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Arena Pernambuco, mistério insondável no meio do nada

Problemas na estreia oficial do novo estádio de 532 milhões de reais em São Lourenço da Mata escancaram equívocos de um projeto que já nasceu errado

A imagem de milhares de torcedores deixando as dependências da nova arena na metade do segundo tempo de um clássico do futebol internacional para tentar – em vão, como se viu depois – evitar as aglomerações foi tão impressionante quanto sintomática

Em São Lourenço da Mata, o número 1 da rua Deus é Fiel não é uma igreja, um templo ou qualquer outro local sagrado. Neste endereço emblemático está erguida a Arena Pernambuco, que sediou no domingo seu primeiro jogo oficial, a partida de estreia das seleções de Espanha e Uruguai pela Copa das Confederações. Mesmo assim, quem decidiu se deslocar até o estádio já pagou, religiosamente, todos os seus pecados. No trajeto de ida, viagens de quase duas horas, pontuadas por trânsito, aperto e muitas filas; dentro da arena, desinformação, desabastecimento e mais filas; na volta, o caos total, com 40.000 pessoas retornando ao Recife ao mesmo tempo em uma combinação de estrutura deficiente com operação ineficaz. De todo esse furdunço, há um aspecto mais preocupante: se a operação da arena pode ser afinada com o passar do tempo, resolver os problemas de acesso a uma praça de esportes construída no meio do nada parece um sonho tão distante quanto o estádio.

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A imagem de milhares de torcedores deixando as dependências da nova arena na metade do segundo tempo de um clássico do futebol internacional para tentar – em vão, como se viu depois – evitar as aglomerações foi tão impressionante quanto sintomática. Nesta segunda, o secretário extraordinário da Copa no Recife, Ricardo Leitão, empurrou para a Fifa, que determinou o fechamento do estacionamento do estádio, e para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos, responsável pela operação do metrô, as dificuldades de mobilidade enfrentadas pelos torcedores. E confirmou que, para evitar atropelos semelhantes na partida desta quarta-feira, entre Itália e Japão, o governo de Pernambuco estuda decretar feriado no estado – uma assinatura definitiva no atestado de incompetência dos organizadores, incapazes de promover normalmente uma simples partida de futebol marcada há meses.

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De qualquer forma, nada disso resolve ou esclarece o mais insondável dos mistérios: por que gastar 532 milhões de reais para construir um estádio de 46.000 lugares a remotos 20 quilômetros da capital pernambucana, para o qual há apenas uma via de acesso, com somente duas pistas de tráfego? Na teoria, o estádio é parte de um complexo maior, denominado Cidade da Copa, que contaria com uma universidade federal e shopping center, entre outras atrações para alavancar o desenvolvimento da região. Mas, em Pernambuco, é grande a desconfiança sobre a efetiva concretização desse projeto. Por enquanto, a nova arena, com sua fachada arrojada e luminosa, segue aparecendo no horizonte de quem faz a viagem a São Lourenço da Mata como uma enorme construção futurista escondida no vazio – uma espécie de versão brasileira da famosa Área 51, a base secreta militar americana no deserto de Nevada que, especula-se, trata dos casos de extraterrestres e objetos voadores não identificados. A diferença é que, por aqui, é o bom senso que parece ter saído de órbita.

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