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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

O Brasil ‘campeão’ nos 100 anos da Independência

Às vésperas do bicentenário, cronista vai a 1922 e encontra arbitragens polêmicas e um país pós-pandemia com ‘fake news’ pelas eleições presidenciais

Esta é, com certeza, a mais angustiante viagem ao passado que fiz em minha Máquina no Tempo. Coloquem-se vocês, queridos leitores e leitoras de 1922, no lugar do cronista: deixei o futuro, retrocedendo 100 anos – vim, ou ‘sou’, de 2022 –, e encontrei mazelas nacionais que ainda persistirão às vésperas do Bi (centenário) da Independência. A vontade que tive ao desembarcar no Rio de Janeiro, capital federal, em meio aos festejos do centenário é sacudir forte um por um, cada brasileiro e brasileira, e dizer que ainda dá tempo de fazer diferente. Transformações tecnológicas até garantirão uma vivência de certa forma mais prazerosa, mas pouco ou nada avançaremos em problemas centrais do nosso país, como a participação e consciência coletiva de todos e, em especial, na transparência e ética dos que dirigem a nação, inclusive no Esporte. Não é de se espantar, portanto, as muitas polêmicas e denúncias de ‘armação’ de resultados neste quinto Campeonato Sul-Americano (no futuro chamaremos ‘Copa América’) encerrado ontem, com a vitória do agora bicampeão Brasil sobre o Paraguai (3 x 0). Odeio a frase e gostaria de não citá-la, mas a consciência me obriga: “Isso é Brasil!”. E daqui a um século ainda será. 

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Por algum tipo de ‘sincronicidade’ – conceito que identifica significados numa aparente ‘coincidência’ e será apresentado ao mundo daqui a 10 anos por um psicólogo suíço (Nota da Redação, em 2022: Carl Gustav Jung) –, deixei 2022 com todos se refazendo de uma pandemia ainda pior, creiam-me, do que a recente Gripe Espanhola. E também em ano de eleição presidencial, às vésperas de um pleito mais turbulento do que este que em março levou Artur Bernardes à Presidência, vencendo Nilo Peçanha. A boa nova do futuro é que em 2022 terão direito a voto não apenas homens, mas também mulheres, todos com mais de 16 e não 21 anos, deixando de haver restrição a “analfabetos, religiosos e militares”, como determina a Constituição em vigor. Até lá já seremos 212 milhões de brasileiros e brasileiras, quase sete vezes mais que os estimados 31,9 milhões de hoje. No futebol, 2022 será ano de Copa do Mundo, um torneio de seleções de todos os continentes, que começa a ser disputado daqui a oito anos, primeiro no Uruguai. E o Brasil será então o detentor do maior número de títulos, buscando sua sexta conquista e provando que, ao contrário do que pensam certos nacionalistas extremados e parte da intelectualidade brasileira, o futebol aqui “vai pegar”. 

Estádio das Laranjeiras, a primeira casa da seleção brasileira
Estádio das Laranjeiras, a primeira casa da seleção brasileira

Um ainda desconhecido escritor, mas de grande expressão no futuro, profetizou assim, em abril do ano passado, o futuro do esporte bretão em terras brasileiras: “Vai ser, por algum tempo, a mania, a maluqueira, a ideia fixa de muita gente. Com exceção, talvez, de um ou outro tísico, completamente impossibilitado de aplicar o mais insignificante pontapé a uma bola de borracha, vai haver por aí uma excitação, um furor dos demônios, um entusiasmo de fogo de palha capaz de durar bem um mês (…) “O futebol não pega, tenham certeza” (Nota da Redação, em 2022: texto de Graciliano Ramos, que na época assinava como J. Calisto, escrevendo no jornal O Índio, de Palmeira dos Índios, no agreste alagoano). O já badalado Lima Barreto é outro que tece duras críticas ao jogo, cada dia mais apreciado pela população brasileira. A verdade é que o futebol já tem bastante relevância entre nós (média de público do torneio: 15.500 pagantes), tanto que, mesmo não tendo, nem de longe, o destaque da pomposa Exposição Internacional do Centenário da Independência, a Copa América estava sendo realizada novamente aqui (como em 2019) mas desta vez num ano de festividades históricas, e portanto uma coisa era certa: o Brasil não podia perder! E não perdeu. O que aconteceu para a Seleção chegar ao título, aí já são outros quinhentos… Réis!

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Nunca nada ficará provado, mas precisamos admitir que os resultados da última rodada (três empates) terem sido exatamente os únicos que dariam sobrevida ao selecionado nacional no certame foram, no mínimo, suspeitos. Coincidência ou ‘sincronicidade’? Foi tamanha a indignação com as arbitragens que nosso principal rival, o Uruguai, como se sabe, abandonou a competição, transformando o triangular final numa decisão de jogo único entre Brasil e Paraguai. Resposta à altura do festival de equívocos da CBD (no futuro, ‘CBF’), que aguçou os ânimos ao atrasar até pagamento de diárias às delegações estrangeiras. Coroando todo o espetáculo de desorganização do futebol em nosso país, deu-se ontem o mais inusitado: no mesmo domingo, duas seleções nacionais diferentes disputando decisões, uma no Rio, no estádio do Fluminense, e outra em São Paulo, onde conquistamos o torneio amistoso de um jogo só chamado de Copa Roca, com um 2 x 1 sobre a Argentina. Coincidência ou ‘sincronicidade’? Algum significado isso tem.

Com a pressão e a ‘obrigatoriedade’ de conquistar o Sul-Americano nos 100 anos da Independência, a Seleção, pela primeira vez, foi para um disputa internacional sem o ‘racha’ habitual, reunindo enfim jogadores paulistas e cariocas. As polêmicas do torneio farão com que, no futuro, ele seja apontado por alguns como a origem de uma extrema rivalidade, quase hostilidade, entre escretes sul-americanos. Foi a terceira vez que enfrentamos o selecionado do Paraguai (a primeira ano passado), somando agora duas vitórias e um empate. Em 2022, posso garantir a vocês, a vantagem será bem maior, chegando a 49 triunfos num total de 82 confrontos (11 derrotas e 22 empates). Uma superioridade que ontem ficou evidente, mesmo o escrete brasileiro não contando com seu craque maior, Arthur Friedenreich, lesionado. Apesar da derrota, o Paraguai demonstrou qualidades, em grande parte pelo jogador e ao mesmo tempo técnico Fleitas Solich, que, revelo aqui, vai longe na segunda função que acumula, com grande êxito no comando do Flamengo e do Real Madrid, na Espanha. No futuro vai se provar como um mestre em revelar e lançar craques, cujos nomes de alguns revelarei aqui e, por isso, solicito que saquem suas canetas tinteiro: Evaristo de Macedo, Zagallo, Dida e Zico.

E assim deu-se a termo este torneio continental de cenas insólitas, como o abandono do Paraguai na peleja contra a Argentina, mantendo-se apenas um atleta ‘guarani’, o goleiro, em campo para o ato final de um controverso pênalti marcado pelo juiz. E a inesperada e inédita desistência do Uruguai, equipe de melhor campanha no torneio, revoltado e alegando “roubo” do árbitro brasileiro Pedro Santos. Apesar das polêmicas, as emoções estiveram à altura do palco maior do nosso futebol, o Estádio das Laranjeiras, campo do Fluminense, onde ocorreram as partidas, assim como na última edição do Sul-Americano, em 1919. Adianto a vocês, queridos leitores e leitoras de 1922, que daqui a 100 anos a moderna construção de concreto ainda estará de pé, mas recebendo apenas jogos de atletas mais jovens, numa espécie de ‘aposentadoria’ mais que merecida, pelos serviços prestados ao esporte. O campo onde realizou-se a primeira partida da Seleção Brasileira, em 21 de julho de 1914, fará história como ‘pé-quente’ para o escrete. Até o próximo século, serão ao todo 18 jogos disputados pela Seleção no Estádio, com 13 vitórias, cinco empates e nenhuma derrota. Sim, em Laranjeiras, a Seleção jamais perderá.

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Jornal da época noticia o título do Brasil em 1922
Jornal ‘Correio da Manhã’ noticia o título do Brasil em 1922

Talvez pelos equívocos da organização e as denúncias de roubalheira, em 2022 este Sul-Americano será muito menos lembrado e enaltecido do que outros eventos que estão fazendo parte das comemorações do centenário de nossa Independência, como a Exposição Internacional do Rio e a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Em setembro, mês marco da festa, também não teve grande repercussão outro fato ligado aos 100 anos do brado de D. Pedro: a primeira transmissão radiofônica realizada no Brasil, exatamente no dia 7. Saibam que em 2022 o rádio permanecerá vivo e terá uma linda história de paixão e proximidade com nosso futebol. Isso porque jogos como o de ontem, acreditem, poderão ser acompanhados pela narração que será feita nos aparelhos caseiros de rádio, em breve à venda nas lojas do país. Uma beleza! Como escrevi no início desta resenha, “transformações tecnológicas até garantirão uma vivência de certa forma mais prazerosa, mas pouco ou nada avançaremos em problemas centrais do nosso país”. Apesar de tudo… Parabéns, Brasil!

PARA VER LANCES DE OUTRO 3 X 0: SOBRE O PARAGUAI, EM 1969

https://www.youtube.com/watch?v=-EMH7uBS0Lg&ab_channel=rluiz66

PARA VER LANCES DE BRASIL 1 X O PARAGUAI, EM 1969, RECORDE DE PÚBLICO DA SELEÇÃO

https://www.youtube.com/watch?v=Ij83fxtGdWs&t=2s&ab_channel=omaiordetodosostempos

PARA CONHECER OUTROS DETALHES DA SELEÇÃO DE 1922

https://www.youtube.com/watch?v=kzVkPVTOqQg&ab_channel=LANCE%21

FICHA TÉCNICA

BRASIL 3 x 0 PARAGUAI

Competição: Final da Copa América de 1922 (Centenário da Independência)

Data: 10 de outubro de 1922

Local: Campo do Fluminense – Laranjeiras (Rio de Janeiro/DF)

Público: 20.000 (estimado)

Árbitro: Servando Pérez (Argentina)

Auxiliares: Servando Pérez (Argentina)

BRASIL: Kuntz, Palamone, Bartó, Amílcar Barbuy, Fortes, Formiga, NecoHeitor, Tatu, Rodrigues e Arthur Friedenreich 

Técnico: Arthur Antunes de Moraes “Laís”

PARAGUAI: Modesto Denis; Ramón González, Venacio Paredes, Centurión Miranda e Fleitas Solich; Benítez Casco, Daniel Schaerer, Luciano Capdevila e  Ildefonso López; Gerardo Rivas e Luis Fretes

Técnico: Fleitas Solich

Gols: Primeiro Tempo: Neco, aos 11’; Segundo Tempo: Formiga, aos 3’ e aos 44’

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