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#TBT Placar ícone blog #TBT Placar Toda quinta-feira, um tesouro dos arquivos de nossas cinco décadas de história

O título decidido pelo ‘penetra’ Raí diante do Corinthians em 1998

Há 25 anos, ídolo tricolor retornou da França e reestreou pelo clube justamente no segundo jogo da final do Campeonato Paulista

O São Paulo inicia nesta quinta-feira, 10, uma sequência decisiva. O time precisará reverter duas desvantagens, diante do San Lorenzo, pelas oitavas da Copa Sul-Americana, a partir das 19h, e no próximo dia 16, na semifinal da Copa do Brasil, no clássico contra o Corinthians. Para o Majestoso, o Tricolor deposita suas esperanças nos badalados reforços James Rodríguez e Lucas Moura. E se inspira em um caso ocorrido há 25 anos, quando o ídolo Raí voltou justamente pare decidir um clássico, e, de quebra, conquistar um título, diante do maior rival.

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Herói do São Paulo nas conquistas do início da década de 1990, incluindo duas Libertadores e um Mundial, Raí retornou ao clube depois de cinco temporadas no Paris Saint-Germain. E, como o regulamento permitia inscrições de última hora, sua reestreia se deu justamente no segundo jogo da final do Campeonato Paulista, no Morumbi, diante do Corinthians, que havia vencido o jogo de ida por 2 a 1.

Logo aos 30 minutos do primeiro tempo, Raí cabeceou para os redes diante de sua vítima favorita e fez explodir o Morumbi. França (duas vezes) selou o 3 a 1 que garantiu o título estadual do tricolor. O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas recupera um tesouro de nossos 53 anos de história, relembra como foi aquela partida, na reportagem de Amauri Barnabé Segalla, publicada na edição de junho de 1998.

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O penetra fez a festa

Convidado de última hora, Raí chega apenas para a final contra o Corinthians e comanda o São Paulo na conquista do “maior campeonato do mundo”

Amauri Barnabé Segalla

A PERGUNTA FOI SECA, DIRETA: “RAÍ, VOCÊ QUER JOGAR?”

Foram as palavras que o técnico Nelsinho Baptista dirigiu ao craque, que tinha chegado um dia antes de Paris. Com a voz grave e nasalada de sempre, Raí respondeu: “Quero”. Maior ídolo da história recente do São Paulo, Raí estava de volta após quase cinco anos no Paris Saint-Germain, da França. E o momento não poderia ser melhor ou pior.

“Sabia que corria o risco de ser massacrado se não fôssemos campeões”, admite. “Mas não havia como fugir da responsabilidade.” Raí entrou em campo para a partida final contra o Corinthians com o peso de ajudar a equipe a conquistar um título que não vinha há cinco anos. Nas duas últimas finais de Campeonato Paulista que ele disputou, havia feito 6 gols (três contra o Corinthians, em 1991, e três contra o Palmeiras, em 1992). E o craque confirmou sua vocação de jogador de decisão. Marcou o primeiro gol, deu o passe para o segundo, de França, e comandou a equipe dentro de campo. Em apenas uma partida disputada, ele se transformou no principal nome do São Paulo no Paulistão.

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Contratado há sete meses com um salário de 75 000 reais, Raí estava com o orgulho ferido. Duas semanas antes da Final do Paulista, Zagallo o colocou na fogueira contra a Argentina, no Maracanã. Ninguém da Seleção Brasileira jogou bem naquele dia, mas a torcida resolveu pegar no pé do craque são-paulino. “Raí, Raí, pede para sair”, era o coro de 100 000 torcedores. Raí acabaria saindo de campo já com a quase certeza de que não estaria na lista dos 22 que vão à Copa. Bem ao seu estilo, o jogador ficou calado, para provar contra o Corinthians não merecia aquele tratamento.

E o Corinthians é a vítima preferida de Raí. No Paulistão de 1986, quando jogava pelo Botafogo de Ribeirão Preto e ainda era conhecido como o irmão de Sócrates, ele despertou a curiosidade de todos ao marcar, em vinte minutos, três gols contra o Corinthians em pleno Pacaembu, na partida que terminaria empatada em 4 x 4. O Timão resolveu procurar o Botafogo para contratá-lo, mas o negócio não seguiu adiante. Um ano depois, Raí já estava assinando contrato com o São Paulo. Apesar de ter chegado em cima da hora, Raí não despertou ciumeira no elenco da equipe. Por conta da sua identificação com o torcedor tricolor – logo ao chegar ao centro de treinamento foi saudado pelo porteiro, que era o mesmo do seu tempo, e pela telefonista, que ainda continua no clube – os outros jogadores não ficaram melindrados.

O São Paulo campeão paulista de 1998 - Alexandre Battibugli/PLACAR
O São Paulo campeão paulista de 1998 – Alexandre Battibugli/PLACAR

“Como eu poderia reclamar de ter dado lugar para o Raí se o homem encarna os maiores títulos da história do time?”, pergunta o volante Gallo. “Fiquei chateado por ter saído, mas aliviado por saber que um cara decente como ele iria jogar”, reconhece o atacante Dodô. O São Paulo ganhou tudo na década de 90 com uma geração de craques como Raí, Müller e Cafu. Desde o desmanche daquele timaço, essa é a melhor geração de jogadores que o Tricolor já conseguiu reunir. O volante Alexandre, 19 anos, tem um pulmão de aço, chuta bem e sabe passar, algo raro na sua posição. Com 20 anos, o meia Fabiano teve maturidade e garra para se firmar na equipe. É forte, hábil e veloz. No ataque estava França, que deixou Dodô, o craque do Paulista de 1997, no banco. Denilson sambou, ou melhor, “garrincheou”, em campo. “É exagero compará-lo a Garrincha, mas que ele tem alguma coisa dele, isso tem”, constata o técnico Nelsinho Baptista.

Nelsinho teve participação decisiva no crescimento de produção de Denilson. Com Darío Pereyra, Denilson jogava no meio-campo e era obrigado a ajudar a defesa. Nelsinho, ao contrário, deu total liberdade ao craque. “Ele é perigoso driblando na ponta, então por que vou abdicar desse talento?”, pergunta o treinador, também responsável pela efetivação de França, Alexandre e Fabiano na equipe titular. Embora tenha sido superior ao campeonato do ano passado, o Paulistão ainda está longe de ser o melhor do mundo, como apregoa o presidente da Federação Paulista, Eduardo José Farah (veja quadro acima). A média final de público divulgada (13 032 pessoas) não levou em conta a Primeira Fase, quando os clubes grandes ainda não tinham entrado na disputa. E, mesmo assim, essa média é falsa. Como precisavam de 6 000 pagantes para garantir a cota de 100 000 reais prometida pela Federação, os clubes pequenos compravam o restante dos ingressos quando o público não atingia essa meta.

Ou seja: mesmo que o jogo tivesse apenas 500 pagantes, contavam-se como 6 000 os presentes. A maquiagem dos números não esconde o essencial: o Grupo VR, que desembolsou 41 milhões de dólares para comprar o Campeonato, não conseguiu evitar o prejuízo. Procurados por PLACAR, os executivos do grupo VR preferiram não falar. Comenta-se que eles já pensam em não renovar o contrato em 1999.

Raí, do São Paulo, contra o Corinthians, na finalíssima do Campeonato Paulista, no Estádio do Morumbi – Alexandre Battibugli/PLACAR

 

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