Qual o top 5 dos gols do Maraca
Golaço de Cano leva cronista a outro Fluminense x Vasco, em 1975, para testemunhar ‘elástico’ de Rivellino e divagar sobre os mais belos tentos no estádio
“Futebol, Política e Religião… Não se discute”. Como assim? O sujeito que elaborou e propagou esta frase deve ser o mesmo que mandou aquela do “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. O tempo vai provar que ambas as afirmações são (F), ‘falsas’ em qualquer múltipla escolha que nos leve a escolher entre o ‘bem’ e o ‘mal’, o ‘certo’ e o ‘errado’. Como sou um Viajante do Tempo – saibam, vindo do futuro –, posso garantir a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1975, que daqui a 48 anos, em 2023, de ‘quando’ parti, a Política estará muito presente nos ‘téti-à-téti’ de ideias entre brasileiros, infelizmente menos nos botequins e mais nas ‘praças de guerra digitais’ (algo muito complicado para explicar aqui). E a Religião, sempre respeitosamente poupada, precisará constar na pauta dos debates, pois na próxima década, os anos 80, se revelarão falsos pastores que construirão falsos impérios explorando a fé do povo brasileiro (peço desculpas, mas hoje estou com preguiça de explicar certas notícias que trago do Amanhã). Troquemos o verbo ‘discutir’ por ‘debater’ e pronto: todos esses temas devem sim estar sempre à mesa para confronto de visões, pois é só assim que evoluímos como pessoas e coletividade (Bonito, isso…). No Mundo da Bola, abro as celeumas de hoje garantindo a vocês que o golaço do Rivellino, ontem no Maraca, neste 1 x 0 do Fluminense sobre o Vasco, jamais deixará de constar na lista dos cinco gols mais bonitos da história do ‘Maior do Mundo’. Quais serão, até 2023, os outros quatro? Rá, rá! Calma, já revelarei a vocês… E já adianto que todos ainda estão por acontecer! Tchan-tchan-tchan-tchan…
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Decidi embarcar na Máquina do Tempo até este clássico pelo Campeonato Carioca minutos após assistir, em 2023, a mais uma ‘pintura’ no estádio, assinalado por um futuro atacante do mesmo Fluminense, Germán Cano, argentino, que, novamente contra o Vasco, arrematará de primeira, sem ajeitar a bola, do meio de campo, encobrindo o arqueiro cruz-maltino. Um gol digno de placa! Foi nesse gramado abençoado, aliás, muitos sabem, que nasceu a expressão ‘gol de placa’, criada pelo jornalista Joelmir Beting após assistir a uma das 1000 e tantas vezes que Pelé fez a rede balançar, naquele 5 de março de 1961, em vitória do Santos (3 x 1) sobre o Fluminense. O lance, porém, não tem registro visual, pois justo este pedaço do filme foi cortado e seguirá desaparecido (aliás, confiram lá, se não sabotaram a memória ainda, que a resguardemos!). Proponho, então, queridos torcedores e queridas torcedoras de 1975, que mantenhamos este tento magistral na ‘prateleira Clóvis Bornay’, ou seja, ‘hors-concours’, como esse outro Rei – dos desfiles de fantasias de Carnaval.
O ‘drible do elástico’ aplicado ontem pelo ex-Reizinho do Parque, hoje entronado nas Laranjeiras, vai garantir vaga à Riva nesse ‘Top 5’ pelo inusitado e inesperado da jogada, incomum até aqui. Pois saibam todos que no próximo século aplicar, ou ao menor tentar, o ‘elástico’ será recurso recorrente de atacantes, tendo ou não habilidade pra isso. Mas geralmente em investidas pelas laterais da área, e não como ontem, na intermediária, com o Camisa 10 tricolor de frente para seu marcador – pobre Alcir –, superando-o como um ser invisível que atravessa paredes, e seguindo adiante, invadindo a defesa adversária, até o arremate mortal. Antológico! Único! Eterno! Sempre será…
Mas tamanha plasticidade não vai ser suficiente para que o lance encabece a futura lista dos ‘mais lindos’. Revelo a todos que a honra caberá a outro craque, justo do time derrotado ontem, o Vasco. Anotem: ano que vem, no Cariocão de 1976, Roberto Dinamite terá a feliz audácia de matar a bola no peito, na marca do pênalti, dar um ‘lençol’ (ou ‘chapéu’) num zagueiro do Botafogo – cujo nome manterei em sigilo (‘Nota da Redação da Placar em 2023: cronista se referia a Osmar’) – e finalizar com um voleio, no ar, para a meta do rival alvinegro. Um gol perfeito! Que ainda terá requintes finais no belo ‘pós-gol’, com o companheiro de Dinamite no ataque, Dé, o Aranha, saltando sobre o goleiro ao festejar a proeza do amigo. É sempre assim: a beleza de um lance no Futebol não se resume ao protagonista. No gol do centroavante Cano, que vocês ainda vão ver em 2023, por exemplo, parte do ‘Belo’ estará na forma como o futuro goleiro vascaíno tentará alcançar a bola voando sobre sua cabeça, braços e luvas. Não vai dar…
Já temos, portanto, os lances que ocupam o primeiro (Roberto), o segundo (Rivellino) e o quinto lugar (incluo aqui o tento do argentino Cano) do ‘Top 5’ dos gols do Maraca. Para a terceira posição, trago mais uma revelação. “Alerta de ‘spoiler’!” – assim iremos nos referir a informações que antecipam (ou estragam?) o que ainda estamos por saber, ver ou conhecer. Aposto que todos vocês hão de se lembrar de mim quando, em 1993, o estádio explodir em êxtase após outro atacante do Vasco, baixinho, arrancar pra cima do goleiro do Uruguai e classificar o Brasil para a Copa do Mundo de 1994, após um perrengue danado nas Eliminatórias. (‘Nota da Redação da Placar em 2023: cronista se referia a Romário, autor do segundo gol da vitória de 2 x 0 sobre o Uruguai). O que nos faz começar a perceber que ‘gols bonitos’ são comuns em jogos em que o Vasco – ou um jogador ali formado – esteja em campo. Seja a favor ou contra.
O quarto lugar dessa lista também envolve o clube de São Januário. E vai acontecer daqui a 12 anos, em 1987, em outro Fluminense e Vasco. Anotem mais uma vez: em novo embate entre tricolores e cruzmaltinos, um atacante do Flu, alto e aparentemente desengonçado, vai esbanjar técnica ao arrancar do meio campo, driblar sucessivas vezes os zagueiros e o goleiro vascaínos, completando ao gol. Decididamente, esse confronto, como se observa, no futuro bem que poderia ser rebatizado como o ‘Clássico dos Golaços’! Dos 5 tentos ‘top’ no Maraca, três ocorreram ou ocorrerão em partidas entre Vasco e Fluminense.
Antes de terminar, gostaria de fazer algumas considerações e ressalvas:
- Não considerei aqui os mais belíssimos gols feitos em cobrança de faltas, mas adianto que dois camisas 10, um do Flamengo e outro do Corinthians, serão autores de obras-primas, respectivamente em 2001 e 1991 (‘Nota da Redação da Placar em 2023: cronista se referia a Petkovic, em falta cobrada no último minuto de jogo contra o Vasco, e Neto, em vitória corintiana sobre os rubro-negros, em pleno Maraca). Sem falar em Zico, que já vem gastando sua genialidade tanto em bola parada como carregando ela nos pés;
- A lista dos ‘Top 5’ foi elaborada exclusivamente com base na ‘beleza’ do lance, o que eliminou da disputa gols marcantes ou de grande emoção, como o famoso ‘milésimo’ de Pelé ou o trágico petardo do uruguaio Ghiggia, em 1950;
- Já que tivemos ‘prêmio Clovis Bornay’, me reservo o direito de fazer ‘menções honrosas’, em especial a um gol do Vasco (sempre ele!) que será marcado em 2000 por um enfezado e ‘animalesco’ cracaço de bola (‘Nota da Redação da Placar em 2023: cronista se referia a Edmundo, em jogo contra o Manchester United), e a um lance de rara felicidade com que um meia colombiano surpreenderá o mundo em 2014 (‘Nota da Redação da Placar em 2023: Jamez Rodríguez, contra o Uruguai, na Copa do Mundo realizada no Brasil). Este último, a propósito, será o único dos aqui supracitados a vencer uma futura eleição que a Fifa organizará todo ano apontando o mais belo gol da temporada, o Prêmio Puskas.
Por fim, é claro que me incomoda o fato de não haver sequer um gol entre os destacados que tenha ocorrido no passado, antes deste nada politicamente tranquilo ano de 1975. E certamente deve ser um erro provocado pelo fato de, no futuro, termos cada vez mais imagens e registros sem fim do que se faz nos gramados do mundo. Tanto assim que haverá, creiam-me, alguns que insistirão em querer apontar novos donos do título de “melhor jogador de todos os tempos”. ´Mas quando é por aí o rumo da prosa, afirmo que ‘Rei’ só existe e sempre só existirá um. E que este assunto, ao contrário de Futebol, Política e Religião, não se discute. É Pelé e ponto final.
FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 1 X 0 VASCO
Competição: Campeonato Carioca de 1975
Data: 10 de junho de 1975
Estádio: Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã)
Local: Rio de Janeiro (BRA)
Público: 58.279 mil pagantes
Renda: Cr$ 843 850,00
Árbitro: Arnaldo César Coelho
FLUMINENSE: Félix; Toninho, Silveira, Assis e Marco Antônio; Zé Mário, Cléber e Wílton; Manfrini, Rivellino (Erivelto) e Mário Sérgio
Técnico: Paulo Emílio
VASCO: Andrada; Paulo César, Miguel, René (Moisés) e Celso Alonso; Alcir, Zanata e Carlinhos (Galdino); Dé, Roberto e Luís Carlos
Técnico: Mário Travaglini
Gols: Segundo Tempo: Rivellino, aos 21’
Cartões amarelos: Carlinhos e Zanata, do Vasco; Marco Antônio e Zé Mário, do Fluminense