendido um esforço muito grande para a preparação da Copa e da Olimpíada, mas todas as obras que estão sendo realizadas são para a população, e não para a Copa. Independentemente da Copa elas aconteceriam, o torneio apenas acelerou o calendário”, afirmou. “Não há dinheiro do orçamento federal na construção dos estádios, é preciso dizer. O orçamento da educação e da saúde é de 190 bilhões de reais, o do ministério do Esporte não alcança 2 bilhões de reais”, tentou justificar. Quando lembrado dos incentivos fiscais para a construção das arenas, saiu pela tangente e voltou a cutucar a imprensa. “Sim, mas o país também subsidia empregos na indústria automobilística, para não perder postos, por exemplo, para o México. E também há subsídios para a imprensa, já que retiramos também impostos sobre o papel-jornal.” Sobre os problemas de mobilidade urbana, que afetaram torcedores e delegações em algumas cidades, como Recife e Fortaleza, Aldo Rebelo afirmou que tudo estará solucionado na Copa do Mundo. “Os governos federais, estaduais e prefeituras já entregaram muitas obras, mas algumas não estavam mesmo previstas para ser entregues agora, na Copa das Confederações. Para o ano que vem estará tudo em ordem.”
Agradecendo o “apoio popular” que recebeu, o folclórico José Maria Marin garantiu não estar deslumbrado – e sim consciente de que esta foi apenas uma etapa da grande meta que é o mundial de 2014. Mesmo assim, em júbilo, tratou de fazer uma inesperada e deslocada média com uma longa lista de personagens – alguns deles alvos inequívocos dos protestos. “Não apenas a presidente Dilma e Lula, que me ligou às 3 horas da manhã da Etiópia apenas para me cumprimentar pela seleção brasileira. Mas quero agradecer também José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, o presidente da Câmara, Henrique Alves, o presidente do Senado, Renan Calheiros, além de presidentes de federações e de clubes que cederam jogadores à seleção. Obrigado!”, vibrou. A exemplo do ministro do Esporte, Marin, que por inúmeras vezes fez questão de se definir um democrata, também garantiu estar do lado dos manifestantes – para o presidente da CBF e do COL, o povo tem o legítimo direito de se fazer ouvir pelos governantes, desde que pacificamente. Contudo, questionado se a onda pela democracia o fará comandar uma gestão mais transparente na Confederação Brasileira de Futebol, Marin imitou Neymar e, com incrível naturalidade, driblou a pergunta.