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Bolt saboreia vitória, desdenha dos críticos e promete mais

O campeão das pistas e da marra, quem diria, reclamou de quem fala demais. E avisou: no caminho para ser uma lenda olímpica, ainda faltam mais 200 metros

“Tinha muita gente por aí dizendo que eu não venceria. É ótimo vir aqui e mostrar ao mundo que ainda sou o número um” “Não foi a largada perfeita, mas meu técnico falou que eu tinha que parar de me preocupar tanto com isso. Sou melhor no fim, e não no começo”

Já havia passado mais de uma hora desde sua vitória na final dos 100 metros rasos, com direito a recorde olímpico (9s63) e marca histórica (o primeiro bicampeão da prova desde o americano Carl Lewis, em 1984-1988). Mas Usain Bolt, o homem mais rápido do planeta, não tinha pressa nenhuma de sair do Estádio Olímpico de Londres, onde conquistou mais um ouro nos Jogos – o quarto de sua carreira, o primeiro nesta edição. As arquibancadas já estavam quase vazias, mas algumas dezenas de torcedores se concentravam nos assentos próximos ao local onde Bolt conversava com os jornalistas, pedindo: “Mais uma vez!”. E Bolt, o showman, sorria, parava por alguns instantes só para fazer mistério e repetia seu gesto mais famoso, com os braços apontados para o alto, como um raio. Já havia feito a pose algumas dezenas de vezes desde que cruzara a linha de chegada de novo em primeiro lugar, mas não se cansava – sentia-se no direito de retomar o papel de mestre de cerimônias olímpico, de dono da festa no estádio. Sentia-se, enfim, vingado, depois de ter seu incrível talento colocado em dúvida nas semanas que antecederam a final de domingo em Londres. “Eu sempre disse que sou o melhor”, avisou ele, de volta ao seu papel de costume – e mais uma vez incontestável como melhor velocista olímpico.

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Bolt não poderia ter encontrado palco melhor para a confirmação de sua soberania nas pistas (veja imagens exclusivas do atletismo na galeria de fotos acima). Cerca de 80.000 pessoas lotaram as cadeiras do Estádio Olímpico e, apesar do rigor da segurança do evento, outras centenas tentaram dar um jeitinho de assistir à prova, usando suas credenciais para chegar a algum portão de acesso que oferecesse visão para a pista. A poucas horas do início da corrida, o ingresso mais disputado da Olimpíada era vendido por mais de 2.000 reais pelos cambistas. Cerca de 2 bilhões de pessoas seguiram os passos de Bolt ao vivo pela televisão (menos nos Estados Unidos, onde o canal NBC, detentor dos direitos de transmissão, provocou revolta ao exibir a final dos 100 metros em videoteipe). Na Jamaica, calculava-se que nove entre cada dez aparelhos de TV ligados no momento da prova estariam sintonizados no show de Bolt. Foi assim também em Londres, onde uma das maiores comunidades de jamaicanos no exterior, concentrada principalmente no distrito de Brixton, se reuniu num dia de enorme significado – o aniversário de 50 anos da independência da ilha da Grã-Bretanha – para ver seu ídolo voar. Bolt, porém, não incluiu o discurso patriótico em suas declarações depois da vitória. A festa era apenas dele, um herói global, e não só da Jamaica.

Galeria de fotos: Usain Bolt, bicampeão olímpico, brilha na final dos 100 metros rasos

‘Mais um passo’ – O detentor do título olímpico chegou em Londres com a torcida ao seu lado, mas com adversários respeitáveis em seu caminho – e sob críticas de especialistas e ex-atletas. Lewis, o único que já tinha vencido duas finais olímpicas de 100 metros consecutivas até o domingo, estava entre eles. O americano apostava em Yohan Blake, o jovem campeão mundial que fez Bolt suar na seletiva jamaicana, em que derrotou o campeão não só nos 100 metros como nos 200. As imagens de Bolt chegando em segundo lugar motivaram intermináveis discussões a respeito das dificuldades do campeão: problemas físicos, o trauma da largada em falso, falta de concentração, a ascensão da concorrência. Em apenas 9s63, contudo, ele pulverizou todas as dúvidas. “Tinha muita gente por aí dizendo que eu não venceria. Muita gente falou demais. É ótimo vir aqui e mostrar ao mundo que ainda sou o número um”, afirmou Bolt. O campeão, no entanto, disse ainda ter algo a provar. Faltam os 200 metros, prova em que tem rendimento até melhor, e em que também chega para defender seu título olímpico. “Estou ansioso por isso”, avisou o jamaicano de 25 anos – que, apesar de tudo o que já conquistou, afirmou no domingo que ainda não se considera uma lenda olímpica.

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“Este ouro significa que estou mais perto disso, mas ainda estou trabalhando para chegar lá. Foi só mais um passo”, avaliou. Uma façanha que está na mira de Usain Bolt certamente garantiria esse status lendário. Ele admitiu que sonha em quebrar a barreira dos 19 segundos nos 200 metros (seu recorde mundial, conquistado no Mundial de Berlim, em 2009, é de 19s19), e sinalizou que Londres poderia ser o palco dessa marca. “Venho pensando nisso há um tempo. Neste ano, nesta pista aqui, com a confiança em alta… Quem sabe? Mas não quero falar que posso conseguir e depois falhar. De qualquer forma, isso está, sim, na minha cabeça.” As eliminatórias dos 200 metros acontecem na terça-feira, e a final está marcada para quinta. Bolt se diz mais confortável nos 200 metros, até porque a distância maior permite que ele se recupere de uma eventual largada ruim, o único ponto vulnerável de suas corridas e um dos principais argumentos usados pelos críticos que questionavam seu favoritismo. Para Bolt, nada disso importa agora. “Não foi a largada perfeita, mas meu técnico falou que eu tinha que parar de me preocupar tanto com isso. Sou melhor no fim, e não no começo. Então eu simplesmente corri, e deu certo. As pessoas podem falar à vontade. Mas no momento da decisão, é hora de fazer. E eu faço.”

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