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As bobagens dos teóricos da conspiração

O pênalti que Fred não sofreu ganhou companhia numerosa no 2º dia da Copa. Festival de erros desmente os que viram sinais de complô a favor do país-sede

“Louvar o talento dramático de Fred seria cinismo. Daí a embarcar em teses conspiratórias existe uma distância. Sejamos honestos, mas não ingênuos”

Bastou um dia para que o erro do juiz japonês no Itaquerão perdesse parte do impacto. Isso se deu por diluição. O pênalti que Fred não sofreu ganhou companhia numerosa ontem. Aos dois gols mexicanos legítimos que o bandeirinha anulou se somaram, na demolição da Espanha pela Holanda, uma dupla de equívocos que se poderia chamar de equânime: o pênalti que Diego Costa inventou e a falta não marcada sobre Casillas no terceiro gol holandês.

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As conclusões que podem ser tiradas desse festival de lambanças não incluem a absolvição de Yuichi Nishimura – embora possam incluir uma parcela de culpa para quem escala em missão tão difícil um árbitro do Japão, país de futebol ainda em desenvolvimento. Também não incluem necessariamente o veredicto de que o nível da arbitragem nunca foi tão baixo.

Uma conclusão parece segura: falaram bobagem os teóricos da conspiração que mundo afora – e também no Brasil – se assanharam com o erro de Nishimura, vendo ali o sinal de um complô a favor do país-sede. Segundo algumas análises, a Croácia, com seu futebol de sólida mediocridade, merecia derrotar o Brasil. Claramente intranquila, mas ainda com lampejos, a equipe de Neymar e Oscar se viu escalada de repente no papel de vencedora sem mérito. Estranho.

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Nem sempre a nosso favor: Contra a Suécia, em 78, o juiz apitou o fim com a bola a caminho do gol
Nem sempre a nosso favor: Contra a Suécia, em 78, o juiz apitou o fim com a bola a caminho do gol VEJA

Ou nem tão estranho, se pensarmos bem. Se as arbitragens são fracas, vale todo tipo de influência sobre os juízes. Costumam ser lembrados erros importantes que favoreceram o Brasil: o absurdo “pênalti” sobre Luizão em 2002, contra a Turquia, e o não marcado a favor da URSS em 1982 são dois deles. Raramente citam os deslizes que nos prejudicaram. Pelo menos um desses foi mais ridículo do que dez “pênaltis” sobre Fred: em 1978, contra a Suécia, Zico fez de cabeça um gol que não valeu porque o juiz tinha apitado o fim do jogo meio segundo antes, quando a bola do escanteio estava no ar!

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Faz tempo que tal olhar seletivo alimenta o burburinho de que as arbitragens nos favorecem em Copas. Nada como a determinação de deixar claro que não participa de um complô para predispor um soprador de apito a errar contra o Brasil, confere? Louvar o talento dramático de Fred seria cinismo: a máxima de que “roubado é mais gostoso” cai bem em papos de arquibancada, mas deixo para Nelson Rodrigues, gênio da crônica esportiva, a tarefa de fazer o elogio do “juiz ladrão”. Personagem de “feérica, irisada, multicolorida variedade”, o árbitro canalha seria francamente superior ao honesto, cuja virtude “pode ser muito bonita, mas exala um tédio homicida e, além disso, causa as úlceras imortais”.

Que a torcida argentina reverencie até hoje o gol que Maradona fez com a “mão de Deus” contra a Inglaterra em 1986 – eu acharia mais bonito ter vencido a Croácia por 2 a 1. Daí a embarcar em teses conspiratórias existe uma distância. Sejamos honestos, mas não ingênuos.

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O histórico não ajuda: Em 2002, Luizão mergulhou de fora da área. Pênalti
O histórico não ajuda: Em 2002, Luizão mergulhou de fora da área. Pênalti VEJA

E a Espanha, hein? Para não me chamarem de engenheiro de obra feita, reproduzo o que publiquei em VEJA.com há cerca de um ano, após a Copa das Confederações: “A roda de bobo – ou bobinho – que a chamada ‘escola espanhola’ aperfeiçoou e elevou a uma bem-sucedida tática de jogo nos últimos anos esbarrou dramaticamente em sua limitação natural: o baixo poder de penetração de um estilo baseado na roda quando privado da genialidade ofensiva que cabe a Messi (a partir de agora com a ajuda de Neymar) conferir ao Barcelona”.

E ainda: “Primeiro, aproveitando-se da precariedade física do craque argentino, o Bayern de Munique humilhou o time catalão na semifinal da Liga dos Campeões da Europa, em maio; no último domingo, coube à seleção brasileira atropelar a espanhola – que nunca teve um jogador como Messi e, já ao vencer a Copa de 2010, tinha deixado clara a fragilidade ofensiva do futebol-bobinho”.

É verdade que a Copa ainda não terminou para os atuais campeões. Mas que ficou uma pedreira, ficou.

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