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Há 11 anos, Porto Alegre se animava com outro astro uruguaio: Diego Forlán

Melhor jogador da Copa de 2010 chegou ao Inter sob grande expectativa e exaltando seu "passado brasileiro" — mas não vingou

Porto Alegre vive neste momento uma espécie de “Suarezmania” com o ótimo início de Luís Suárez com a camisa do Grêmio. Há 11 anos, o rival Inter vivia momento semelhante com a contratação da então maior estrela do Uruguai, Diego Forlán, artilheiro e melhor jogador da Copa do Mundo anterior, de 2010, na África do Sul.

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Em entrevista à PLACAR de setembro de 2012, Diego Forlán se mostrou animado com a aventura no futebol brasileiro, do qual se disse um admirador, graças a seu pai, Pablo Forlán, que foi ídolo do São Paulo. “Sempre tive vontade de jogar aqui”, contou o goleador no papo com Frederico Langeloh. “Os times jogam em campos grandes e têm por característica tocar bem a bola. Quem gosta do bom futebol, do futebol bem jogado, tem o desejo de atuar aqui. Além disso, o Campeonato Brasileiro tem muitos ídolos.”

Forlán demonstrava ansiedade por disputar seu primeiro Gre-Nal. “Joguei alguns clássicos contra o Nacional, quando atuava pelo Peñarol. Um clássico é sempre bonito. É o jogo da cidade, ainda mais de uma cidade com dois times grandes e vencedores, como Porto Alegre. Um clássico é importante para todos. Esse é um dos grandes do Brasil, talvez o mais acirrado. E é no dia seguinte que vou senti-lo ainda mais, para o bem ou para o mal.

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A relação parecia ter tudo para dar certo, mas o contrato de três anos durou apenas a metade, com o atleta cobrando o Inter na Justiça antes de se transferir para o futebol japonês. Seus números, no entanto, foram bons: Forlán deixou o Colorado após 55 partidas, com 22 gols e o título do Gaúchão de 2013, do qual foi artilheiro. Em seis clássicos contra o Grêmio, ele marcou dois gols e obteve duas vitórias, três empates e uma derrota. 

O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera algum tesouro de nossos arquivos, reproduz abaixo a entrevista na íntegra:

Pinta de gaúcho

Com a sensação de estar em casa no Inter, Diego Forlán exalta “passado brasileiro” e mira título nacional para retomar o bom futebol da última Copa do mundo

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Por Frederico Langeloh

O futebol do Rio Grande do Sul sempre reverenciou o estilo de jogo dos vizinhos gringos. Craques uruguaios e argentinos se transformaram em artigos de luxo. O Internacional, por exemplo, tornou-se uma espécie de consulado argentino, com D’Alessandro, Guiñazu, Dátolo e Bolatti. Ao quarteto argentino, uniu-se o uruguaio Diego Forlán. Há tempos o clube extrapola a cota nacional que permite apenas três estrangeiros por equipe ao mesmo tempo em campo. O atacante, eleito pela Fifa o craque da última Copa do Mundo, em 2010, hoje com 33 anos, trocou a reserva na Inter de Milão pelos holofotes do Brasil, que ele conhece desde o início de sua trajetória com a bola.

Nos tempos em que o pai, Pablo Forlán, ex-lateral-direito do São Paulo, treinava o tricolor paulista, em 1990, ele se admirava com craques como Cafu, Müller e Raí, no embrião do que seria a máquina são-paulina de Telê Santana. Curiosamente, o uruguaio foi trazido outra vez ao futebol brasileiro pelas mãos do empresário Jorge Baidek, campeão mundial pelo rival, Grêmio.

Forlán é o 26º uruguaio da história do Inter e o 65° estrangeiro dos 103 anos de vida do time do Beira-Rio. Chega com a esperança de formar, ao lado de Leandro Damião, o ataque dos sonhos do Brasileirão. Logo ao pisar em Porto Alegre, foi ovacionado por 3 000 torcedores colorados. Apesar do pouco tempo vestindo o vermelho e branco gaúchos, Forlán tem pressa: quer sentir o gosto de ser campeão brasileiro ainda este ano.

Quais são as suas primeiras impressões sobre o futebol brasileiro? É o que você esperava?
Ainda não conheço muito, mas gostei do que vi. Os times jogam em campos grandes e têm por característica tocar bem a bola. Quem gosta do bom futebol, do futebol bem jogado, tem o desejo de atuar aqui. Além disso, o Campeonato Brasileiro tem muitos ídolos.

E quais são os jogadores que você admira no Brasil?
Tenho ídolos que conheci quando criança, quando meu pai treinou o São Paulo. Conheço bem o Müller, Raí, Cafu, Leonardo… Todos eles estavam lá naquela época. Depois, joguei contra alguns deles. Sempre foram grandes jogadores. Eram meus ídolos de infância.

Um dos maiores ídolos uruguaios do Inter é o ex-meia Ruben Paz. Você o conhece pessoalmente?
Conheço apenas de vê-lo jogar. Mas sei da sua importância para o Inter, foi contemporâneo do meu pai. Atuou muito bem aqui, na Argentina e na seleção uruguaia.

Há algum time em especial que você deseje enfrentar no Campeonato Brasileiro?
Quero disputar os clássicos, contra equipes que enchem os estádios. Mas o São Paulo é especial, é diferente. Tenho muito carinho pelo clube. Torci para o São Paulo na infância, pois meu pai tinha uma ligação forte com o clube. Eu jogava bola no Morumbi após os treinos do time profissional. Minha família tem apreço pelo São Paulo [o Inter jogará no Morumbi em 5 de setembro, pela 22ª rodada do Brasileiro].

Antes de acertar com o Inter, você negociou com o Atlético-MG. Por que não houve acordo?
Falou-se muito nessa possibilidade, mas nunca chegou a ser algo concreto. A única proposta realmente boa foi a do Inter. Tratava-se de uma promoção importante para mim e para minha família e, por isso, decidimos aceitá-la.

A proximidade de Porto Alegre com Montevidéu pesou em sua decisão?
Tem isso também, mas São Paulo, por exemplo, está a 2 horas de voo de Montevidéu. Daqui, levo apenas 1 hora. Estou em um grande clube, que vem ganhando muitas coisas nos últimos anos. Estou perto de casa, em uma cidade que se parece muito com a minha. E meus amigos virão para assistir aos jogos. Isso tudo é muito bom depois de ter ficado dez anos longe de casa. Agora estou perto de novo.

Depois de uma década na Europa (passou por Manchester United, Villarreal, Atlético de Madri e Inter de Milão), como você encara a readaptação ao futebol sul-americano?
Isso dependerá muito de eu poder jogar ou ficar no banco. Se tiver a chance de atuar uma partida atrás da outra, fica mais fácil. E o futebol brasileiro é bom para isso, pois deve ser o país com mais jogos no mundo. Aqui, joga-se dois dias por semana. Em uma competição com grande sequência de partidas, como o Campeonato Brasileiro, a readaptação fica bem mais fácil.

O Forlán eleito craque da Copa de 2010 ressurgirá, após um período ruim na Itália?
Quero voltar a jogar no alto nível da Copa. E, sobretudo, em minha posição. Na Internazionale, joguei em outra posição. Quando você é escalado fora de lugar, acaba perdendo a confiança, perde tudo. Não é como jogar na sua posição verdadeira, aquela em que você se sente bem, em que atuou a vida toda. Tive chances de gol nos primeiros jogos pelo Inter, mas ainda eram meus primeiros movimentos. Ainda estou conhecendo o time. Vou melhorar muito com os treinos e jogos.

E como você gosta de jogar?
No ataque. Lá na frente. Aqui, temos jogadores que gostam de voltar para pegar a bola e ir à frente: D’Alessandro, Dátolo, Fred, Jajá… Eu prefiro ficar na frente, me movimentando, como o Leandro Damião. Gosto de ficar perto do gol, mas não sou o camisa 9 clássico.

Qual a importância do número 7, que estampa sua camisa no Internacional?
Joguei com a 7 no Atlético de Madri [quando ganhou a Chuteira de Ouro como maior goleador de torneios nacionais da Europa, em 2009, ao marcar 32 gols no Campeonato Espanhol, superando Samuel Eto’o, que ficou com o segundo lugar]. É curioso, mas, quando embarquei para o Brasil, o voo foi pelo portão 7, no dia 7 do mês 7.

O futebol brasileiro é uma espécie de “plano B” para os jogadores sul-americanos que voltam da Europa?
O Brasil tornou-se um mercado importante, tanto na parte esportiva como no aspecto econômico. É um dos principais mercados do mundo. Eu sempre tive vontade de jogar aqui.

Está na hora de fazer valer o Mercosul, como um mercado comum de verdade, em que jogadores sul-americanos sejam considerados comunitários, sem o limite de três jogadores por equipe?
Seria bom termos um mercado comum efetivo. Abrindo a cota de estrangeiros, seria possível trazer mais jogadores para o Brasil, qualificando ainda mais nosso campeonato. Entendo que mesmo cinco jogadores comunitários ainda seria um número baixo, mas já beneficiaria muito os clubes.

Você chegou em um momento de transição do Inter, com troca de técnico (Dorival Júnior foi substituído por Fernandão) e a perda de diversos titulares, lesionados. Ainda assim, acredita que é possível realizar uma campanha para título no Campeonato Brasileiro?
O Internacional tem time para ser campeão. Os jogadores lesionados voltarão aos poucos. E, mesmo com os desfalques, conseguimos nos manter no alto da tabela. Eu quero muito ser campeão brasileiro com o Inter. Sei que o clube não conquista esse título há 33 anos, é minha idade. Espero que essa coincidência ajude ao fim da temporada. Quero ganhar tudo sempre. O segredo está em chegarmos a novembro na liderança ou perto dos líderes. A partir daí, todos os jogos serão como uma final de campeonato.

Alguma equipe chamou sua atenção neste Brasileiro?
Há times fortes, como o Vasco, que joga junto há dois anos; o Fluminense, que vem ganhando bastante; o Corinthians, campeão brasileiro e da Libertadores; o Palmeiras, que, apesar de uma campanha irregular no Brasileiro, conquistou a Copa do Brasil; o Grêmio, que vem atuando muito bem; o Atlético-MG, em um momento de ascensão; e sempre há o São Paulo. Vejo muitos times de alto nível por aqui. Não é fácil ser campeão no Brasil.

Certamente já te falaram sobre o Grenal…
Desde antes de eu desembarcar aqui. Joguei alguns clássicos contra o Nacional, quando atuava pelo Peñarol. Um clássico é sempre bonito. É o jogo da cidade, ainda mais de uma cidade com dois times grandes e vencedores, como Porto Alegre. Um clássico é importante para todos. Esse é um dos grandes do Brasil, talvez o mais acirrado. E é no dia seguinte que vou senti-lo ainda mais, para o bem ou para o mal.

O Beira-Rio está em reforma para a Copa. É estranho jogar em um estádio em obras?
Você sabe como são as coisas: isso leva tempo, mas no futuro o estádio ficará lindo. Além disso, estamos treinando no CT, à beira do rio, com uma vista incrível do pôr do sol. Há compensações.

Você tem se adaptado bem a Porto Alegre?
Gosto muito da cidade. Porto Alegre, com o rio Guaíba, me lembra o Uruguai. Nós temos o rio da Prata, o chimarrão… O clima também é parecido com o nosso, mas um pouco mais quente. É tudo bem semelhante, e o povo é muito legal.

Você é embaixador do Unicef. Pensa em tocar algum projeto no Brasil?
Ainda não sei, tudo aconteceu muito rápido até agora. Tenho que falar com o Unicef e com a regional do Uruguai, mas, se for possível, eu gostaria de conhecer os programas daqui e dar minha contribuição. Tenho muita vontade de fazer coisas boas pelas pessoas. Também ajudo a fundação da minha irmã [a Fundación Alejandra Forlán, sediada em Montevidéu, luta pelos direitos de vítimas de acidentes de trânsito. Alejandra, 38 anos, formada em psicologia, é uma espécie de esteio da família: ela ficou paraplégica aos 17 anos, após um acidente de carro].

Forlan do Internacional no jogo contra a Portuguesa
Forlan do Internacional no jogo contra a Portuguesa

A filantropia é algo importante em sua vida?
Ajudar as pessoas é muito importante. Eu gosto de colaborar, ser exemplo para as crianças. Me dá grande satisfação fazer isso.

Sua irmã é um exemplo de superação para você?
É um exemplo para a vida toda, para minha carreira. É impressionante a força que ela tem para trabalhar todos os dias, não é fácil. Ela é uma referência para todos os familiares, assim como minha mãe. São pessoas que sempre se sacrificaram muito pela família.

Com a experiência de quem já namorou beldades como Zaira Nara (irmã de Wanda Nara, esposa do atacante Maxi López, ex-Grêmio), o que você acha das mulheres brasileiras?
A mulher brasileira é muito bonita. Temos muitos exemplos… Nós, uruguaios, estamos acostumados a vê-las no verão, em Punta del Este. Mas eu estou chegando ao Brasil agora. Ainda não conheço bem as belas mulheres daqui.

Você é um cara vaidoso, costuma jogar com uma fitinha branca para segurar o cabelo. Além de ser uma marca pessoal, a faixa é superstição ou apenas recurso para o cabelo não atrapalhar em campo?
Uso a faixa só para o jogo, mesmo. Gosto de jogar com a branca, mas tenho uma preta nos treinos.

E a seleção uruguaia poderá repetir em 2014, no Brasil, o sucesso da Copa da África do Sul (a Celeste terminou em quarto lugar no torneio)?Bom, primeiro teremos que passar pelas Eliminatórias sul-americanas. A competição está muito parelha. Há times fortes, nem sabemos se conseguiremos nos classificar. Estamos bem, mas ainda há muitos jogos pela frente. O certo é que no ano que vem estaremos no Brasil para a Copa das Confederações. Quero muito disputar mais um Mundial. Na África, conseguimos jogar muito bem, tivemos um momento especial. O que fizemos na Copa do Mundo e na Copa América [o Uruguai é o atual campeão] foi muito bom, mas temos que manter o alto nível.

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