Alívio entre os clubes: STJD, desta vez, não vai atrapalhar
Notório pelas punições inusitadas, tribunal evita castigar líderes Flu e Atlético
“A liberdade de expressão é garantida à nossa constituição. Uma eventual condenação seria voltar aos tempos de ditadura”, disse o advogado do Atlético-MG
Jogadores, treinadores e torcedores já estão acostumados com as interferências inusitadas do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) no Campeonato Brasileiro – nos últimos anos, todas as edições tiveram pelo menos uma punição polêmica ou intervenção desnecessária de seus procuradores. Neste ano não foi diferente: graças às suas preferências pessoais, alguns dos integrantes do tribunal decidiram por castigos inesperados – como a suspensão dada a Ronaldinho Gaúcho por um lance pelo qual o atleta nem sequer tinha sido advertido durante a partida. Torcedor fanático do Flamengo, o auditor Jonas Lopes Neto foi o responsável pelo pedido de gancho. Lopes Neto já tinha castigado Loco Abreu, do Figueirense, depois que ele beijou o escudo do Botafogo, seu ex-clube, para provocar a torcida do Flamengo. Na noite de segunda-feira, porém, o STJD evitou as punições bizarras, para alívio dos clubes. Líderes do campeonato, Fluminense e Atlético-MG estavam sob risco justamente na reta final da competição.
Leia também:
Leia também: Brasileirão poderá acabar já na próxima rodada, no domingo
Denunciado pelas faixas e mosaicos feitos pela torcida fazendo referência aos erros de arbitragem que favoreceram o Fluminense, o Atlético passou ileso por julgamento na noite de segunda. Atlético e Flu se enfrentaram na Arena Independência logo depois que o Fluminense conseguiu pontos importantes graças a equívocos da arbitragem. Indignados, os atleticanos montaram mensagens com os dizeres “apito amigo”, “vergonha CBF” e “vergonha STJD”. Segundo a procuradoria do tribunal, a maneira como o mosaico foi organizado indicava que funcionários do estádio e do próprio Atlético tinham participado da ação. O clube foi denunciado “deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de obrigação legal e de regulamento, geral ou especial, de competição”. Favorável à punição, o procurador Alessandro Kishino reforçou as críticas à diretoria do clube, afirmando que faltou repressão contra a torcida. Responsável pela defesa mineira, o advogado Lucas Ottoni lembrou que os protestos nem sequer foram relatados na súmula do árbitro.
Tabela: Confira a classificação atualizada e os resultados da última rodada
“Rechaço veemente o que foi dito na denúncia”, disse o advogado. “Peço até que sejam riscadas dos autos as palavras, pois são absurdas. Não há como se exigir um comportamento formal dentro de um estádio de futebol. Tanto não houve nada ofensivo ou desrespeitoso que a equipe de arbitragem não fez qualquer menção a isso. Absolutamente ninguém fez menção.” Ottoni comparou a situação à censura dos tempos de regime militar (1964-1985). “Se a CBF tivesse se sentido ofendida, ela teria agido e solicitado que fosse tomada alguma atitude. Talvez a Procuradoria esteja aumentando. No futebol isso é um traço cultural. A liberdade de expressão é garantida à nossa constituição. Uma eventual condenação seria voltar aos tempos de ditadura. Por não haver nenhuma manifestação ofensiva e sim de protesto, a defesa vem pedir que o clube seja apenas advertido.” O Atlético escapou sem qualquer tipo de punição.
Leia também:
Leia também: Longe do título, Atlético-MG ataca auditor flamenguista do STJD
O STJD também julgou o jogador mais decisivo do campeonato até o momento. O atacante Fred ficará à disposição do técnico Abel Braga para o jogo que pode definir o título brasileiro para o Fluminense, diante do Palmeiras, domingo, em Presidente Prudente. Ele foi absolvido após ser julgado por um lance ocorrido também no jogo contra o Atlético-MG. Fred foi acusado de infringir o artigo 250 (ato hostil) do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Na ocasião, após o terceiro gol atleticano, que definiu a vitória por 3 a 2, o atacante tentou dar a saída de bola rapidamente, mas foi impedido por Júnior César. Irritado, empurrou o lateral adversário, mas não foi punido pela arbitragem. A decisão de absolver Fred foi da Primeira Comissão e aconteceu por maioria de votos. Assim, o artilheiro do campeonato deve estar em campo no domingo, em jogo que pode marcar o quarto título brasileiro do Fluminense. Com 73 pontos, os cariocas estão nove à frente do Atlético-MG a quatro rodadas para o fim da competição.
(Com Estadão Contúdo)