O ‘Expresso’ do Tempo
Sensibilizado pela agonia do Vasco na 2ª Divisão, Comentarista do Futuro vai até goleada no Barcelona e, sutil, revela só boas notícias a vascaínos de 1957
Vou ter que abrir este texto com um clichê paupérrimo: “A vida tem altos e baixos.” Você já ouviu isso, certamente, mesmo flanando no inspirador, aprazível e quase inocente 1957, nesse Brasil cheio de sonhos, querendo crescer 50 anos em 5, e vendo surgir Pelé, Brasília e a Bossa Nova – já ouviram? Ok, no futebol não possuímos ainda o tão aguardado título mundial (teremos!!! E serão cinco, acreditem!), mas contamos em nossas fileiras com a briosa equipe do Vasco da Gama, que ontem atropelou o temido Barcelona por 7 x 2, em amistoso na Espanha. “Façanha jamais realizada por outro time nacional”, dirão hoje os jornais aí no Brasil. Pois saibam que o feito ganha em magnitude quando avaliamos que – alerta de ‘spoiler’! –, em 2021 (de “quando” venho), o esquadrão catalão será ainda mais poderoso, com farta coleção de títulos (14, ao todo) nas principais competições entre equipes da Europa e três triunfos do Mundial de Clubes (sim, vai ter isso), figurando como primeira ou segunda marca mais valiosa do planeta futebol. Êêêê, Vascão! Assim, caros leitores dos anos 50, mês que vem, quando o ‘Expresso da Vitória’ retornar, não deixem de ir ao Aeroporto e à carreata festiva pelas ruas da cidade. Aliás, não fiquem um dia sem comemorar a felicidade de viver em 1957 – 2021 vai ser bem mais difícil, posso garantir! Como estará o Vasco? Bem, a pergunta me faz lembrar de outra frase gasta, que serve para o momento atual e também para daqui a 24 anos: “Dias melhores virão!”
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A vida é mesmo uma gangorra (Xiii! Viciei…). Vejam só como mudam – e oscilam em qualidade – as coisas mais simples do dia-a-dia: se hoje temos como canção mais tocada em 1957 a singela “Mocinho Bonito”, na voz suave de Dóris Monteiro, em 2020/2021 o topo nessa lista será de “Liberdade Provisória”, hit sertanejo de Henrique e Juliano. Diz a letra do refrão: “Eu implorei pra voltar/E ela me matou na unha/Disse que eu tava solteiro/Eu tava solteiro porra nenhuma”. Deu pra sentir o drama? Já o Vasco – grande Vasco! –, chegará à terceira década do próximo século com muitos motivos para olhar adversários de cima – ou seja, “da Colina”.
Anotem:
– Se hoje já detém 11 títulos no Campeonato Carioca, em 2011 já serão 24;
– Se até aqui possui um título nacional (a Taça dos Campeões Rio-São Paulo, em 1936), somará a esse mais cinco conquistas em futuras disputas entre clubes do país – quatro Campeonatos Brasileiros (1974, 1989, 1997 e 2000) e uma Copa do Brasil (2011). E ainda três taças no Torneio Rio-São –1958 (Yes! Ano que vem! Preparem-se!), 1966 e 1999 – e o Torneio João Havelange, que se dará em 1993;
– E, por fim, se volta ao país como bicampeão em torneios intercontinentais de futebol – o inesquecível e eterno Octogonal Rivadávia Corrêa Meyer (1953) e, agora, nesta épica excursão, ao arrebatar o Torneio de Paris, esmagando o Real Madrid –, e ainda o Campeonato Sul-Americano de Campeões (1948), chegará a 2021 ostentando em sua sala de troféus dois prestigiadíssimos títulos internacionais: uma Libertadores da América (1998) e uma Copa Mercosul (2000).
Casaca!!!!! Casaca!!!!
[abril-olho]No exterior, fama e admiração pelo clube vão inspirar a criação de “vascos” no Canadá, Estados Unidos, na Índia, África do Sul, Nigéria, nas britânicas Ilhas Bermudas e, claro, na patrícia Portugal. Foi a força deste “Gigante da Colina” que o Barcelona e toda a Europa conheceu ontem[/abril-olho]
Não posso esconder de vocês, queridos leitores vascaínos, que o futuro reserva também, para 2009, um título da Série B, como será chamada a Segunda Divisão do campeonato nacional. Ressalve-se que, no distante ano de 2021, passagens por este patamar abaixo da elite do futebol brasileiro serão, digamos, comuns… “Coisas que acontecem”, como dizem por aí. E, infelizmente, por vezes se repetem. É a vida… Mas o Vasco é eterno, pois traz no peito não apenas a faixa que representa a travessia dos descobridores de continentes, mas orgulhos e méritos como o de ser a primeira agremiação no país a abrir as portas do futebol aos negros.
Casaca! Casaca!
A turma é boa! É boa!
É mesmo da fuzarca!
A grandeza do Clube de Regatas Vasco da Gama fará surgirem, por todo o mundo, homônimos do Onze carioca. No Brasil, existirão “vascos” no Acre, na Amazônia, no Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Roraima, Bahia, Minas, Paraná, Pará, Rio Grande do Sul, Sergipe... Até a futura capital, Brasília, terá um Vasco da Gama pra chamar de seu. No exterior, fama e admiração pelo clube vão inspirar a criação de “vascos” no Canadá, Estados Unidos, na Índia, África do Sul, Nigéria, nas britânicas Ilhas Bermudas e, claro, na patrícia Portugal. Foi a força deste “Gigante da Colina” que o Barcelona e toda a Europa conheceu ontem. Por onde andará o Vasco em 2021? Bem, se apresentando para torcedores tão ou mais importantes, em Pelotas, Brusque… “Pra bom entendedor, meia palavra basta.”
Mas vamos ao jogo! O que vimos não foi, nem de longe, um fato isolado, uma exceção. Como todos sabem, a impiedosa goleada serviu como “grand finale” de uma excursão arrebatadora do esquadrão ‘Almirante’. Há pouco mais de uma semana, foi o maior rival do Barça, Real Madrid, a perder por 4 a 3. Dois dias depois, em La Coruna, nova vítima: Athletic de Bilbao, em 4 x 2 que fez do Vasco o primeiro clube brasileiro a conquistar o Troféu Teresa Herrera. Ao final desta jornada europeia, serão 9 vitórias em 12 jogos, e apenas três derrotas – mas nos três últimos confrontos e na Rússia, o que nos obriga a desconsiderar. O Barcelona goleado não era qualquer um: atual vencedor da Copa do Rei (sua 13ª na história) e futuro campeão da Copa da UEFA (ano que vem e em1960) e espanhol (1959). No gol, Antoni Ramallets, lembram dele? Na copa de 50? Que apelidamos de ‘Gato do Maracanã’? Que guarda-metas! No ataque, o nosso conhecido Evaristo de Macedo, ex-Madureira, Flamengo e Seleção Brasileira. Um clube forte e endinheirado, que daqui a exatos três meses e um dia vai inaugurar seu novo e majestoso estádio, o Camp Nou. Mas “nenhuma equipe do mundo poderia derrotar o Vasco”, vão justificar os dirigentes catalães. Verdade, para desesperos dos “Culés”, como são chamados os torcedores do clube – desde 1916, quando sentavam na primeira arquibancada de futebol da Espanha e, olhando-os da rua, avistava-se uma longa fila de traseiros. Bundões!
O povo sabe: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco!” Prova disso é observar, de longe, que o Barcelona, mesmo com todo o sucesso, no futuro também terá, como qualquer um, seus dias ruins. Em 2020, em partida válida pela Liga dos Campeões, creiam-me, sofrerá placar ainda maior: 8 x 2, em jogo contra o Bayern de Munich. Mas já teve piores momentos. Em 1931, podem conferir, levou de 12 x 1 do Athletic de Bilbao; em 1940, Sevilha 11 x 1; sem falar num 8 x 2 pro maior rival, o Real Madrid, no fatídico e traumático 3 de fevereiro de 1935. No embate contra o ‘Machão da Gama’ (o clube vai ganhar este apelido, em 1977, na voz de José Carlos Araújo, um futuro cracaço do rádio), até aqui foram quatro amistosos, cada um com duas vitórias. Até 2021, revelo,os dois times já terão se encontrado 11 vezes, com o placar chegando a 4 x 3 para os ‘alvigranes’ mas cabendo ao Vasco o maior placar, um 3 x 1 que se dará em 1992, mais uma vez na casa deles, em Palma de Mallorca, pelo Torneio de Palma!
Casaca! Casaca!
A turma é boa! É boa!
É mesmo da fuzarca!
Vascoooo!
Clubes brasileiros, aliás, são uma ‘pedrita no camiño’ do Barça. Em especial os paulistas. Daqui a dois anos, anotem, será a vez do Santos (5 x 2) e do Corinthians (5 x 3) darem um ‘sapeca-iaiá’ nesses caras. Em 1992, São Paulo entrará na turma, com um 4 x 1 nos catalães. Os palmeirenses não darão goleada, mas, após o empate de 8 anos atrás (2 x 2), chegarão a duas vitórias, um 2 x 1 em 1969 e um 2 x 0 em 1974. No jogo de ontem, aos 11’ do primeiro tempo, já tínhamos 3 x 0 pro Esquadrão Cruzmaltino, dois deles de Laerte, que marcaria outro na etapa final. O impetuoso Vavá fez dois, mas ano que vem – alerta de ‘spoiler’ – serão cinco os seus tentos pela Seleção Brasileira na Copa da Suécia… E mais não digo!
Sabará passou em branco, mas jamais será esquecido. Em matéria de ídolo, se até aqui, vocês, vascaínos, já vibraram e se orgulham de nomes como Friaça, Ademir de Menezes, Tesourinha, Ipojucã, Barbosa (sim, monstro!) eBellini, entre tantos, até 2021 esta lista só crescer em progressão geométrica. Guardem esses nomes: Roberto Dinamite (o maior de todos), Romário e Edmundo (não necessariamente nessa ordem!), Juninho Pernambucano, Bebeto, Valdir Bigode, Mauro Galvão, Donizete ‘Pantera’… Se algum deles estará vestindo o manto vascaíno em 2021? Bem, não exatamente. Defendendo a Cruz de Malta estarão nomes menos glamorosos, como Zeca, Jabá, MT, Pec… Mas vale outro dito popular: “Não julgue um livro pela capa!”
No elenco estará também um jovem arqueiro com nome de uma futura bala do tipo ‘drops’: Halls – vocês ainda não conhecem, mas a guloseima chegará da Inglaterra nos anos 70, conquistando 40% do mercado e deixando pra trás os queridinhos de hoje, como o Mentex ou o recém-lançado ‘drops’ Dulcora. Aproveitem também, portanto, essas deliciosas pastilhas, pois em 2021… Não existirão. Mas, quem sabe, no futuro elas venham a dar a volta por cima e retornar ao topo? Se o fizerem, estarão seguindo o exemplo e a eterna sina do Vasco da Gama, o Time da Virada!
PARA ACOMPANHAR OS LANCES DA FINAL
https://www.youtube.com/watch?v=hmq1t4Teg2A&ab_channel=RBvideos
FICHA TÉCNICA
BARCELONA 2 X 7 VASCO
Data: 23 de junho de 1957 (Domingo)
Estádio: Estádio Les Corts – Barcelona (Catalunha)/Espanha
Juiz: Gómez Contreras (Espanha)
Público: desconhecido
Renda: desconhecida
Barcelona: Ramallets; Olivella, Brugué (Rodrí), Segarra, Flotats, Vergés (Gracía), Basora (Tejada), Villaverde, Martínez, Evaristo e González
Técnico: Doménec Balamanyá
Vasco: Carlos Alberto; Dario, Viana, Orlando e Ortunho; Laerte e Válter; Sabará, Livinho, Vavá e Pinga
Técnico: Martim Francisco
Gols: 1º Tempo – Laerte (3’), Vavá (6’) e Laerte (11’); 2º Tempo – Vavá (6’), Villaverde (BAR-10’), Laerte (27’), Válter (35’), Martínez (36’) e Wilson Moreira
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