Felipão relembra títulos da Libertadores: ‘Saudades do Olímpico e do Palestra’
Em entrevista à PLACAR, o treinador de 76 anos revelou bastidores da conquistas de 1995, pelo Grêmio, e 1999, pelo Palmeiras

* Coluna publicada na edição 1522, o guia PLACAR da Libertadores, de abril de 2025, à venda nas bancas e em nossa loja no Mercado Livre.
Texto adaptado da entrevista de Luiz Felipe Scolari ao programa Pôster Placar (assista abaixo)
O BRILHO NOS OLHOS
É uma satisfação escrever sobre essa competição, que notamos que, depois de tantos anos, está diferente. A alma continua, com muitas mudanças, inovações, o nível do jogo melhorou. Dos 30 anos em que ganhei com o Grêmio, mudou muita coisa, mas a alma, aquele espírito continua lá, e isso é muito bonito.
Sou Grêmio, nasci gremista e gremista continuei. Depois tive a oportunidade de vivenciar um outro time que passou a ter um pedaço do meu coração, que é o Palmeiras. Foram tantas épocas, passei a admirar e torcer, como faço com o Grêmio.
Certa vez, o doutor Fábio Koff me disse: “você está sem fazer nada no Natal, lá vai assistir os jogos do juvenil em Londrina.” Eu achei ruim, mas fui. De lá saíram Carlos Miguel, Roger e Arílson que no ano seguinte foram titulares e campeões da Libertadores.
Jogamos o estadual com os reservas, que chamamos de “Expressinho”, e fomos campeões. Foi um resultado que ninguém jamais imaginaria, um 5 a 0 em casa, e depois na volta perdemos jogadores, ainda conseguimos sair na frente com o Jardel e depois foi um massacre, suamos frio até terminar 5 a 1 para eles. O Palmeiras era uma seleção. Imaginávamos uma vitória simples, fechadinho, mas os jogos foram diferentes. Nossa estratégia era bastante montada pro cruzamento do Arce e cabeceio do Jardel. Se alguém, levantasse o dedo na área, o Arce botava a bola no lugar. O “problema” é que era um gentleman demais, não sabia fazer uma falta.
Me taxavam de violento, uma bobagem. Ninguém pede para bater. Temos um time organizado, que compete, sabe parar uma jogada para equilibrar o time. No futebol, colocam-se muitos rótulos, mas nunca me importei.
Paulo Nunes é uma figura, o vejo como comentarista e continua o mesmo, eu o adoro. Um bom líder precisa olhar para o lado de vez em quando, não querer saber de tudo. Eu sabia que o Paulo fazia suas estripulias, mas era decisivo. O Paulo não me dava trabalho, porque eu sabia que ele era malandro. A única vez que
A Libertadores precisa de jogadores cascudos. O Marcos e o Alex eram dos poucos jovens, mas já vinha sendo preparados, na Mercosul de 98, para serem titulares. O Marcos foi ganhando confiança, e pegou muito, especialmente contra o Corinthians, foi decisivo.
Não gosto muito da final em jogo único, preferia com dois jogos, porque em um dia pode acontecer algo errado e tudo isso ir por água abaixo, como ocorreu com o Athletico-PR contra o Flamengo, em que tivemos um jogador expulso no primeiro tempo. Em dois dá para administrar melhor. Do VAR eu gosto, o que eu não gosto é do árbitro que se vale do do vídeo, gosto de árbitro com personalidade. Se ele tem convicção do lance, assuma, apite por si. Mas o VAR fez bem à Libertadores.
Alma, espírito, vontade. É esse brilho nos olhos. Se tu quiseres vencer na vida, tu tens que gostar que daquilo que tu fazes. Vale para qualquer profissão e é assim no futebol. Eu gosto do que faço e faço com que a maioria dos jogadores também goste e se entregue para a competição. Tenho 76 anos, e não perdi esse brilho. Ainda não decidi parar totalmente com o futebol, e tem convites que podem me fazer querer voltar.