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Parada de sucesso: há 22 anos, Ramon Menezes era a arma do Galo

Técnico interino da seleção brasileira brilhou como meia do Galo no Brasileirão de 2001; confira reportagem na íntegra

Ramon Menezes dirigirá a seleção brasileira no amistoso do próximo dia 25, diante do Marrocos, em Tanger. Os mais jovens talvez não se lembrem, mas o técnico interino do Brasil foi um bom meio-campista, com destaque por Vitória, Vasco e Atlético-MG nas décadas de 1990 ou 2000. Há 22 anos, ele era a principal arma do Galo na disputa do Brasileirão, do qual acabaria eliminado na semifinal diante do azarão São Caetano.

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À edição de novembro de 2001, Ramon contou ao repórter Édson Cruz como se tornou um dos cobradores de falta mais letais do país, numa época em que Marcelinho Carioca, Petkovic, Rogerio Ceni e outros brilhavam no quesito, e esbanjou confiança. “Estou num nível em que, se houver duas faltas bem perto da área, eu guardo pelo menos uma”, disse. Na época, ele batia até 70 faltas por treinamento.

O ano de 2001 foi especial para Ramon, tanto que lhe rendeu convocações para a seleção brasileira. Foi dele o gol marcado na derrota por 2 a 1 para a França, na semifinal da Copa das Confederações que marcou a despedida do técnico Emerson Leão do cargo. Vinte e dois anos depois, a cadeira é ocupada pelo próprio Ramon, que ganhou a chance depois de conquistar o Sul-Americano sub-20.

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O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera algum tesouro de nossos 52 anos de arquivo, reproduz abaixo a reportagem na na íntegra:

Parada de sucesso

Falta, pênalti ou escanteio: não importa. Um dos segredos do ataque do Galo, o melhor do Brasileirão, são os lances de bola parada que saem do pé direito de Ramón

Por Edson Cruz

Treino é treino, jogo é jogo. Mas o Atlético Mineiro está provando neste Campeonato Brasileiro que uma coisa está intimamente ligada à outra. O fato de a equipe ter tido a maior pré-temporada para a competição, quase 40 dias, serviu não só para fazer a sintonia fina no entrosamento como também para preparar as jogadas de bola parada que se transformaram numa arma poderosa do Galo. Treze dos 39 gols marcados pelo time até a 19ª rodada do nacional ” mais de 30% ” saíram de uma cobrança de pênalti, falta ou escanteio. “Os esquemas armados na maior parte dos times são extremamente defensivos. Nessa circunstância, jogadas com a bola parada são a melhor opção e estão decidindo muitos jogos”, afirma o técnico do Atlético, Levir Culpi.

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Para o Galo, o aprimoramento desse tipo de lance não poderia ter ocorrido em melhor hora. Se Marques anda jogando muito no ataque, não dá para dizer o mesmo de Guilherme, justamente o homem que, nos últimos três anos, sempre foi o principal responsável pelos gols do time. Neste Brasileiro, até a partida contra o Flamengo, ele só havia feito dois gols e chegou a enfrentar um jejum de 12 rodadas sem marcar.

Com a má fase do principal goleador, o Atlético descobriu um novo personagem para manter em dia o poder de fogo da equipe. Depois de Marques, artilheiro do Brasileirão, Ramón foi o jogador com maior participação nos gols do time. Dos 13 que surgiram em lances de bola parada, dez partiram dos pés do meia. “O Vasco foi campeão Brasileiro em 1997 com muitos gols que surgiram de faltas e escanteios cobrados por mim ou pelo Juninho Pernambucano. Sempre treinei cobranças, mas o senso da importância delas surgiu naquela época”, diz Ramón.

O meia garante que desde a infância ficava paralisado diante da TV toda vez que Zico e Roberto Dinamite se preparavam para executar uma cobrança frontal. Mas o grande responsável pelo jogador ter se tornado um especialista no assunto foi mesmo seu pai, Valdir Hubner, que sempre incentivou o filho a só deixar os treinos após dezenas de cobranças. “Ele me dizia que um bom cobrador tem espaço em qualquer time.”

Ramon, em ensaio para PLACAR de agosto de 2001
Ramon, em ensaio para PLACAR de agosto de 2001

A lição é seguida à risca até hoje. Ramón afirma que cobra cerca de 70 faltas por treino, o que justifica tanta confiança: “Estou num nível em que, se houver duas faltas bem perto da área, eu guardo pelo menos uma.” Foi assim no clássico contra o Cruzeiro. Ramón fez um gol de falta minutos depois que uma outra bola passou rente ao travessão do goleiro André.

Cobrar faltas seria uma característica inata dos jogadores? O meia acredita que não: “Basta se exercitar muito em treinos.” Apesar dessa tese, ele não consegue citar mais do que outros quatro bons cobradores neste Brasileiro: Marcelinho Carioca, Arce, Petkovic e Rogério Ceni. O ex-jogador Nelinho, que era especialista no assunto, acha que Ramón é um exemplar raro de uma espécie ameaçada de extinção: “Ninguém vira bom cobrador da noite para o dia. Além de muito treino, é preciso nascer com o dom. Bons cobradores não têm sido vistos com freqüência. Os caras costumam amarelar na hora H”, diz o ex-jogador.

No caso do Galo, porém, quem tem amarelado são os adversários. Ramón já ouviu dizer que os treinadores rivais, durante as preleções que antecedem os jogos, pedem para seus pupilos evitarem faltas próximas à grande área. Por isso, a alternativa para conter o ataque atleticano tem sido fazer faltas distantes da zona frontal ao gol. Mas aí também mora o perigo. Das faltas nas laterais do campo e nos escanteios surgiram vários gols de cabeça de Guilherme, Gilberto Silva, Edgar, Álvaro, Marcelo Djian…

O melhor jeito para conter essa arma do Galo parece ser outro. O próprio Ramón entrega que, em faltas frontais, ele se perde quando não existe uma barreira. “É o meu ponto de referência. Fico tonto quando não vejo uma barreira durante uma falta.” Nessas ocasiões, o meia passa a cobrança para outro. É quando Djair e Valdo entram em cena. Também especialistas em bola parada, os dois só não exercem o ofício mais regularmente por falta de oportunidades. “O Ramón é o cobrador oficial porque tem uma porcentagem maior de acertos nos treinos”, diz Levir.

O técnico tem razão ao procurar a máxima eficiência nesse tipo de lance. Nas últimas quatro finais do Brasileirão, dois jogos terminaram em 0 x 0 ” a decisão de 1997, entre Vasco e Palmeiras, e a de 1999, em que o empate tirou o título do Atlético diante do Corinthians. Por isso, tanto Levir Culpi como Ramón confiam que, mais do que nunca, uma bola parada pode fazer a diferença nos momentos decisivos.

Ramón Menezes Hubner
Nascimento: 30/6/1972, em Belo Horizonte (MG)
Especialidade: Cobranças de faltas. Em cada treino do Galo ele executa a jogada cerca de 70 vezes
Ídolos nas cobranças de falta: Roberto Dinamite e Zico

Ramon Menezes contra Desailly na Copa das Confederações de 2000
Ramon Menezes contra Desailly na Copa das Confederações de 2001 –
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