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Josimar e o ‘efeito Rodinei’ na seleção

Lista de Tite sem jogador rubro-negro faz cronista ir à Copa de 1986 ver golaço e provar sua teoria: laterais-direito agressivos e ‘loucões’ dão sorte

“Rodinei não foi convocado!”, gritei ao entrar no Estádio Jalisco, aqui no México, mesmo sabendo que ninguém ali entenderia nada. E também aí no Brasil, queridos leitores e queridas leitoras de 1986, a frase obviamente não significa patavinas, mas explico: deixei o futuro, mais precisamente o dia 7 de novembro de 2022, minutos após um futuro técnico da Seleção, cujo nome omitirei, anunciar a lista dos jogadores que disputarão, quinze dias depois, a 22ª edição da Copa do Mundo – com sede em país que também manterei em sigilo, pra não ter que me estender em justificativas. Daqui a 36 anos, Rodinei será um lateral-direito ao melhor estilo ‘ofensivo, impetuoso e meio ‘loucão’’, em muito parecido com o nosso (agora) querido Josimar, autor daquele golaço ontem, o segundo na vitória do Brasil (3 x 0) sobre a Irlanda do Norte. E o que me fez embarcar na Máquina do Tempo até esta partida foi a suspeita histórica da força, ou sorte, que um lateral-direito com essas características sempre deu – e dará! – ao nosso Escrete.

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Confiram comigo. Se no passado tivemos Djalma Santos e o ‘Capita’ Carlos Alberto Torres, ambos vigorosos e de se lançar ao ataque, nas três vezes em que fomos Campeões do Mundo (1958, 62 e 70), revelo a todos que no futuro novos triunfos só acontecerão com o lado direito da nossa defesa ocupado por laterais-direito dessa estirpe. Anotem os nomes: ‘Jorginho’ e ‘Cafu’. Daí minha curiosidade em ver de perto este lance que jamais esqueci mas que talvez derrube minha elaborada “teoria”.  Sim, porque é meu dever informar que não ergueremos o caneco nesta Copa do México, derrota que condenará ao esquecimento muitos atletas do atual elenco. Já o novo ídolo nacional, o carismático Josimar, do Botafogo, este será eterno!

Antes que me acusem de propagar ‘fake news’ – termo do futuro para ‘notícias falsas e maldosas’, com o intuito de desinformar –, registro que o grito que soltei no Jalisco foi pura ‘curtição’, não representando nenhuma ‘grita nacional’ em 2022 pela convocação do tal Rodinei, pois ela não existirá, garanto. Será esse, inclusive, o ponto negativo dessa futura definição dos nomes para o Mundial. Acreditem: é extremamente chato e desinteressante acompanhar uma convocação sem que exista um único jogador que o país inteiro queira na lista mas o treinador deixa de fora. Sim, no próximo século o futebol se tornará tão meticuloso e ‘científico’ que até a Lista dos Convocados ficará pasteurizada, sem graça. Discordar do treinador e discutir no botequim sobre aquele craque que ‘tinha que estar lá’ faz parte das nossas melhores tradições no futebol, que o tempo não conseguirá destruir – mas os ‘Burocratas da Bola’ sim. 

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Não vivi, mas deve ter sido delicioso debater sobre a ida ou não de Pelé para a Suécia com 17 anos, ou o porquê das ausências de Canhoteiro (São Paulo) e Luizinho (Corinthians) na listagem de Feola. E Julinho? Deveria ou não ter vaga no lugar de Garrincha? E Reinaldo, do Atlético, merecia ser excluído há quatro anos, para a Espanha? Sem falar no assunto que tomou o país antes da Copa de 50, sobre se Leônidas da Silva deveria ou não ser convocado, mesmo já estando com seus 36 anos. Pois saibam que a futura lista de 2022 incluirá dois atletas com 39 anos e em plena atividade, um deles, inclusive, lateral-direito – causando a única ‘marola’ de descontentamento, mas por falta de outro motivo melhor. No futuro, adianto, novas e saborosas polêmicas, em especial envolvendo um baixinho craque e goleador, com nome iniciado por ‘R’. Aguardem… Se no anúncio da lista em 2022, sinto informar, não teremos surpresas, já ontem, pela terceira rodada da Primeira Fase do Mundial, o mais belo no lance do gol de Josimar foi justamente isso: o ‘INESPERADO”!

Quem poderia imaginar que o até aqui obscuro jogador do Botafogo – que herdou a posição de outro típico lateral desta linhagem: Perivaldo – fosse acertar um chute como aquele de ontem, do ‘meio da rua’, de repente, quando nem se esperava, deixando o mundo perplexo. Um lance tão plástico que em 2017, anotem, a respeitável emissora inglesa BBC o apontará, por eleição, como o 8º gol mais bonito da História das Copas, numa lista de 10 que incluirá Pelé, Cruyff e Maradona, entre outros. Mas deixei pra agora o melhor que tenho a contar: acreditem ou não, a aparição meteórica e mágica de Josimar nesta Copa não se encerra aqui. Daqui a três dias, no próximo jogo, contra a Polônia, o destemido e incansável jogador registrará um segundo tento deste mesmo tipo, um ‘gol imponderável’. Vocês vão ver … É o que nas ‘peladas’ de rua chamamos de ‘gol espírita’!

Revista norueguesa Josimar
Revista norueguesa Josimar

Apesar do fracasso que se avizinha, Josimar retornará ao Brasil ‘nos braços da galera’, tornando-se personagem folclórico do nosso futebol, a começar pela eleição, realizada por um jornal popular carioca, que nos próximos dias o apontará como o ‘galã da Copa’, bem ao estilo alegre e irreverente do jogador. Um carisma capaz de cruzar oceanos, tanto que, em 2009, creiam-me, vai batizar uma revista de esportes na Noruega, a ‘Josimar Futball’. E essa informação não é piada! E pensar que, no dia do embarque da delegação brasileira, este carioca nascido em Pilares estava, muito provavelmente, relaxadão e tomando ‘uma’ com os velhos amigos da Cidade de Deus, onde cresceu e aprendeu a jogar bola. Como todos sabem, o titular Leandro não apareceu no aeroporto (apoio ao amigo Renato Gaúcho) e também foi cortado, sendo então Josimar chamado às pressas, ou, como se diz, “aos 46 do segundo tempo”. Quis depois o destino que o substituto imediato pra lateral, Edson, do Corinthians, se contundisse na segunda partida, abrindo-se aí a chance – e as Portas da Eternidade – para o recém-chegado, que entrou em campo com a sugestiva camisa nº 13. Com tantas estrelas a seu favor, fica fácil entender o delírio, vibrante e autêntico, que vimos na corrida do jogador após o gol. Que barato, esse Josimar! Curioso que em 2022, de ‘quando’ venho, também assistiremos a uma explosão de alegria igualmente contagiante após um gol no Flamengo x Corinthians que decidirá a Copa do Brasil. E será justo do ‘tal’ Rodinei. 

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Braços erguidos, sorrisão largo no rosto, joelhos erguidos na corrida… Êxtase total na comemoração de Josimar! Quem não gostou nada-nada do lance foi o veterano goleiro Pat Jennings, da Irlanda, que, para piorar seu infernal astral, ontem fazia aniversário, 41 anos, tornando-se o jogador mais velho a disputar uma Copa até aqui. Falta de sorte não vem sendo o problema do lateral brasileiro em sua carreira. Muito pelo contrário. Desde que ascendeu ao profissional do alvinegro carioca, em 1982, é o titular, e com esta camisa, revelo aqui, viverá uma grande e histórica emoção dentro de 3 anos – e mais não digo. (‘Nota da Redação de Placar em 2022: em 1989, Josimar fez parte do time que venceu o Campeonato Carioca, encerrando um jejum de 20 anos’)

Adianto a vocês, leitores e leitoras de 1986, que o simpático lateral ainda terá passagens por Flamengo (sem muito sucesso), Internacional (RS), Sevilla (Espanha), Novo Hamburgo (RS), Bangu (RJ), Uberlândia (MG) e Fortaleza (CE), terminando a carreira no futebol boliviano (Jorge Wilstermann), venezuelano (Mineros de Guayana) e por fim no Fast Club (AM) e no Baré, de Boa Vista, em Roraima. Como dá pra notar, uma trajetória nos gramados bem abaixo do que todos vamos supor após o Mundial. Não vou dar uma de ‘conselheiro’ e ‘bom samaritano’ aqui, mas registre-se que a derrocada se deverá em grande parte, como o próprio jogador vai reconhecer, à vida boêmia ‘animada’, que lhe renderá um apelido engraçado: ‘Josibar’.

Apesar dos tropeços na vida pessoal, chegará a 2022, avisem a ele, bem mais comedido e equilibrado, dono de uma empresa de promoção de eventos esportivos, apresentando projetos sociais em Roraima…  E sabendo capitalizar a fama mundial que ontem começou a conquistar. Em 16 jogos que fará pela Seleção, conquistará dois títulos, a conferir… (‘Nota da Redação de Placar em 2022: em 1987, a Taça Stanley Rous; em 1989, a Copa América de 1989). Mas Copa do Mundo, não jogará outra – embora o esguio (1,75m) e vigoroso lateral ainda venha a ser útil nas Eliminatórias para 1990. Um sucesso meteórico! Uma espécie de reaparição do astro que cruzou o nosso planeta há três meses: o Cometa Halley, mas desta vez ‘visível a olho nu’!

PRA VER OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO

https://www.youtube.com/watch?v=C48zk9myCnY&ab_channel=jogosdobrasil

PRA VER O PRIMEIRO GOL DE JOSIMAR NA COPA

https://www.youtube.com/watch?v=dvroUsu6VgM&t=1s&ab_channel=raphaelcastellano

PRA VER O SEGUNDO GOL DE JOSIMAR NA COPA

https://www.youtube.com/watch?v=ta6pPGlOhF4&ab_channel=LipeSilva

PRA CONHECER A REVISTA NORUEGUESA ‘JOSIMAR’

https://www.josimar.no/

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FICHA TÉCNICA

 

BRASIL 3 x 0 IRLANDA DO NORTE

Competição: Copa do Mundo de 1986 (terceira rodada da Primeira Fase)

Data: 12 de junho de 1986 (12hs)

Local: Estádio Jalisco, em Guadalajara, no México 

Público: 51.000 pagantes

Árbitro: Siegfried Kirschen (Alemanha Oriental)

BRASIL: Carlos; Josimar, Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Alemão, Júnior e Sócrates (Zico); Muller (Casagrande) e Careca

Técnico: Telê Santana

IRLANDA DO NORTE: Jennings; Nicholl, O’Neyel, McGreery, Donaghy; McDonald, McIlroy, Clarke, Norman Whiteside (Billy Hamilton); Campbell (Armstrong) e Stewart

Técnico: Billy Bingham

Cartões amarelos: Mal Donaghy (IRN)

 

 

 

 

 

 

 

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