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De ‘últimão’ a campeão: a histórica arrancada do Corinthians no Paulista de 2001

Campanha do 24º título estadual do Timão foi marcada por chegada de Luxemburgo e gol histórico de Ricardinho contra o Santos (usando um ponto eletrônico)

O torcedor do Corinthians voltou a sorrir desde a chegada do técnico António Oliveira. As duas vitórias seguidas no Campeonato Paulista de 2024 afastaram o time da zona de rebaixamento (confira a classificação) e até reacenderam as esperanças de classificação. Ainda há muito por jogar, mas os corintianos mais otimistas — e mais velhos — podem se apegar a uma agradável lembrança para sonhar com o título. Em 2001, a chegada do técnico Vanderlei Luxemburgo marcou uma histórica arrancada: de “últimão” para o 24º troféu estadual, com direito a um inesquecível gol de Ricardinho na semifinal contra o Santos.

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Se desta vez foi Mano Menezes quem perdeu o cargo depois de um início desastroso, há 23 anos o uruguaio Darío Pereyra sucumbiu a um vestiário em crise e três tropeços seguidos (um empate e duas derrotas). Já com Luxemburgo, o Timão somou apenas cinco pontos nas sete rodadas iniciais. Neste momento, era o 15º (penúltimo colocado, mesma posição que chegou a ocupar em 2024), e o rebaixamento parecia um risco real. Até que deu-se o momento de mudança: em paz com o antigo desafeto Marcelinho Carioca e com os afastados Maurício e João Carlos de volta ao time, Luxa comandou uma arrancada de sete vitórias seguidas, incluindo uma goleada por 5 a 0 sobre o Santos, que o levaria à fase final.

Corinthians 2001 - Ricardinho
Ricardinho, do Corinthians, comemorando gol contra o Santos, Morumbi – PLACAR

Pelo regulamento da época, os quatro melhores se enfrentavam nas semifinais. O adversário do Timão foi justamente o Santos, em um duelo que entrou para a história por diversos motivos. Os gritos de “mercenário” contra o volante Rincón, velho ídolo corintiano vendido ao Peixe, aumentavam o clima de tensão. O duelo de ida terminou empatado em 1 a 1. Na volta, o Corinthians precisava vencer para chegar à final. E o fez com um gol de Ricardinho, aos 48 do segundo tempo, num chute colocado de canhota que fez estremecer o Morumbi.

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Grandes heróis da conquista, Ricardinho e Luxemburgo protagonizaram uma grande polêmica nesta semifinal. O meia canhoto e o goleiro Maurício utilizaram um ponto eletrônico disfarçado no ouvido, no qual recebiam instruções do treinador. A ousadia era inédita, e acabaria proibida quando descoberta.

Matéria de PLACAR de 19 de maio de 2001 destaca ponto eletrônico Reprodução/Placar
Matéria de PLACAR de 19 de maio de 2001 destaca ponto eletrônico Reprodução/Placar

Reportagem de PLACAR da época, escrita por Arnaldo Ribeiro, detalhou o fato. “O aparelho foi usado nas duas partidas contra o Santos (e não só na segunda, quando foi “descoberto”) e fez com que o clube da Vila entrasse com uma ação no tribunal da Federação Paulista pedindo a impugnação dos resultados. Em vão. Pelo fonezinho de 1.300 dólares, Maurício e Ricardinho puderam escutar instruções de Luxemburgo nas partidas”, escreveu Ribeiro na edição de 19 de maio de 2001, pouco depois do título do Corinthians.

“Quando Deivid foi substituído na primeira partida contra o Santos, Luxemburgo instruiu Ricardinho, via ouvido, a fazer o reposicionamento da equipe. Segundo ele, o ponto só foi descoberto porque caiu da orelha de Maurício na comemoração do gol. Alguém gritou: ‘Olha o ponto do Maurício’ e um repórter da Globo percebeu.”

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Aquele título paulista também ficou marcada por uma inusitada presença no elenco alvinegro. Paulo Nunes, eterno ídolo do rival Palmeiras, marcado por diversas provocações aos corintianos, topou vestir a camisa alvinegra, mas sofreu para amolecer o coração da fiel. A conturbada passagem foi relembrada em outro post do blog #TBT PLACAR. Apesar de toda a sua história pelo Verdão, que inclua títulos e comemorações de gols históricas, Paulo Nunes se ofereceu para atuar no eterno rival, segundo ele próprio relata em entrevista ao repórter Eduardo Cordeiro, para a edição de PLACAR de agosto de 2001.

Na ocasião, Paulo Nunes já havia conquistado o título paulista e participado da campanha do vice-campeonato da Copa do Brasil, mas, nem mesmo com “declarações de amor”, conseguia conquistar a fiel.  Os protestos começaram logo em sua apresentação no Parque São Jorge e jamais cessaram. “Quem não quer jogar no Corinthians? Eu joguei várias vezes contra. Teve jogo em que meu time ganhava de 3 x 0 e a Fiel não parava. Ficava puto com aquilo, queria ter eles a meu favor”, lamentou.

Paulo Nunes, do Corinthians, deitado na sua cama, segurando um coração de pano, em homenagem a sua esposa Liz -
Paulo Nunes, do Corinthians, deitado na sua cama, segurando um coração de pano – PLACAR

Um dos mais divertidos personagens do esporte nacional, Paulo Nunes topou posar para fotos com um coração de pelúcia e nas mais variadas poses, tudo para tentar conseguir convencer os alvinegros. Ele sabia, porém, qual era o grande entrave. “Estou cem por cento fisicamente, fazendo gols, me dedicando ao máximo, mas não está adiantando nada. Imagina o que eu não faria se eles (torcedores) estivessem a meu favor? Quem sabe se eu fizer um gol no Palmeiras…”

Não teve jeito. Ele deixaria o Corinthians justamente no fim daquele mês de agosto, com 25 jogos e quatro gols. Em recente entrevista ao SporTV, ele contou que o clima era insustentável. “Eu tinha seis seguranças. Quando a Gaviões invadiu a churrascaria, os meus seguranças pipocaram. Eu andava com eles todos os dias e eles tinham mais medo do que eu”, brincou, como de costume.

O sofrimento daquele título paulista de 2001 terminou mesmo no gol de Ricardinho. Na final, o Corinthians não tomou conhecimento da zebra daquela edição, o Botafogo de Ribeirão Preto que revelou nomes importantes como o goleiro Doni e os atacantes Leandro e Luciano Ratinho, que depois seriam contratados pelo Timão. O triunfo por 3 a 0 na ida, com dois gols do ídolo Marcelinho Carioca, selariam o destino da equipe, que concretizou a conquista com um empate sem gols no Morumbi.

O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera tesouros de nossos arquivos, reproduz abaixo textos publicados em uma edição especial sobre a arrancada do Corinthians no Paulistão de 2001.

Marcelinho marcou de falta na final diante do  Botafogo de Ribeirão Preto, no Estádio Santa Cruz – PLACAR

E não é que o ultimão virou primeirão?

Sérgio Xavier Filho, diretor de redação

Taça é taça, o que importa é levantar o caneco e chamar as cervejas. Essa máxima do futebol não se aplica ao Paulistão 2001. Eis um campeonato diferente dos demais. Conquistar o título foi uma façanha épica por conta das circunstâncias. Foi uma vitória especial, especialíssima. Na metade da competição, os corintianos tiveram que suportar as gozações adversárias. O Timão havia virado “ultimão”. Derrotas consecutivas, vexames, equipe caindo pelas tabelas, ameaça de rebaixamento. Os são-paulinos, confortáveis nas primeiras posições da classificação, não paravam de rir. Até os palmeirenses, que também não andavam lá essas coisas, conseguiam tirar uma da Fiel.

Estatísticos renomados e a patuléia anônima chegavam à mesma conclusão: o Corinthians já faria muito se evitasse a rabeira da tabela. O título seria um delírio, uma possibilidade microscópica. Bom, todo mundo sabe o que aconteceu. De uma hora para a outra, a bola corintiana começou a entrar, a defesa parou de vazar, o milagre se repetiu jogo após jogo. Deu tudo tão certo que mesmo jogos perdidos não acabavam em derrota. O que foi a semifinal contra o Santos e o gol improvável de Ricardinho?

Uma conquista, digamos, tão espírita merecia uma revista especial. PLACAR percebeu que a já tradicional revista-pôster do campeão não daria conta do título corintiano. É por isso que publicamos este especial com as melhores fotos da campanha corintiana junto com a revista-pôster. Agora, com as duas publicações, o torcedor tem um pacote perfeito para guardar. As fichas dos jogos, o time campeão posado, as fotos mais espetaculares, tudo para relembrar uma vitória histórica.

Sofrer pra quê?

Depois da inacreditável reação do time na primeira fase, a torcida corintiana merecia descanso nas finais: o segundo jogo não foi nada além de um amistoso para entregar a taça

Corintiano gosta de sofrer. Todo mundo sabe disso. Mas a cota de sofrimento da torcida alvinegra neste Paulistão terminou aos 48 minutos do segundo tempo, na semifinal contra o Santos. Até aquele momento, quando saiu o gol de Ricardinho que classificou o time para a final, o Corinthians sofreu não só para chegar à decisão como também para dar uma virada incrível na competição, deixando a antepenúltima posição para chegar ao título.

No jogo decisivo, o Timão entrou em campo podendo perder por até três gols de diferença da modesta equipe do Botafogo, derrotada implacavelmente em Ribeirão Preto por 3 x 0 na primeira partida da final. Com toda essa vantagem, não havia como os corintianos sofrerem, por um minuto sequer, na tarde em que comemoraram o 24º título paulista.

O campeonato já estava decidido antes mesmo de a bola começar a rolar. O Botafogo, que precisava fazer quatro, entrou disposto apenas a não tomar nenhum. Jogando contra um adversário retrancado, o Corinthians foi para cima carregado por um inspirado Marcelinho. O meia, artilheiro do time no torneio com 11 gols, deu um show à parte no primeiro tempo. Foi calcanhar pra cá, chaleira pra lá, chapéu, bicicleta e uma sensacional bola na trave, aos 34 minutos, que ele colocou com capricho por cima do goleiro Doni.
No segundo tempo, finalmente o adversário resolveu jogar, o que serviu só para consagrar outro herói corintiano. Maurício fez pelo menos cinco belas defesas, não dando ao Botafogo nem o gostinho de mandar a bola para a rede nos 180 minutos das duas partidas decisivas.

Com a vantagem de três gols ainda intacta e o goleiro alvinegro pegando tudo, os 80 mil corintianos presentes no Morumbi já começaram a comemorar o título a partir dos 15 minutos da etapa final. O grito de “É campeão” só foi interrompido pela saudação aos jogadores, pelo tradicional olé e pelas vaias ao árbitro Alfredo Loebling, que não marcou um pênalti claro em Gil aos 38 minutos.
Desse lance poderia ter nascido o gol que daria um gostinho ainda melhor ao título. Mas, mesmo sem ele, a Fiel pôde fazer sua merecida festa. Uma festa alegre e que em nenhum momento esteve ameaçada. O único sofrimento mesmo foi a chuva que castigou os torcedores durante todo o domingo.

Corinthians 2001 - Marcelinho, Gil e Ewerthon
Marcelinho Carioca, Ewerthon e Gil, comemorando gol contra o Botafogo(SP) pelo Campeonato Paulista de Futebol

Final – 2º jogo

27/5 Morumbi (São Paulo)
CORINTHIANS 0 X 0 BOTAFOGO
J: Edílson Carvalho e Alfredo Loebling;
CA: Gil e Douglas
CORINTHIANS: Maurício (Gléguer), Rogério, João Carlos, Scheidt (Fábio Luciano) e Kléber; Marcos Senna (Gallo), André Luiz, Marcelinho e Ricardinho; Ewerthon e Gil. T: Wanderley Luxemburgo
BOTAFOGO: Doni, Augusto, Chris e Bell; Gustavinho (César), Douglas, Róbson Nese (Chicão), Luciano Ratinho (Gauchinho) e Jadílson; Robert e Leandro. T: Lori Sandri

Campanha

J 19 V 10 E 4 D 5 GP45 GC 29
Artilheiros

Marcelinho Carioca 11
Ewerthon 9
Luizão 8
Ricardinho 6
Gil 3
João Carlos 2
Scheidt 2
André Luiz 1
Pereira 1
Fábio Luciano 1

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