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Do banco ao ‘céu e inferno’, como John Kennedy decidiu a Libertadores em 21min

Cria de Xerém, ex-garoto problema coroou a própria redenção e escreveu a página mais gloriosa dos 121 anos de história do clube

RIO DE JANEIRO – Do banco ao céu. Do céu ao inferno. E, enfim, do inferno para a história. John Kennedy Batista de Souza precisou de 21 minutos para escrever na tarde desde sábado, 4, a mais bonita página dos 121 anos do Fluminense – e também de sua história. JK deixa o Maracanã como um daqueles heróis que penam a triunfar. Ou um personagem dos filmes que passam anos cativos, mas no fim escapam de maneira gloriosa. A cria de Xerém deu o sonhado e inédito título da Libertadores ao Flu e cravou a esperada redenção – para ele e para o clube. O outrora menino-problema, agora é solução.

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Quando o Maracanã já respirava ares de um déjà vu da decisão contra a LDU, perdida nos pênaltis em 2008, após uma dura prorrogação sem gols, o atacante de 21 anos tirou do repertório mais um gol em mata-matas – ele já havia balançado as redes nas oitavas, quartas e semifinais.

Kennedy cumpriu uma espécie de profecia do psicólogo e maior apoiaador, o técnico Fernando Diniz. Ao chamá-lo do banco de reservas para entrar na partida aos 35 do segundo tempo, no lugar de Ganso, Diniz agarrou a cabeça do pupilo e falou longamente. Disse que JK faria o gol do título. E fez.

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JK foi a resposta perfeita a um Boca que esboçava estragar a festa tricolor. Minutos antes, aos 27, os argentinos haviam empatado com o peruano Advíncula. E pareciam começar a gostar da partida – não fosse o camisa 9.

John Kennedy: de Xerém para conquistar a América - Kaio Lakaio/Placar
John Kennedy: de Xerém para conquistar a América – Kaio Lakaio/Placar

Levou um cartão amarelo assim que entrou, mas deu ao Fluminense o que o time precisava: duas finalizações a gol, três tentativas de drible, 12 ações com a bola, três passes, uma falta cometiva e o gol.

Eufórico, atravessou todo o campo como se tudo já houvesse acabado, comemorou nos braços da torcida e foi chamado pelo colombiano Wilmar Roldán. Parecia não acreditar quando viu o cartão amarelo, o segundo, seguido pelo vermelho.

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“Mas por que?”, perguntou ao árbitro. Ao chegar ao banco de reservas, se dirigiu a Paulo Henrique Ganso: “mas não pode comemorar com a torcida?”. Kennedy viveu o seu inferno até o apito final de Roldán.

Dono de personalidade arrojada, o menino impressiona desde as primeiras entrevistas coletivas. “Olha, tenho uma coisa fixa na minha cabeça: fazer gols o máximo que eu puder. Quero ser uma máquina de gols. É meu ofício”, afirmou em 2020. À época com 18 anos, o atacante ainda não acumulava apelidos, mas já gerava esperança nos bastidores nas Laranjeiras.

A temporada de base era animadora, com média de quase uma bola na rede por partida no Brasileirão sub20. E, em meio à pandemia, a chance chegou para o garoto de Itaúna, cidade mineira da região metropolitana de Belo Horizonte, cujo nome, claro, é uma homenagem feita por seu pai ao presidente americano assassinado em Dallas, em 1963.

Da fome de gol veio a ideia da tradicional comemoração que lhe rendeu mais um apelido. O Urso de fios platinados iniciou a Libertadores deste ano na reserva, mas mostrou suas garras afiadas ao longo da campanha com gols decisivos, sempre aliando classe e força física. Ele balançou as redes nos mata-matas contra Argentinos Juniors, Olimpia e Inter – o último, com um toque sutil que valeu uma virada épica no Beira-Rio.

Mas nem só de páginas felizes foi escrita a história do talismã tricolor. Problemas de disciplina e excessos na noite levaram o garoto a quase ser descartado. No início do ano, o carro que ele havia emprestado a amigos foi apreendido com tabletes de maconha. Para amadurecer, JK chegou a ser emprestado à Ferroviária e brilhou no Campeonato Paulista antes de ganhar uma nova chance nas Laranjeiras.

Fernando Diniz, o treinador do Fluminense, não largou a mão do jovem de 21 anos. “Esse menino é um grande vencedor, está se tornando um homem cada vez mais íntegro. Cada vez mais bonito. O futebol perde a rodo talentos como esse no Brasil. Espero de todo o meu coração que ele consiga ter cada vez mais os pés no chão. Pés do tamanho do talento dele. Merece todos os elogios, todos os aplausos. Não é fácil ter a vida que ele teve e se tornar o que está se tornando. O jogador é reflexo do que se tornou como pessoa. Esse menino vale ouro. Além de extremamente talentoso, está se tornando um homem de bem”, disse, após a semifinal.

Fundamental na conquista do título inédito, John Kennedy já inscreveu seu nome na história do Fluminense e, se mantiver o foco, tende a repetir o caminho de outras famosas crias de Xerém, com um futuro de sucesso na Europa e na seleção brasileira. Seja como for, a Tropa do Urso já venceu

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