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Em dia de jogo, uma nova rotina: protestar para aparecer

Três partidas da seleção em três cidades, e três manifestações que acabaram em violência. Em todas, o desejo de aproveitar os holofotes movia a multidão

Longe da linha de frente, era frequente a passagem rápida de curiosos que se aproximavam das manifestações, usavam a massa humana como pano de fundo, estendiam cartazes trazidos de casa e caprichavam na pose. “Vai colocar no Facebook? Depois manda o link para o meu e-mail”

A seleção brasileira disputará a semifinal da Copa das Confederações nesta quarta-feira, às 16 horas (de Brasília), contra o Uruguai, em Belo Horizonte. O jogo promete ser bastante disputado, mas o clima deverá ficar ainda mais tenso antes da partida começar, e longe do gramado do Mineirão. Como aconteceu nos últimos três jogos do Brasil (em Brasília, Fortaleza e Salvador), os manifestantes prometem aproveitar a atenção sobre a cidade por causa do jogo – há grande número de jornalistas estrangeiros na capital mineira – para fazer seus protestos, contra a corrupção, os gastos excessivos nas obras para a Copa e vários outros alvos. A reportagem do site de VEJA esteve nos protestos e acompanhou de perto a repetição da mesma sequência nas demonstrações pré-jogo: as reinvindicações em clima pacífico, a abordagem policial para impedir que o protesto chegue ao estádio e a ação dos vândalos que se infiltram nas manifestações para dar início ao caos. Assim como anunciaram os líderes da manifestação em Belo Horizonte, a maioria quer um ato pacífico, sem prejudicar a realização da partida, enquanto uma minoria provoca os policiais e força o conflito. Há também um outro grupo: o dos que fazem uma parada rápida no protesto para posar para uma foto e exibir sua indignação via Facebook, Instagram ou Twitter.

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Em Fortaleza, há exatamente uma semana, a manifestação estava marcada para começar às 10 horas, com saída prevista para o meio-dia, a partir de uma das principais vias de acesso ao Castelão. O coronel Claudio Medonça estava no local assim que as primeiras pessoas começaram a chegar e deixou claro que a ideia era combinar um limite para que os manifestantes não chegassem ao estádio onde aconteceria a partida entre Brasil e México. Os organizadores tiveram problemas logo no início, quando uma parte decidiu começar a caminhada antes do previsto, às 11 horas. Os agentes de segurança tentaram fazer um cordão de isolamento para segurar os manifestantes, mas foi em vão. Gritos de repúdio à corrupção e aos gastos com a Copa de 2014 moviam os manifestantes enquanto a Polícia Militar se posicionava no limite combinado para o fim da caminhada. Alguns manifestantes, porém, não aceitavam a ideia de parar antes de chegar aos portões do Castelão – e foi assim que começou a confusão. “Sou professor de escola pública, seus filhos provavelmente são meus alunos. Só quero passar para continuar meu protesto”, gritava aos policiais um homem que aparentava ter 50 anos. Os PMs fingiam não escutar. Além do professor, jornalistas estrangeiros também pediam para passar pelo cordão de isolamento. Entre eles, uma repórter japonesa não entendia por que era obrigada a ficar ao lado dos manifestantes.

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Também misturados à multidão estavam parentes do atacante Hulk, titular da seleção. Todos estavam com ingressos em mãos e pediam apenas para chegar ao estádio. Depois de vinte minutos de muita tensão, os manifestantes que pediam paciência avisaram aos policiais que não conseguiriam mais conter os mais exaltados. “Não somos responsáveis pelos próximos atos”, alertaram. Foi a senha para que vândalos jogassem garrafas e pedras nos guardas – sem que tivessem sido agredidos ou provocados, eles simplesmente atacaram os PMs. As obras deixadas para a última hora nos arredores do estádio em Fortaleza ajudaram a alimentar o caos: com entulhos espalhados pela rua, os materiais foram transformados em armas para o confronto que começou logo em seguida depois. Paus e pedras das obras também foram usados dias depois no protesto de Salvador. Um grupo do Movimento Passe Livre se reuniu na Praça Campo Grande para caminhar até o Shopping Iguatemi. Pela ideia inicial, a Arena Fonte Nova ficaria fora do trajeto, mas os organizadores do protesto e a Polícia Militar já demonstravam grande preocupação com o desejo de uma minoria radical de chegar até o estádio apenas para aproveitar os holofotes e provocar baderna. “Sabemos que é proibido chegar ao estádio, nem queremos passar por lá”, garantia um dos líderes da manifestação ao policial responsável pela operação de proteção ao palco do jogo. “Não queremos entrar em confronto com os senhores, pois isso afasta das ruas os manifestantes que querem lutar uma causa justa.”

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A manifestação em Salvador saiu da Praça Campo Grande apenas alguns minutos antes de a seleção brasileira entrar em campo para enfrentar o México. A marcha foi atrasada justamente para evitar que o protesto chegasse até o estádio. Como previsto, contudo, cerca de 400 pessoas mudaram o itinerário repentinamente e tentaram, sem êxito, chegar à Fonte Nova. Assim como em Brasília, assim como em Fortaleza, foi o estopim de uma batalha com os policiais. Nas duas últimas manifestações em dias de jogos, em Fortaleza e Salvador, ficou evidente – assim como em boa parte dos protestos que se espalham por todo o território nacional – o descompasso entre os objetivos originais da demonstração e a atuação de uma minoria hostil e descontrolada que aproveita a concentração popular para badernar. Em meio a manifestantes de mais idade, alguns acompanhados dos filhos, andando lentamente e segurando cartolinas com inscrições que pedem melhor saúde e educação públicas, circulavam adolescentes mascarados munidos de varetas e com camisetas com o rosto de Che Guevara. Um deles alongava as pernas, já prevendo a necessidade de correr da polícia depois de arremessar objetos contra a barreira. Outros participantes inusitados dos protestos gritavam “sem violência” para logo em seguida arremessar pedras na direção dos policiais. Longe da linha de frente, era frequente a passagem rápida de curiosos que se aproximavam das manifestações, usavam a massa humana como pano de fundo, estendiam cartazes trazidos de casa e caprichavam na pose. “Vai colocar no Facebook? Depois manda o link para o meu e-mail”, dizia uma manifestante em Salvador.

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