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Europa: fidelidade e segurança alimentam lucro em arenas

Grandes clubes do velho continente tratam torcedores como clientes VIP em suas modernas arenas – e acabam recompensados com generosas receitas

A transformação das arenas europeias em empreendimentos muito lucrativos passa necessariamente pelo tratamento que é dispensado ao torcedor. Como a violência é combatida e o esforço para garantir a proteção de todos é monumental, ninguém hesita em levar a família inteira ao estádio

A cidade alemã de Gelsenkirchen tem apenas 250.000 habitantes (o equivalente à população de Foz do Iguaçu ou Juazeiro do Norte) e um clube de futebol, o Schalke 04, que jamais conquistou grandes títulos fora do país. Ainda assim, seu estádio, com 60.000 lugares (capaz de abrigar quase um quarto da população local), passa quase o ano inteiro cheio – e tem movimento até nos dias em que não há partidas. Perto dali, a cidade de Dortmund tem uma equipe um pouco mais vitoriosa, o Borussia, dona de um título de Liga dos Campeões em 1997. Sua população, de cerca de 580.000 pessoas, dificilmente seria o bastante para garantir casa cheia nas partidas mais corriqueiras disputadas no estádio local, o Signal Iduna Park, com capacidade para 80.000 torcedores. Seria assim em quase todos os lugares do mundo, mas não na Alemanha: a média de público na arena, reformada para a Copa do Mundo de 2006, é de exatamente 80.000 pessoas – ou seja, o estádio fica sempre cheio. Assim como em Gelsenkirchen, a arena não é frequentada apenas quando há um jogo, mas também para passear, fazer compras, comer e beber – há um museu do clube, lojas, restaurantes e bares, fontes de receita constante para a agremiação. Não é nenhuma fórmula secreta ou milagrosa – tanto que há clubes brasileiros que já seguem esse caminho. Os resultados obtidos pelos alemães, porém, são muito mais significativos, e a diferença está na forma como o torcedor é tratado nessas arenas. Se os gestores dos novos estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo de 2014 quiserem fazer dinheiro com eles, basta aprender a lição dos europeus, e especialmente dos alemães, donos de uma liga que cresce e se fortalece a cada ano. Com segurança, respeito ao cliente e um cardápio de boas opções de consumo e lazer, a paixão pelo clube se traduz em estádio cheio e muito lucro.

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O estádio do Borussia: média de público de 80.000 torcedores
O estádio do Borussia: média de público de 80.000 torcedores VEJA

Além da falta de identidade com os seguidores dos clubes locais, os novos estádios esbarram em outro grande obstáculo para que sejam rentáveis depois do Mundial. O torcedor brasileiro vem sendo maltratado há décadas. Faltam conforto, segurança e, o mais importante, respeito ao frequentador dos estádios – que é, no fim das contas, um cliente dos clubes. A hesitação dos cartolas em combater os bandidos infiltrados nas torcidas organizadas só atrapalha. A transformação das arenas europeias em empreendimentos muito lucrativos passa necessariamente pelo tratamento que é dispensado ao torcedor. Como a violência é combatida e o esforço para garantir a proteção de todos é monumental, ninguém hesita em levar a família inteira ao estádio. A presença de pais, mães e crianças significa também mais tempo no estádio no dia do jogo – e um gasto médio infinitamente maior nas diversas opções oferecidas na arena. Em Gelsenkirchen, Dortmund e muitas outras cidades alemãs, um jogo de futebol é seguro e divertido – e um programa que dura quase o dia todo. Há torcedores que almoçam no estádio, frequentam as lojas antes da partida, assistem ao primeiro tempo, se refrescam com uma boa cerveja no intervalo e ainda jantam no palco do espetáculo antes de voltar para casa. Multiplique-se esse gasto individual pelas multidões de torcedores que lotam os estádios a cada rodada e será possível ter uma ideia de quanto esses clubes lucram – e de como os clubes brasileiros ainda estão distantes de oferecer esse tipo de experiência aos torcedores.

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