Arena multiuso não é garantia de fartos lucros após Copa
O modelo europeu é um sucesso e deve mesmo ser seguido – mas achar que todos os novos estádios brasileiros serão uma máquina de dinheiro é ilusão
Construir uma grande e moderna arena pode ser uma ótima aposta – mas, como em qualquer outro investimento, existe uma margem de risco a ser avaliada
Com a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014, uma expressão que soa pouco familiar aos ouvidos do torcedor passou a dividir espaço com termos clássicos do esporte no vocabulário do futebol brasileiro. Agora, além de falar sobre chapéus, carrinhos, craques e gols de placa, quem segue de perto a modalidade mais popular do país discute, com jeitão de especialista em marketing e gestão esportiva, qual clube ou cidade vai ter a melhor “arena multiuso” depois do Mundial. O termo ficou consagrado em função do sucesso da nova geração de estádios da Europa e dos Estados Unidos, os grandes campeões quando o assunto é o esporte como negócio. Erguidos para substituir os antigos palcos do futebol, construídos a partir da virada do século para servir apenas à prática da modalidade, eles são bem diferentes dos estádios do passado: ao invés de priorizar apenas o esporte, são desenhados para atender também aos mais diversos usos, desde shows de grande porte até convenções, cultos religiosos e eventos corporativos. Essa foi, de fato, uma grande sacada dos especialistas em gestão do esporte para tornar os estádios mais rentáveis, transformando uma pesada despesa (os permanentes custos de manutenção das construções desse tipo) em boa fonte de lucro.
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Outras possíveis alternativas para alavancar as receitas são os eventos de cunho religioso e as ações corporativas. Alugar o estádio para megacultos ou grandes empresas é uma boa forma de manter a arena em atividade. Da mesma forma que nos shows, porém, a chance de êxito nesses quesitos vai depender muito do tamanho da cidade-sede, da qualidade das instalações oferecidas aos clientes e até do momento da economia. O outro uso consagrado das arenas modernas no exterior é a transformação do estádio num centro de consumo e entretenimento não apenas em dias de jogos, mas durante toda a semana. De novo, uma aposta que depende de muitos fatores: a localização da arena, a oferta de serviços da nova praça esportiva e, principalmente, o atrativo para o torcedor-consumidor. Nos casos de sucesso espalhados pela Europa, é o fanatismo pelos clubes que costuma levar o público a frequentar os restaurantes e lojas instalados nos estádios. Entre as doze sedes brasileiras da Copa, apenas uma minoria é de propriedade privada. Com exceção do Maracanã, que será uma atração por si só, muitos dos estádios bancados por verbas públicas podem ficar sem essas receitas, já que não terão clubes com grandes torcidas como seus ocupantes fixos – e, portanto, não devem oferecer lojas especializadas e museus temáticos aos torcedores mais fanáticos.